Daniel Turíbio

Daniel Turíbio é jornalista da agência Smartpublishing Mídias em Rede. Já trabalhou com mídia impressa, rádio e assessoria de comunicação. Reside em Natal/RN.

Cultura do mamão ganha defensivo natural no RN

13 de outubro de 2014

Notícia publicada na Tribuna do Norte:

Combater as pragas sem a aplicação de defensivos químicos que custam mais e, também, podem provocar problemas no meio ambiente e na saúde do ser humano. É com base nesse princípio que o pesquisador Marcone César Mendonça Chagas, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn e Embrapa), tem desenvolvido pesquisas na área de manejo integrado de pragas com ênfase ao controle biológico.  Engenheiro agrônomo formado na Ufersa e doutor em Entomologia agrícola pela ESALQ/USP, Marcone Chagas  já desenvolveu trabalhos junto às culturas do feijão, algodão, citros, coco, caju, goiaba, manga, maracujá e mamão. Recentemente, desenvolveu uma alternativa para combate à praga do ácaro rajado do mamoeiro que estava atacando o plantio na região de Baraúna. Ele fala sobre a pesquisa e os seus resultados.

Como surgiu a pesquisa para a descoberta do defensivo natural do mamoeiro?
Essa pesquisa, voltada ao controle do ácaro rajado do mamoeiro Tetranychus urticae, é parte de um projeto desenvolvido desde 2008 com suporte financeiro do BNB/Fundeci com vistas ao controle de pragas associadas a diferentes espécies frutíferas, utilizando-se extratos vegetais (óleos) e/ou óleo mineral em substituição ao controle químico convencional.

Foto: flores.culturamix.com

Foto: flores.culturamix.com


Esse defensivo é elaborado à base de quais produtos?

Os inseticidas testados no experimento de campo junto ao projeto intitulado “Utilização de extratos vegetais no controle de pragas em frutíferas” foram formulados a base óleos vegetais e/ou o óleo mineral comercial com a adição de detergente neutro (DN) a fim de possibilitar a solubilização em água. O referido projeto de pesquisa já contemplou as culturas do coco, manga, maracujá, caju goiaba e atualmente o mamão.

Foram avaliados nessa pesquisa os óleos de algodão (1,5%) + DN (1,0%), mamona (1,0%) + DN (1,0%) e neem (0,5%) comparando os seus resultados de controle com o óleo mineral agrícola (1,5%) e o controle químico adotado pelo produtor. A aplicação dos produtos se dá na forma de pulverização convencional utilizando-se pulverizador manual ou tratorizado.

As pulverizações são acionadas em função do índice de dano foliar médio(IDf) obtido quinzenalmente mediante os trabalhos de monitoramento em 25 plantas/ha. O IDf médio a partir 1,5 ácaros/folha amostrada indica o momento de pulverização com óleo vegetal.

A região de Baraúna tem hoje, aproximadamente, 3.500 hectares de mamoeiro da variedade Formosa, em irrigação. A aplicação do defensivo é em toda essa área?
Não. Ainda estamos trabalhando na linha de conscientização dos produtores no sentido de migrarem para o método agroecológico de controle dessa praga. Esse é o nosso grande desafio uma vez que a cultura do “químico” ainda prevalece para a grande maioria dos produtores rurais. Ano passado (dezembro/2013) realizamos um evento de “Dia de Campo” na área a fim de difundir a tecnologia e hoje, tem-se notícias, que outros produtores estão se apropriando da tecnologia. É um processo lento porque o usuário precisa, antes de mais nada, validar o trabalho e acreditar na pesquisa. Graças ao produtor rural que disponibilizou a área e com o tempo acreditou nos resultados, hoje ele representa o principal difusor desses resultados, isso é muito positivo.

Você vai apresentar esse trabalho quando e onde?
Os resultados, até então obtidos, têm sido apresentados em diferentes congressos nacionais e no Congresso Internacional de Entomologia (ICE) na Coréia do Sul. Os resultados mais recentes obtidos com a cultura do mamão serão apresentados no XXV Congresso Brasileiro de Entomologia a realizar-se em Goiânia, GO.

A última pulverização química da área foi feita há um ano e, com o defensivo natural em maio. Quais as diferenças em equilíbrio (aranhas e outros insetos)? em economia na despesa do produtor, entre outros efeitos positivos?
A partir dos resultados do experimento conduzido de outubro/2012 a janeiro/2013, conclui-se que o desempenho dos óleos vegetais no controle da praga, comparado ao método químico se equivalem, assim, o produtor buscou de imediato a substituição do acaricida químico por óleo agrícola comercial na dosagem de 1% obedecendo os índices médios de IDf como indicadores de pulverização. Tem-se observado um efeito residual de controle do ácaro superior a 90 dias, dependendo da época do ano. Isto significa um grande avanço no manejo dessa praga do mamoeiro uma vez que, antes dessa tecnologia, o produtor costumava praticar entre duas a três aplicações de químico por mês. Como resultado imediato da utilização de um método biológico de controle dessa praga, tem-se a redução dos custos financeiros, inexistência de contaminação dos trabalhadores rurais, manutenção dos mesmos níveis de produtividade das áreas manejadas com o controle químico e, sobretudo, a preservação ambiental e produção de um fruto agroecológico que contribui para a segurança alimentar dos consumidores.

Essa praga só dá no mamoeiro?
Não. O ácaro rajado é considerado em todo o mundo como uma das principais pragas associadas a diferentes culturas. Ataca diversas espécies vegetais cultivadas economicamente ou não, a exemplo do algodoeiro, morangueiro, roseira, tomateiro, feijoeiro, soja, pessegueiro, cucurbitáceas, mandioca, dentre outras.

É possível desenvolver defensivos naturais para outras culturas?
Sim. Desde que antes seja realizada uma pesquisa seguindo toda uma metodologia pertinente a cada cultura no sentido de assegurar a extensão dos resultados.

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