Daniel Turíbio

Daniel Turíbio é jornalista da agência Smartpublishing Mídias em Rede. Já trabalhou com mídia impressa, rádio e assessoria de comunicação. Reside em Natal/RN.

Após crescimento, setor salineiro do RN caminha a passos lentos

17 de setembro de 2012

Deu no caderno do Economia do Novo Jornal:

OS R$ 232 milhões aplicados pelo governo federal no Porto-Ilha de Areia Branca ainda estão estacionados. A expectativa é que só dêem retorno financeiro nos próximos dois anos, quando a indústria salineira potiguar estará recuperada das cheias de 2008, 2009 e 2011 e voltará a exportar. Maior produtor de sal do Brasil, o Rio Grande do Norte já chegou a exportar um milhão de toneladas do item. Em 2012, o volume não deve ultrapassar as 200 mil toneladas.

Foto: Novo Jornal

O projeto do Programa de Aceleração do Crescimento aumentou em oito mil metros quadrados a área de armazenamento do sal e ampliou de 120 mil toneladas para 220 mil a capacidade de estocagem do Porto-Ilha. Tudo isso para tornar o terminal mais competitivo e fazer com que navios salineiros de até 75 mil toneladas atracassem no porto. Inaugurada em junho deste ano, a nova estrutura jamais foi usada.

O presidente do Sindicato da Indústria Extrativa do Sal do RN (Siesal), Airton Paulo Torres, explica que o setor vem amargando grandes perdas de produção desde 2008, quando um fenômeno atípico de chuvas abundantes assolou o Oeste potiguar. Tal fenômeno se repetiu em 2009 e 2011 e trouxe ainda mais prejuízos ao segmento. “Na região chove com intensidade a cada dez anos. E num espaço de cinco anos tivemos muita chuva”, registra.

Houve uma perda de 20% na produção das salinas do Estado, o que obrigou o setor a cancelar as exportações. Para quem em anos anteriores chegou a exportar mais de 700 mil toneladas de sal e faturar US$ 9,3 milhões, o comércio externo foi reduzido a quantidade insignificante. “Fomos obrigados a cancelar as exportações porque não tinha sal”, diz Torres. Os contratos cancelados datavam de 2010 e 2011.

De fato, as exportações de sal do RN registram uma curva descendente nesses anos. Em 2007 foram comercializadas 701 mil toneladas de sal marinho a granel, que representaram US$ 9,3 milhões. Em 2008, a exportação do produto caiu quase 50%: foram 297 mil toneladas para um faturamento de US$ 4,7 milhões. Em 2010, porém, voltou a subir e chegou às 741 mil toneladas e US$ 14 milhões, mas em 2011 apresentou queda de 38% – foram 398 mil toneladas e US$ 8,6 milhões.

Diante da falta de estoque para exportação, o mercado interno tornou-se prioritário. Com a escassez do produto no mercado devido às fortes chuvas, acabou havendo uma valorização no preço do sal, o que de certa forma compensou as perdas que os produtores tiveram com o comércio exterior.

Dois mil e doze será o ano da retomada. De acordo com Airton Torres, os produtores estão, aos poucos, retornando ao mercado externo. A expectativa é exportar 200 mil toneladas de sal – das cinco milhões que serão produzidas até o i m do ano – para países como Nigéria, Canadá, Estados Unidos e escandinavos como Noruega. Entretanto, voltar ao patamar de 2007, só daqui três anos.

“Estamos retomando o mercado devagar. Este ano começamos um processo de recuperação,, mas isso levará de dois a três anos para se concluir”, estima o presidente do Siesal. Com isso, a expectativa é de só começar a usar toda a estrutura existente no Porto-Ilha depois desse período. “A produção ainda é muito pequena para se pensar em um crescimento nas exportações. Vamos crescer progressivamente”, emendou. Enquanto isso não acontece, os investimentos realizados no Porto-Ilha permanecem estacionados. As 30 salinas que atuam no Rio Grande do Norte seguem priorizando o mercado interno. “Quando pensávamos que iríamos começar a usar o porto, nos deparamos com a necessidade de cancelar as exportações”, finaliza.

SETOR FATURA ATÉ R$ 1 BILHÃO POR ANO

O RN produz hoje 95% do sal consumido no país. O segmento fatura entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão por ano, deixando uma contribuição de R$ 60 milhões em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), sem contar o tributo que também é descontado no frete. Há, porém, uma concorrência acirrada com o produto chileno, que chega ao Brasil a um preço bem mais baixo devido ao frete mais barato.

Para barrar a disparada do vizinho, o governo brasileiro instituiu há mais de um ano que todo sal do Chile destinado à indústria de transformação que entrar no Brasil é taxado em 35% do valor F.O.B. (do inglês Free On Board, preço livre a bordo) em todos os portos, com exceção apenas de Santos.

Mas segundo Airton Torres, a medida não está sendo suficiente para diminuir as importações de sal no Brasil, que está em um milhão de toneladas por ano – ou 20% da produção do país. Segundo o presidente do sindicato,  importar ainda é mais barato porque o frete marítimo do Chile para o Brasil ainda é muito baixo e praticado pela própria empresa salineira.

O Estado também é campeão em refino. De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Moagem e Rei no de Sal do RN (Simorsal), Evandro Praxedes, o RN benei cia 90% do sal consumido no Brasil. Mas o setor foi fortemente atingido pela seca registrada ao longo deste ano. “Não há uma perspectiva de aumento na produção, mas não estamos numa situação de crise. Ainda não chegou a comprometer”, garante.

Com isso, o preço do sal refinado caiu em torno de 30%. Antes a tonelada era vendida a R$ 380 e hoje não passa de R$ 280. Segundo Praxedes, a queda no preço começou em abril, mês em que a estiagem passou a afetar a produção salineira. “O sal tem uma dependência muito grande do fator climático”, registra.

O declínio já era esperado pelo setor. Praxedes diz que os industriais já previam uma queda no preço. Porque como as intensas chuvas de 2008 reduziram a produção e fizeram os preços subirem, a entrada do sal do Chile acabou sendo favorecida. Na época o valor cresceu devido às dificuldades e despesas que os empresários tiveram para repor o estoque das salinas.

“Tivemos que repassar essas despesas, mas agora está sob controle”, diz Praxedes. Das cinco milhões de toneladas de sal extraídas em solo potiguar, as indústrias beneficiam 1,8 milhão de toneladas por ano. O índice deve se repetir em 2012, apesar da estiagem. De acordo com o sindicato, em torno de 40 empresas constituem o setor no RN, entre indústrias extrativas e de beneficiamento. Juntas geram 15 mil empregos diretos e 50 mil indiretos. O faturamento anual do setor oscila entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão.

Para Evandro Praxedes, o setor não passa dificuldade, e sim vive um momento de adaptação no mercado. Não há perspectiva de quando as coisas irão se estabilizar. “A tendência é essa, mas não sabemos quando isso vai acontecer”, diz.

OBRA TEM 42 ANOS

Inaugurado em 3 de fevereiro de 1970, o Porto-Ilha de Areia Branca foi projetado em alto-mar para escoar toda a produção de sal do RN, que está concentrada nos municípios de Macau, Galinhos, Porto do Mangue, Areia Branca, Mossoró e Grossos.

Ao anunciar o Programa de Aceleração do Crescimento, o governo federal incluiu a ampliação do terminal, um sonho antigo dos salineiros. Foram investidos R$ 232 milhões na ampliação, concluída em março passado. O novo projeto aumentou em oito mil metros quadrados a área da plataforma de armazenamento do sal e em 94 metros o cais de barcaças. Dois novos dolfins foram construídos e um guindaste descarregador de barcaças também foi instalado.

Um novo sistema de fundeio e amarração foi criado, aumentando a capacidade de atracação de navios. Com as mudanças, a capacidade de armazenamento passou de 120 mil toneladas para 220 mil. Dessa forma, o Porto-Ilha se tornou capaz de receber navios de até 75 mil toneladas. As obras terminaram em março passado, mas até hoje os produtores de sal não usufruíram do novo espaço por causa do cancelamento das exportações.

A expectativa é retomar o comércio exterior via Porto-Ilha este ano, quando 200 mil toneladas de sal marinho serão mandadas para fora do país. O número é mínimo diante de quase um milhão de toneladas que já se exportou em anos anteriores, mas faz parte de um processo lento de reconquista de mercado pelos produtores locais.

 

Sal no RN

30 salinas
15 mil empregos diretos e 50 mil indiretos
R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão em faturamento por ano
R$ 60 milhões em arrecadação de ICMS
5 milhões de toneladas é a extração anual
1,8 milhão de toneladas é o refino anual
200 mil toneladas é o que será exportado em 2012

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