Disciplina oferecida em universidade federal do RN promove respeito as diferenças étnicas

6 de novembro de 2014

Uma disciplina oferecida aos alunos de Pedagogia do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), em Caicó, quer combater o racismo na escola e fora dela. O componente curricular “Educação para as Relações Étnico-raciais” discute com os futuros pedagogos estratégias para promover uma convivência verdadeiramente humanizada em sala de aula: mais solidária e livre de preconceitos.

A iniciativa pretende construir entre os profissionais uma consciência crítica em relação às questões étnico-raciais, explica a professora Maria de Fátima Garcia, titular da cadeira e docente do Departamento de Educação do CERES – unidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Hoje a disciplina não é obrigatória, mas os estudantes têm procurado muito”, diz. “Há um interesse grande e os alunos são muito abertos a compreender, porque eles se sentem, como brasileiros, parte disso”, complementa.

A proposta visa resgatar, como política afirmativa, a contribuição de indígenas, africanos e seus descendentes para a formação social, econômica e política do Brasil, além de incentivar uma prática pedagógica que promova a igualdade racial na escola e na comunidade.

“A educação para as relações étnico-raciais resgata e trabalha de forma diferenciada a história do Brasil contada até então. O país é composto por 51% de negros e pardos, mas nos postos de trabalho da nossa sociedade essa representação não aparece”, analisa Fátima Garcia. “O que tem acontecido na Educação Básica que negros, pardos, indígenas e mestiços não estão chegando a ocupar postos de poder?”, questiona.

Mais que importante, discutir o tema durante a formação de educadores tornou-se necessidade. Duas leis nacionais, em 2003 e 2008, incluíram o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena no currículo de estabelecimentos de ensino fundamental e médio do país. A obrigatoriedade de abordar os temas em sala – mais especificamente nos conteúdos de história, literatura e educação artística – exige que a academia produza conhecimento sobre a matéria e oriente novos e antigos profissionais.

Disciplina discute com futuros pedagogos estratégias para promover uma convivência verdadeiramente humanizada em sala de aula. (Foto; Anastácia Vaz)

Disciplina discute com futuros pedagogos estratégias para promover uma convivência verdadeiramente humanizada em sala de aula. (Foto; Anastácia Vaz)

“Temos que formar professores para que eles possam trabalhar o assunto desde a educação infantil”, afirma Fátima. “Hoje, há uma boa produção bibliográfica a respeito, produções acadêmicas e grupos de estudos. Os educadores, de maneira geral, já estão narrando uma outra história do Brasil, uma história crítica em relação à constituição do povo brasileiro e à contribuição dos africanos e indígenas”, avalia.

Pesquisa-ação

Além da disciplina optativa oferecida no curso de Pedagogia, duas pesquisas conduzidas no CERES Caicó também abordam a educação para as relações étnico-raciais. Igualmente liderados pela docente Maria de Fátima Garcia, os estudos – que se encontram ainda em fase inicial – pretendem investigar a inclusão dos alunos negros na educação básica e no ensino superior.

O primeiro quer acompanhar a porcentagem de crianças negras em escolas de ensino Fundamental e Médio da região. O segundo tem a intenção de avaliar o acesso e a permanência  de estudantes negros na UFRN. “As análises se complementam. Como está sendo o percurso dessas pessoas até a universidade? Onde está havendo quebra? Há evasão? O que a escola está fazendo?”, exemplifica a professora.

A metodologia proposta é a pesquisa-ação, que não apenas levanta dados mas apresenta soluções para eventuais problemas identificados durante as sondagens. A ideia é transformar a realidade estudada ao mesmo tempo em que se desenvolvem os exames. “À medida que se detectam lacunas, entraves, a Universidade oferece sua contribuição para resolver as questões”, explica a coordenadora. “Se vamos à escola e percebemos que alunos sofrem preconceito por conta de sua religiosidade, já realizamos uma intervenção, que pode ser cursos para os professores, projetos que trabalhem com os pais ou uma ação diferenciada com as crianças”, esclarece.

Gillyane Dantas dos Santos é aluna do sexto período de Pedagogia no CERES e trabalha no projeto conduzido por Fátima Garcia. A estudante participa da aplicação de questionários com discentes da UFRN para identificar a composição étnico-racial dos universitários. A partir dos resultados, descreve Gillyane, a pesquisa investigará relatos de possíveis discriminações sofridas por alunos negros no ambiente acadêmico.

“É preciso desmistificar a noção de que na universidade as relações são totalmente diferentes, porque a gente sabe que não é”, comenta. “O assunto é silencioso mas, quando você fala sobre ele, começam a aparecer vários casos e opiniões”, avalia.

A estudante atuou em outra iniciativa de extensão da UFRN, que trabalhava a cultura quilombola em uma escola de comunidade negra no Seridó. Gillyane considera relevante envolver-se com questões relativas às relações étnico-raciais desde a graduação. “Pretendo continuar trabalhando esse ponto, não só na universidade mas quando for atuar em sala de aula. Muitos professores não tiveram esse suporte na formação, então é preciso também oferecer cursos a esses profissionais para o cenário evoluir”, acredita.

Os estudos integram as ações do Grupo de Pesquisa e Laboratório de Educação Aplicada às Novas Tecnologias e Estudos Étnico-Raciais (LENTE) do CERES. Fátima Garcia evidencia que as atividades do grupo buscam a humanização do convívio na educação. “As diferenças costumam ser motivo para violência, e a escola não pode conviver com essas agressões”, defende. “Quem sofre a violência tem sua autoestima abalada e isso atinge diretamente a aprendizagem, porque a inteligência dessa pessoa fica aprisionada. Se não fizermos nada, estaremos contribuindo para que cresçam as desigualdades”, analisa.

Com informações da Agecom UFRN

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