CRM quer fim do improviso nos hospitais públicos

4 de maio de 2012

O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern) estuda uma maneira de exigir do governo do Estado o fim da improvisação de leitos de terapia intensiva no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel/Clóvis Sarinho. Na quarta-feira, 02, quando a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE visitou a maior unidade de urgência do Estado encontrou, somente na ala de reanimação, dez pacientes  acomodados em macas. Todos estavam entubados e precisavam de vaga de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

No Walfredo Gurgel, maior hospital geral do Estado, leitos de UTIs são improvisados para suprir a alta demanda (foto: Alberto Leandro)

Outros pacientes entubados estavam acomodados em macas nos corredores do hospital. Ao todo, 26 pacientes aguardavam vaga de UTI. Na próxima segunda-feira, 6, a promotora de Justiça da Saúde, Iara Pinheiro, concede entrevista coletiva para apresentação do relatório da inspeção realizada no dia 30 de abril no Walfredo Gurgel.  Há possibilidade de a promotora judicializar o caso, ingressando com duas ações, uma contra a falta de leitos de UTI e outra para pôr fim a acomodação de pacientes nos corredores do hospital.

A média diária de pacientes internados nos corredores é de 60 a 70 pacientes – a maioria deles pacientes da ortopedia. Essa era uma situação que, no início de março, tinha sido resolvida com o sistema de regulação, colocado em prática pelo Samu. Mas, sem explicação, segundo médicos e enfermeiros do Walfredo Gurgel, deixou de ser realizada, ao longo do mês de abril. Segundo o presidente do Cremern, Jeancarlo Fernandes, a entidade deve ingressar com ação judicial contra o Estado.

“Depois de uma inspeção no Walfredo”, afirmou Jeancarlo Fernandes, “devo receber um relatório e apresentar as possíveis ações no plenário do Conselho, na segunda-feira”. Ele não informou a data da inspeção que será feita por dois médicos “para colher elementos necessários à constatação da materialidade do fato”. No próximo dia 11 de maio completam exatos 30 dias que o hospital Walfredo Gurgel está sem diretor-geral. No dia 11 de abril, o ortopedista Mozar Dias entregou oficialmente o cargo. Desde então, a unidade ficou sem dirigente geral, sendo conduzido pelos diretores médico e administrativo.

A crise no atendimento hospitalar na rede estadual se agravou não apenas com a greve dos servidores (iniciada dia 02 de abril) e médicos (iniciada dia 25 de abril), mas pela situação de desabastecimento agudo nas unidades e suspensão das cirurgias eletivas, desde a sexta-feira, 27, nos oito hospitais conveniados com o SUS. Essas cirurgias são realizadas por ortopedistas vinculados à Cooperativa de Médicos do RN (Coopmed), numa contratação compartilhada entre o Estado e o município de Natal.

Segundo o presidente da Coopmed, Fernando Pinto, a Sesap está em atraso com cinco parcelas do contrato, desde novembro de 2011. A dívida total é de R$ 1,7 milhão. Ontem, em reunião na Sesap, com os secretários estadual e municipal de Saúde, respectivamente Dorinha Bularmaqui (interina) e Maria do Perpétuo Nogueira, houve a formalização de um acordo, segundo Fernando Pinto.

O termo foi assinado com o compromisso do governo do Estado de liberar, nesta sexta-feira, 4, valor equivalente a dois meses. “Sendo liberado  amanhã [hoje], estaremos recebendo em uma semana e já vamos retomar os procedimentos de imediato”, informou Fernando Pinto. Segundo ele, parte dos médicos já retomam as cirurgias nesta sexta-feira e o restante, na segunda-feira, 7.

O presidente da Coopmed disse que há compromisso da governadora de quitar o passivo restante até 20 de maio. Pela falta de pagamento à Coopmed, as cirurgias de alta e média complexidade em 16 especialidades estavam suspensas. Em média, a Cooperativa realiza três mil procedimentos mensais, que vão desde as cirurgias da ortopedia (mais de 50% do total); de hemodinâmica, vascular e cardíaca.

Por semana, são realizadas perto de 150 procedimentos cirúrgicos. De sexta-feira até ontem, pelo menos, 120 cirurgias deixaram de ser realizadas. O restabelecimento do fluxo de internações para cirurgias na rede conveniada pode reduzir a superlotação das unidades, principalmente, nos hospitais Walfredo Gurgel e Deoclécio Marques, que ontem estava com 75 pacientes internados, dos quais 70 aguardam cirurgias ortopédicas, segundo o chefe da ortopedia, Jean Valber, que também é coordenador estadual de Ortopedia.

Santa Catarina realiza licitações de compras hoje 

Na rede estadual o desabastecimento ainda é crítico nos hospitais Walfredo Gurgel, Santa Catarina, Deoclécio Marques, em Parnamirim, e Alfredo Mesquita, em Macaíba. Em alguns, estão em falta até 80% dos itens necessários aos procedimentos, segundo denúncia do Sindicato dos Servidores da Saúde (Sindsaúde) e do Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed). Com a crise estampada em rede nacional da imprensa, pelo menos dois hospitais afirmaram que estão finalizando as licitações de compras e que as expectativas são de que em até 15 dias o problema seja resolvido.

São eles, o Hospital José Pedro Bezerra (Santa Catarina) e o Hospital Regional Deoclécio Marques, em Parnamirim. O diretor administrativo do Hospital Santa Catarina, Carlos Leão, informou que hoje serão abertas as licitações emergenciais para aquisição de medicamentos, no valor de R$ 370 mil e de materiais médico-hospitalares, no valor de R$ 290 mil. A licitação de medicamentos ocorre às 9h, no auditório da unidade, e a de materiais, às 14h.

A verba extra de R$ 1 milhão está disponibilizada orçamentária e financeiramente. O repasse extra e de urgência foi feito dia 22 de março, devido à crise aguda de abastecimento da Unicat, unidade que fornece a maior parte dos medicamentos para os hospitais. Além desse problema, as unidades estão com dificuldades na lavagem da rouparia, devido às dívidas do governo com a empresa contratada, a Sol Lavanderia Ltda.

Ontem, no Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim, a empresa entregou 152 lençóis e apenas um conjunto profissional (camisa e calça) limpos.

No Hospital Regional Deoclécio Marques a fila para cirurgia ortopédica vem aumentando com a suspensão dos procedimentos (foto: Alberto Leandro)

A diretora da unidade, Nilzete Carrasco, disse que o processo de licitação para aquisição de quase 300 itens, no valor global de R$ 250 mil, já foi concluído e está em fase de homologação e que “as empresas vencedores estão fazendo alguns adiantamentos”. O hospital está trabalhando com uma demanda 30% acima da capacidade.

Interina quer “tomar pé” sobre Sesap

A Secretaria de Comunicação do Governo Rosalba Ciarlini informou que a economista Dorinha Burlamaqui, designada para responder pela Sesap/RN, até a nomeação do novo titular, só dará entrevista à imprensa após conversar com a governadora. Segundo a Secom, Dorinha “ainda está se inteirando da situação e dos problemas” e “ainda não tem respostas” aos questionamentos feitos pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE. Por 16 meses, até ontem quando assumiu a pasta interinamente, Dorinha ocupou o cargo de secretária-adjunta da Saúde.

A equipe da TN procurou a assessoria de Imprensa da Sesap/RN e a Secom para saber se há previsão de negociação com as categorias em greve da Saúde (médicos e servidores) e que providências estão sendo adotadas para resolver os problemas de superlotação e do atraso no pagamento dos contratos com fornecedores e prestadores de serviço.

Na quarta-feira, antes de sua demissão, o então secretário, Domício Arruda, informou que, no caso do Hospital Walfredo Gurgel, o governo teria repassado R$ 1,9 milhão a título de restos a pagar para quitar todos os contratos do ano de 2011 e mais R$ 690 mil equivalente à primeira das dez parcelas de custeio. Ele disse que os outros oito hospitais com autonomia financeira também teriam recebido recursos, mas não soube precisar os valores.

Por intermédio da assessoria de Imprensa do HWG, o diretor  administrativo, Josenildo Barbosa, confirmou a liberação do repasse, mas disse que os recursos só devem cair na conta do hospital nesta sexta-feira, 4. Já os hospitais José Pedro Bezerra (Santa Catarina); Giselda Trigueiro e João Machado não receberam os restos a pagar de 2011. No caso do Hospital Santa Catarina, o diretor administrativo, Carlos Leão, informou que o valor referente a restos a pagar é de R$ 100 mil.

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