Conheça São Miguel do Gostoso: um dos destinos mais procurados pelos turistas no RN

28 de janeiro de 2013

Notícia publicada no caderno Economia do Novo Jornal:

Com praias tranquilas, muito vento, pousadas, bares e restaurantes de qualidade, o município de São Miguel do Gostoso, no litoral norte potiguar, se consolida como o terceiro destino turístico mais procurado do estado, seja para descanso, lazer ou prática esportiva.

São Miguel do Gostoso. (Foto: Ney Douglas)

São Miguel do Gostoso. (Foto: Ney Douglas)

Mesmo recebendo milhares de visitantes, as praias de Gostoso, distante 100 km de Natal, mantém um clima de tranquilidade que atrai a maioria dos turistas que se deslocam para lá. Nos meses de dezembro e janeiro, as pousadas chegam a 100% de ocupação, registrando até 15 mil visitantes durante o mês.

As turistas maranhenses Rosane e Adriana Lago alimentam esta estatística. Na praia da Xêpa, área urbana da cidade, elas apreciavam a tranquilidade do local, depois de ter passado por Natal, Jacumã e Pipa. “Em São Luis tem muitas praias, mas a gente ficou surpresa com o sossego daqui. Parece um paraíso”, relata Rosane.

Assim como elas, a maioria dos visitantes é de outros estados do país. Turistas estrangeiros também marcam forte presença em Gostoso.

O vento forte e constante faz do local um dos melhores destinos para praticantes de esportes como o windsurf e kitesurf. Os ventos também atraíram empresas eólicas à região.

Quatro praias urbanas (Santo Cristo, Cardeiro, Xêpa e Maceió) concentram o maior fluxo de turistas. Não são praias com a agitação de Pirangi, em Parnamirim, ou Pipa, em Tibau do Sul, por exemplo. Não há quiosques nem barracas a beira mar, mas os barcos de pescadores ancorados na praia indicam que em São Miguel o clima de tranquilidade é o principal atrativo.

“Estamos aqui pela primeira vez e adorando esse clima de sossego e de descanso”, comentou a turista Driele Tonin, que veio com o esposo Leonardo Tonin, da cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. “Vamos ainda fazer um passeio de bugue para Galinhos”, planejava Leonardo.

Eles dizem que o charme e a qualidade das pousadas e bares, que adotam um estilo rústico, é outro diferencial. São Miguel do Gostoso, ou simplesmente “Gostoso”, como seus moradores gostam de chamar, ainda conserva a identidade da vila de pescadores que foi até pouco tempo. Andando pelo centro da cidade é comum encontrar moradores proseando em frente de suas casas. De acordo com o IBGE, a cidade possuía 8.659 habitantes em 2010, com estimativa de chegar aos 10 mil em 2012.

À noite, a boa música nos bares completa o dia. A culinária valorizando a gastronomia local completa o significado do adjetivo que está no nome da cidade. Com essa tranquilidade e belas praias, empreendedores, alguns estrangeiros, enxergaram ali o potencial turístico da região, apostaram nela e tentam manter a qualidade com uma estrutura de alto padrão, além da elogiada gastronomia que agrada a todos os paladares.

EMPRESÁRIOS DESCOBREM A PRAIA

No esporte, nas usinas eólicas, nas belezas naturais, empreendedores de diversas partes do país e estrangeiros descobriram o potencial turístico de São Miguel do Gostoso e instalaram seus empreendimentos na cidade.

A cidade já conta com 50 estabelecimentos, entre bares, restaurantes e pousadas, que dão suporte a empresas eólicas que estão se instalando no município ou nas cidades vizinhas e elegem a cidade para acomodar seus técnicos, seja nas pousadas ou alugando residências. A rede de pousadas dispõe de 800 leitos.

O jornalista e artista plástico Emanoel Neri conta que o turismo começou a se fortalecer em São Miguel do Gostoso há pouco mais de 10 anos. A princípio eram os visitantes comuns que queriam conhecer as belezas do lugar. Há seis anos, porém, a cidade passou a receber uma nova onda de turistas esportistas, especialmente estrangeiros, em busca de esportes aquáticos movidos pelo vento.

Os ventos da cidade também trazem pessoas que trabalham com a produção de energia eólica e, pela estrutura mais desenvolvida das pousadas e restaurantes, se hospedam, consomem em São Miguel e, claro, aproveitam para conhecer as suas praias.

Emanoel Neri abriu sua pousada na praia do Maceió no início do ano 2000. Foi a segunda da cidade. “Eu queria dar uma escala profissional para quem visitasse a cidade. Abri a pousada e passei a divulgar a cidade como destino turístico”, explica.

Natural de São Miguel, Neri vive entre o município e São Paulo, onde trabalhou em grandes jornais e, com a experiência e contatos adquiridos na profissão, conseguiu tornar São Miguel conhecida dentro e fora do estado.

A divulgação da cidade fez a comerciante paranaense Diovana Kaiber encontrar em Gostoso o espaço que precisava. “Eu percorri várias praias, cheguei a Pipa, Tibau e quando me deparei com essa tranquilidade e a chance de transformar isso em negócio, decidi que era aqui que eu queria trabalhar e viver”, conta. Ela trouxe da Bahia para a praia da Xêpa o restaurante que serve comida mexicana e hoje emprega cinco funcionários.

Foi esta visão dos empreendedores que fizeram a cidade de pescadores e agricultores se transformar em cidade turística. No último mês foram registradas na prefeitura 40 novas construções, entre pousadas, posto de gasolina, residências, bares e restaurantes, que vão aumentar a estrutura turística e, consequentemente, atrair mais visitantes.

Qualificação

Paralelo a isso, a associação de empreendedores da cidade oferece, em parceria com o Sebrae e Senac, cursos de capacitação de mão de obra para servir ao turismo. “Depois que o turismo chegou, beneficiou todo mundo. Fiz vários cursos de graça e hoje não falta emprego para mim”, relata o recepcionista de uma das pousadas, Jaildo Xavier.

Ele é uma das 600 pessoas empregadas diretamente pelo turismo local. Indiretamente, outras 300 são beneficiadas, entre motoristas, taxistas e fornecedores, como o irmão de Jaildo, que cultiva uma horta orgânica e vende os produtos cultivados para restaurantes da cidade.
No município ainda há pessoas desempregadas, mas Jaildo conta que o motivo é a falta de interesse próprio e motivação pessoal, já que os cursos são disponibilizados gratuitamente. Em bares e restaurantes, os anúncios de empregos são provas de que as oportunidades são oferecidas.

CIDADE NÃO ACOMPANHA DESENVOLVIMENTO DO TURISMO 

 O fortalecimento do turismo em São Miguel do Gostoso foi rápido. Em 13 anos, o setor é a principal atividade econômica da cidade, gerando anualmente uma arrecadação que beira R$ 1 milhão. Porém, a cidade ainda é carente de uma infraestrutura compatível com os atrativos que oferece.

No ranking de desenvolvimento apontado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o município está entre os 12 menos desenvolvidos do estado, ocupando a 165ª posição, com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,615, considerando como médio pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O Produto Interno Bruto (PIB) é de R$ 85 779,197 mil, o maior de sua microrregião e o 34º do estado, com um orçamento anual de R$ 20,9 milhões.

O descompasso pode ser observado nas ruas entre as lojas, boutiques, bares e restaurantes sofisticados, e o tímido comércio local que ainda se assemelha ao comércio de bairros. Na estrutura viária, poucas ruas são asfaltadas e falta disciplinar o trânsito local.

A urbanização da Avenida dos Arrecifes, principal da cidade, promete melhorar estrutura viária local. O governo federal está urbanizando a via realizando a duplicação, iluminação e paisagismo, mas o resultado só poderá ser conferido no próximo verão. Por enquanto a imagem que se tem é de transtorno para quem chega na cidade.

As ruas de Gostoso são mais espaçosas do que em outras praias movimentadas (como Pipa, por exemplo), mas não há guias de trânsito para orientar e fiscalizar motoristas que se excedem. Se nas vias do centro da cidade há esta dificuldade, nas praias é ainda pior. Mesmo proibido por lei, o trânsito de carros em alta velocidade põe em risco a vida de quem está na orla. “Cavalos de pau” e até rachas são comuns a beira mar.

“Outro dia um grupo de jovens tocava violão na beira da praia quando um carro em alta velocidade se aproximou. E eles precisaram gritar e sinalizar com as luzes dos aparelhos celulares para não serem atropelados”, conta o empresário Emanoel Neri.

Falta fiscalização também para o uso exagerado de som automotivo em carros usando os chamados “paredões”, seja nas ruas da cidade ou na orla, tirando a tranquilidade característica do local.

Os hóspedes que desfrutam da qualidade das pousadas não percebem que falta água para os moradores durante o verão. “Se as pousadas não tivessem poço próprio seriam muito prejudicadas porque todo verão falta água aqui”, conta Leonardo Godoi, morador e empreendedor que construiu a primeira pousada na cidade e hoje administra um restaurante de comida tradicional.

Ele relata que há um projeto do Governo do Estado para levar água para a cidade a partir da adutora do Boqueirão, mas ainda não há previsões de quando isso deve se concretizar.

Na cidade também falta uma base da Polícia Civil. Quem, por ventura, sofrer algum delito precisará se deslocar 25km até o município vizinho Touros, para registrar um Boletim de
Ocorrências. Em São Miguel há apenas uma base da Polícia Militar.
Recentemente aconteceu uma onda de arrombamentos nas pousadas da cidade, mas com a reação da população e da Associação de Empreendedores, a segurança foi reforçada, especialmente com a Operação Verão. A dúvida é se esse reforço permanecerá após a alta estação.

Muitas ações de segurança são realizadas pela iniciativa privada com trabalhos de prevenção. Contra o turismo sexual, por exemplo, os funcionários do setor são orientados a desconfiar, ou mesmo, proibir a entrada de hóspedes acompanhados em situação suspeita. Com isso, dificilmente surge um caso ligado ao turismo sexual na cidade.

SEM BANCO

A falta de atenção dos gestores públicos com o turismo de São Miguel do Gostoso se reflete até na única agência bancária da cidade. Desde que foi explodida por bandidos há sete meses, moradores e turistas precisam se deslocar até o município de Touros, se quiserem sacar dinheiro no Banco do Brasil. Após a explosão, a agência foi fechada sem previsão de reabrir. Em um dos pontos comerciais há apenas um caixa eletrônico de um banco privado.

De acordo com o a assessoria do Banco do Brasil no estado, a reforma ainda passa por procedimentos licitatórios e, somente terminados estes trâmites, as obras terão prosseguimento. O que foi realizado até então, segundo informou, são apenas obras paliativas para evitar que o prédio ficasse aberto.

MORADORES CRIAM MOEDA PRÓPRIA

Há um mês passou a circular em São Miguel do Gostoso a moeda própria da cidade, o Gostoso, que é recebido em diversos estabelecimentos comerciais da cidade. Um Gostoso equivale a um Real e foi criado para valorizar e fortalecer a economia local.

A moeda é concebida por meio do Banco Solidário, uma das vertentes do programa Economia Solidária do Governo Federal. A Associação de Mulheres, Jovens e Produtores de Tabúa, comunidade rural de São Miguel, é responsável pelo banco que também fornece uma linha de crédito de até R$ 150 aos moradores. De acordo com João Eudes, presidente da entidade, o fundo para estes empréstimos vem da Secretaria Nacional da Economia Solidária.

A moeda local é representada em cédulas de 50 centavos, 1, 2, 5 ou 10 Gostosos. “Usando o Gostoso, as pessoas fortalecem nossa economia porque só compram e usam os serviços aqui da cidade”, explica o presidente. Segundo conta, dez comerciantes aderiram à moeda e já há mil Gostosos em circulação. As pessoas compram e utilizam a moeda social no comércio e depois a associação faz a troca por reais. Muitos turistas fazem o cambio para levar cédulas como lembranças da cidade de Gostoso.

SECRETARIA DE TURISMO É REATIVADA 

Ao longo dos últimos dez anos, o incentivo dos órgãos públicos ao turismo de Gostoso foi mínimo, tanto que, mesmo com todo o potencial turístico, há pelo menos oito anos a Secretaria Municipal de Turismo do município ficou desativada.

Somente neste ano, com a nova gestão, a pasta foi reestabelecida. A titular da Christiane Alecrim, diz que um levantamento da atual situação na área está sendo realizado para planejar o turismo da cidade nos próximos quatro anos.

Neste sentido, planeja construir um calendário de eventos para reforçar e divulgar ainda mais a cidade como destino turístico. “Temos festas tradicionais que queremos resgatar. Vamos fazer um calendário de eventos culturais que identifiquem a cidade”, diz a secretária. Entre estes eventos estão o carnaval e o São João, cultivando o tradicionalismo da antiga vila de pescadores; a alta temporada; a emancipação política da cidade, com atividades esportivas e de lazer; e festivais de cinema e de esportes (kitesurf e windsurfe) praticados nas praias de Gostoso.

Para combater a insegurança, Christiane Alecrim informa que a nova gestão está planejando algumas medidas com trabalhos de prevenção. A organização do trânsito também passará, segundo disse, por um trabalho educativo, após isso, nas praias, o tráfego de veículos será coibido, fato que deve acontecer até o carnaval. “Vamos trabalhar campanhas contra uso de drogas e turismo sexual e estamos buscando recursos com os governos (federal e estadual) para investir no setor e na infraestrutura da cidade”, declara.

Para Sebah Campos, que veio de Brasília e abriu há cinco anos uma batataria e pizzaria (que também funciona aos sábados como danceteria), não houve uma visão turística por parte dos gestores públicos. “Faltou visão turística da gestão pública. A cidade cresce, os turistas e empresários chegam, mas faltam investimentos públicos ainda”, relata. Ele é responsável pelos informativos “guia gastronômico” e “guia turístico” onde são publicadas as opções de lazer para o turista que visita a cidade.

São Miguel do Gostoso

Número de habitantes
8.670
Área
344 km2
Orçamento para 2013
R$ 20.900.000
Pib anual da Cidade (2008)
R$ 85 779,197 mil (RN: 34º)

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