Cartões lideram lista de dívidas entre natalenses

25 de novembro de 2013

Tribuna do Norte:

Sete em cada dez brasileiros endividados consultados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) em outubro admitiram que têm dívidas no cartão de crédito. Em Natal, mais da metade (24,8%) dos endividados (43,3%) apontam o cartão de crédito como causa do seu endividamento, segundo pesquisa realizada este mês pelo Serviço de Proteção ao Crédito do RN.

Um levantamento realizado no banco de dados do Banco Central ajuda a explicar porque o total de pessoas com dívidas no cartão chega a ser até quatro vezes maior que o total de brasileiros com dívidas no carnê – segunda maior causa de endividamento – no país.

Apesar de ter as taxas de juros mais altas do mercado, o rotativo do cartão de crédito – quando se paga o mínimo e financia o restante da dívida no cartão – foi a segunda ‘modalidade de crédito’ mais usada pelos brasileiros em setembro desse ano, dado mais recente fornecido. O rotativo só ficou atrás do cheque especial, em termos de valor emprestado através de novas operações.

uros do cartão de crédito rotativo, quando se paga apenas o valor “mínimo” da fatura, são avaliados como “absurdos” por analistas. Eles observam que há outras modalidades de crédito mais baratas. (Foto: Aldair Dantas)

Juros do cartão de crédito rotativo, quando se paga apenas o valor “mínimo” da fatura, são avaliados como “absurdos” por analistas. Eles observam que há outras modalidades de crédito mais baratas. (Foto: Aldair Dantas)

A preferência pelo cartão de crédito é uma das razões para a taxa de inadimplência no Rio Grande do Norte entre janeiro e outubro desse ano ter atingido 17,4%, a maior para o período desde 2010, diz o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Natal e diretor do SPC no estado, Augusto Vaz. “O rotativo do cartão é um trampolim para a inadimplência”, observa Vaz.

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A explicação por trás da preferência dos brasileiros, apesar das altas taxas de juros, está na facilidade com a qual se ‘acessa’ essa modalidade de crédito, diz Vinício de Souza e Almeida, doutor em Finanças pela Coppead/UFRJ, professor adjunto no Departamento de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e coordenador do programa de especialização em mercado de capitais da universidade. “A concessão é menos restritiva”.

Toda essa facilidade, no entanto, tem um preço. Enquanto as taxas de juros de um empréstimo consignado (modalidade com taxas mais baixas) giram em torno de 2% ao mês, as do cartão de crédito podem ultrapassar 14% ao mês.

Uma ferramenta recém-lançada pelo Banco Central mostra quanto ‘pesa’ pagar o mínimo do cartão de crédito. Segundo a Calculadora do Cidadão, disponível no site do BC, uma dívida contraída no cartão chega a mais do que dobrar em poucos meses, tornando-se muito maior do que se tivesse sido contraída através do cheque especial, crédito pessoal ou consignado, com taxas de juros menores.

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Consumidor deve ter cautela na hora de escolher crédito

Antes de optar por uma das modalidades de crédito disponíveis – até mesmo as mais vantajosas -, observa Janduir Nóbrega, economista e consultor financeiro, é recomendável questionar se o crédito é, de fato, necessário. “Se não for necessário, não pegue dinheiro emprestado”, recomenda.

Vinício de Souza e Almeida, doutor em Finanças pela Coppead/UFRJ, professor adjunto no Departamento de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e coordenador do programa de especialização em mercado de capitais da universidade, vai além e diz que o ideal é discutir as reais necessidades com a família.

“Essa é a dica que eu dou. Reúna a família. Veja se o crédito é necessário e o que cada um pode fazer para ajudar a quitar a dívida”, afirma.

O que “pega”, acrescenta Ricardo Almeida, professor do Programa de Capacitação da Empresa em Desenvolvimento da Fundação Instituto de Administração (FIA), é justamente isso. “As pessoas têm que fazer orçamento doméstico e elas não estão habituadas a isso”.

Só depois de avaliar as reais necessidades, e de se certificar de que o financiamento cabe no bolso, é que os consumidores devem escolher a modalidade que melhor se adequa à sua realidade, concordam os especialistas.

A orientação, segundo Roberto Linhares, superintendente da Caixa no RN, é começar pelo que menos impacta no bolso.  “O ideal é que se comece pelo crédito consignado, que possui as menores taxas de juros. Depois disso, vem o crédito pessoal. O cheque especial só deve ser usado em caso de emergência, quando se precisa do dinheiro por dois ou três dias. Já o cartão de crédito deve ser evitado. Ele foi criado para se comprar e pagar antes do vencimento ou no dia do vencimento. Só deve ser usado quando se tem dinheiro para pagar. O rotativo nem se fala. Os juros do rotativo são uma coisa absurda “.

Desprezar essas dicas e abusar do rotativo do cartão de crédito, na opinião de Linhares, é como ‘cavar a própria sepultura’. “Em menos de seis meses, o valor da dívida dobra”, justifica.

Para Ricardo Almeida, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), poucos são os que seguem essas recomendações. “O segredo para evitar dívidas e até mesmo evitar tomar crédito é o planejamento financeiro. Mas falta reflexão. Os brasileiros ainda não têm essa cultura”, reconhece.

Emissão de cartões cresce nos bancos
Os bancos no Rio Grande do Norte têm emitido mais cartões de crédito e de débito. Só a Caixa Econômica Federal ampliou em 57,7% a emissão entre janeiro e setembro deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. O total de cartões emitidos pela Caixa nos primeiros nove meses já soma 89.745 – número 20,1% maior que o total emitido em todo o ano de 2012. A previsão, segundo Roberto Linhares, superintendente do banco no Rio Grande do Norte, é que o banco emita pelo menos 110 mil cartões em 2013.

O crescimento, de acordo com Linhares, está ligado à ampliação da base de clientes da Caixa. “É natural que ofereçamos esse produto aos nossos clientes e registremos números cada vez maiores”, diz.

O ‘crescimento’ do mercado dos cartões de crédito e débito tem despertado o apetite de outros bancos. O Banco do Nordeste (BNB), com forte participação no agronegócio, é um dos que planejam estrear nesse segmento em 2014.

“Operar com cartão de crédito é uma das nossas metas”, confirmou o BNB, através de sua assessoria de comunicação. O banco se prepara nesse momento para implantar o cartão de débito. O de crédito ainda não tem data para ser implantado.

A equipe de reportagem também procurou o Banco do Brasil para saber como está a procura por cartões, mas o banco não disponibilizou porta-voz nem enviou as respostas solicitadas até o fechamento da edição.

Relatório divulgado pela  consultoria internacional Capgemini em março desse ano, e divulgado no portal Canaltech, revelou que o  Brasil já é o segundo maior mercado no mundo em cartões de crédito e débito, com base no número de transações efetuadas com o recurso. De acordo com a pesquisa, o país só perde para os Estados Unidos.

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