Ponta Negra começa a perder seus quiosques de praia. Ainda hoje a Defesa Civil Municipal e a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) devem retirar o Quiosque 15, que teve a estrutura comprometida por causa da força das marés altas no final de semana. Com a chuva que caiu em Natal no sábado e a maré alta que ocorreu na noite do domingo, com 2,30 metros de altura, a situação no calçadão se agravou. É o segundo quiosque retirado da praia mais famosa da capital, que sofre sucessivas ressacas nos últimos 20 dias. Caso continue a situação crítica de destruição do calçadão, a Defesa Civil avalia retirar mais dois deles nos próximos dias: os quiosques 14 e 17. A praia contabiliza hoje 28 quiosques, ao longo de mais de dois quilômetros de calçadão.
Um trabalho lento de recuperação do calçadão é feito pela Semsur, mas a secretaria tem encontrado dificuldade justamente por causa das ressacas. A Defesa Civil vai colocar placas indicando locais sob risco para pedestres, turistas e banhistas que circulem ao longo do calçadão e na Avenida Erivan França, que fica à beira-mar. Também deve finalizar um relatório e apresentá-lo amanhã. “De ontem para hoje [domingo e segunda], não houve mais desabamento, mas ainda assim retiraremos o quiosque que está comprometido. Os riscos de desabamento são iminentes em vários pontos. Colocaremos placas indicando perigo em alguns trechos do calçadão”, afirmou o diretor da Defesa Civil Municipal, Irimar Matos do Nascimento.
Irimar assegurou que, apesar dos riscos, os banhistas podem tomar banho de mar tranquilamente em alguns pontos da praia que não estão destruídos. “Estamos fazendo o monitoramento constantemente, em média três vezes por semana. Ao longo desse trabalho, estamos interditando alguns trechos, descidas de pedestres e fazendo o isolamento nas partes mais comprometidas. Na quarta-feira finalizaremos o relatório”, disse o diretor.
Ele se refere ao estudo feito pela Defesa Civil que vai detalhar que não apenas os quiosquesestão sob risco, mas também postes, bancos e o próprio calçadão da praia. Em alguns trechos, os coqueiros estão com raiz totalmente exposta, alguns com mais de um metro, ameaçando desabar. O ponto mais crítico fica na altura do Hotel Visual.
Proprietários lamentam prejuízos
Os proprietários dos quiosques serão deslocados para um local seguro, também no calçadão, mas eles lamentam o fato de terem que sair do ponto fixo onde comercializam petiscos e bebidas. “Primeiro foi o problema do saneamento, depois a maré avançou. Agora estamos apenas aguardando a retirada. É uma situação difícil, de transtorno, mas se não tirar ele cai”, constata Cesimar Fernandes, proprietário do Quiosque 15, há 33 anos trabalhando na praia.
O comerciante também reclamam da falta de iniciativa do poder público. “Não é só o mar. Deveríamos ao menos ter um ponto de apoio. O calçadão está todo condenado e eles só ficam gastando dinheiro em vão. Deveriam contratar ao menos um engenheiro pra fazer um projeto e consertar isso aqui. Acho uma falta de respeito”, afirmou o proprietário do Quiosque 16, que preferiu ser chamado apenas Neto. O quiosque dele já foi retirado há alguns meses, pelo mesmo motivo, ainda continua encostado na parte mais próxima do Hotel Visual.
Por sua vez a destruição do calçadão se refletena impressão que os turistas têm da capital. “Relaxaram mesmo. Vim a Natal há dez anos e era totalmente diferente isso aqui. Os muros eram bem feitos, mais bem cuidada. Não tinha esse desleixo. A praia está decadente, os imóveis vão se desvalorizar, enfim. E não é apenas culpa do mar. A praia não tem um lixeiro, não tem um banheiro. A gente toma um sorvete e precisa andar dois quilômetros pra encontrar um saco”, reclamou o professor universitário gaúcho João Mazzurana, de férias em Natal.
Na semana passada a prefeita Micarla de Sousa (PV) disse que apenas paliativos seriam feitos no calçadão, e que qualquer obra ali seria “como um Sonrisal”, se referindo à força das marés e ao fato de que o calçadão se encontra em solo dunar. Ela garantiu que convocaria a bancada federal do Estado em Brasília para solicitar celeridade na aprovação dos projetos do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur) para Natal, que revitalizaria a orla da capital.
“Nosso objetivo é fazer com que os natalenses e turistas tenham omínimo de desconforto no calçadão por causa da ação violenta das marés. Já começamos a recuperação, mas é muito difícil com a maré se comportando desse jeito. Isso impede a continuidade do nosso trabalho”, lamentou Irimar Nascimento, da Defesa Civil. Por ora, o Sonrisal não surtiu efeito. Os sintomas persistem.
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