Cientistas potiguares identificam grupo de neurônios capazes de controlar a memória

10 de outubro de 2012

Deu no caderno Cidade do Jornal de Hoje:

Um estudo realizado por cientistas potiguares do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN), em parceria com pesquisadores suecos, identificou a existência de um grupo de neurônios que controla a entrada e saída de memórias do cérebro. A maneira pela qual a oscilação de atividades do cérebro alterna, entre o modo de processamento de estímulos sensoriais e o do resgate de memórias, por exemplo, permanecia desconhecido por muito tempo. Com a descoberta, a pesquisa dá subsídios para que doenças como o Alzheimer possam ter um tratamento.

Segundo Richardson Leão,o controle das células pode ser um serviço de terapia para doenças de memória, como o Alzheimer. (Foto: Heracles Dantas)

Segundo o neurocientista Richardson Leão, pesquisador da UFRN e um dos autores do estudo, as células OLM, mais conhecidas como “células porteiras”, ajudam a explicar como ocorre o fluxo de informações no hipocampo, área do cérebro que regula os processos de memória e de aprendizagem. Para conseguir identificar as células OLM, o grupo de pesquisadores suecos gerou um camundongo transgênico cujos neurônios brilham quando são iluminados por luz verde.

Os cientistas brasileiros, comandados por Leão, injetaram nesse animal um vírus geneticamente modificado, deixando as células OLM sensíveis à luz. Dessa forma, ao utilizar fibras óticas, os cientistas foram capazes de ativar e inativar essas células. “A pesquisa avança no caminho para, no futuro, ser possível ativar memórias de forma artificial ou limitar a absorção de informações pelo hipocampo”, disse Richardson Leão.

Na pesquisa, os cientistas mostraram que as células porteiras modulam a entrada e a saída de informações nas vias do hipocampo. “Quando ativadas, essas células priorizam os sinais provenientes do próprio hipocampo, resgatando memórias armazenadas”, afirma o neurocientista. Os pesquisadores também conseguiram demonstrar que o contrário ocorre quando essas células estão inativas.
Ao serem ativadas, elas priorizam os sinais provenientes do próprio hipocampo em vez de estímulos sensoriais, atuando para lembrar-se de alguma informação armazenada na memória. Quando desativadas, elas ajudam a absorver estímulos sensoriais, como um cheiro ou uma imagem, e os transforma em memória.

A dificuldade em fazer pesquisa no cérebro é que há muitas células diferentes que formam grupos capazes de exercer funções diferentes. “Por isso nós precisamos descobrir um jeito para identificar e observar um único grupo, e assim poder fazer experimentos”, afirma o pesquisador da Universidade Federal.

O processo de estudo foi iniciado há cerca de dois anos, onde foi retirado o cérebro do camundongo em atividade e colocado para análise in vitro. “Usamos uma tecnologia na qual se aplica um feixe de luz para estimular os neurônios selecionados. Separamos o efeito de um grupo celular, sem interferir no restante do circuito. Por isso achamos que o controle das células pode ser um serviço de terapia para doenças de memória, como o Alzheimer”, afirma Richardson.

No caso de pessoas com o Mal de Alzheimer, doença que afeta a capacidade de armazenar memórias, a descoberta da pesquisa pode permitir a formulação de tratamentos a partir da atuação desses neurônios. Outras doenças ligadas ao déficit de memória, como Esquizofrenia e Epilepsia, por exemplo, também podem estar no caminho para a descoberta de tratamento.

Nicotina ativa as células de memória

De acordo com o estudo, os neurônios descobertos carregam um receptor sensível à nicotina. A substância é capaz de ativar as células de memória e influenciar o processo cognitivo. Um dos próximos passos consequentes da pesquisa será descobrir um possível medicamento com a fórmula parecida com a da nicotina que permita ativar o grupo de neurônios, sem ter o mesmo efeito terceiro da substância.

A pesquisa agora segue para tentar identificar quais tipos de memória e aprendizados podem ser selecionados pela ativação dessas células. Isso pode levar a um tipo de ativação por meios artificiais desses neurônios, por exemplo, por uma substância baseada na nicotina.

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