Energia solar atrai investidores ao RN

2 de abril de 2012

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vota até o início deste mês – segundo previsão da coordenação de energia solar fotovoltaica do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia do RN (Cerne) – dois regulamentos que prometem incentivar a geração e o consumo de energia solar no país. A regulamentação, que já está pronta, libera a instalação de pequenas centrais geradoras de energia elétrica (com potência instalada menor ou igual a um Megawatt (MW) em empresas e residências e concede maior desconto para quem instalar usinas de energia solar com até 30 MW. Com a homologação, o brasileiro poderá instalar placas solares fotovoltaicas e transformar radiação solar em energia elétrica, economizando na conta de energia.

Embora a Aneel prefira não fixar uma data para a homologação, várias empresas nacionais e estrangeiras estão de olho neste movimento. Para especialistas, o Rio Grande do Norte pode se destacar em relação à geração de energia solar, a exemplo do que ocorreu com a energia eólica.

O estado está entre os três com maior índice de radiação solar do país. O potencial do estado (radiação solar de 780 a 800 watts por metro quadrado) é cinco vezes maior que o da Alemanha, um dos países que mais produzem energia solar no mundo. Vários investidores já demonstraram interesse em aportar capital no RN. Só em março, três empresas procuraram o governo do estado – a Vector Tecnhology, a Solsonica e a Braxenergy, que anunciou a instalação de duas usinas solares, uma fotovoltaica (que usa placas solares) e uma CSP (que usa concentradores de energia) e de uma fábrica. As duas usinas projetadas pela companhia, com capacidade instalada de 30 MW cada uma, serão instaladas nos municípios de Mossoró e Itajá, que também receberá uma ‘green house’, espécie de estufa para produção de alimentos. A expectativa é que fiquem prontas em 2013, caso o Ministério de Minas e Energia realize leilões para energia solar este ano.

Apesar da queda dos custos, a energia solar ainda é 50 por cento mais cara do que a eólica.

Apesar da queda dos custos, a energia solar ainda é 50 por cento mais cara do que a eólica. (Foto: Alberto Leandro)

A Bioenergy, uma das primeiras a investir em eólica no país e a primeira a comercializar energia eólica no mercado livre, já mede a radiação solar em dois municípios potiguares. A empresa, que já inaugurou dois parques eólicos e vai instalar mais cinco no estado nos próximos três anos, vai dar entrada nas licenças ambientais nos próximos dias para os projetos de energia solar. A expectativa é começar a instalar as usinas até o final do ano. O investimento total chega a R$ 600 milhões, segundo Sérgio Marques, presidente da Bioenergy. Juntas, as centrais, que serão conectadas a rede, poderão gerar até 100 MW de energia – 100 vezes mais do que é gerado pela única usina de energia solar conectada a rede do país, instalada no Ceará. A energia solar representa hoje 14% da capacidade de geração dos projetos da companhia.

A Elios Soluções, empresa que atua no segmento de energia solar há dez anos, é parceira de três grandes grupos internacionais e está presente em seis estados brasileiros, também busca parceiros para instalar dois centros de distribuição e serviços no país. Diogo Azevedo, diretor

comercial da empresa, ainda procura um local para investir, mas garante: “se optarmos pelo Nordeste, escolheremos o Rio Grande do Norte”. De acordo com Jean Paul Prates, ex-secretário de Energia do estado e atual diretor-geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia do RN, há pelo menos outros cinco projetos ‘no gatilho’, aguardando a regulamentação do setor.

Até a Petrobras elegeu o RN para instalar sua primeira usina de energia solar conectada a rede. O projeto, inscrito num dos Programas de Pesquisa e Desenvolvimento Estratégico da Aneel, prevê a instalação de uma usina capaz de gerar 1MW, em Alto dos Rodrigues. O investimento é de R$ 21,2 milhões. As informações foram repassadas pela direção de Gás e Energia da estatal à rádio CBN e confirmadas pela agência reguladora. Só estes quatro projetos representam um investimento total de R$ 903,1 milhões.

Indústria tem desafios a vencer

Embora a brasileira Braxenergy tenha anunciado uma fábrica de placas fotovoltaicas para o Rio Grande do Norte, o momento não é propício para instalação de indústrias, afirma Diogo Azevedo, diretor de energia solar fotovoltaica do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia do RN (Cerne). “Há uma super oferta”, justifica. Segundo ele, a indústria de energia solar é capaz de produzir equipamentos para a instalação de 50 Giga Watts (GW) por ano, mas o mercado mundial só consegue comprar 27 GW. “É difícil acreditar que uma grande empresa vá abrir fábricas neste cenário”. O momento, segundo ele, é delicado. Governos cortaram subsídios para este tipo de indústrias e empresas fecharam as portas nos últimos meses.

Para Helcio Camarinha, CEO (espécie de diretor executivo) da Braxenergy, a super oferta não inviabiliza a instalação da fábrica, que também servirá como centro de pesquisa. Embora não divulgue detalhes do projeto, que será desenvolvido em parceria com outras empresas, Helcio assegura que “o RN será contemplado com alguma atividade industrial”. As placas serão instaladas nas usinas de energia solar da própria Braxenergy, dentro e fora do Brasil. “Precisaremos de 400 Megawatts em placas fotovoltaicas nos próximos quatro anos. Uma indústria se viabiliza com a produção de 100 MW por ano”, justifica.

A regulamentação, acredita Helcio, também multiplicará o número de clientes. “Com a regulamentação e a realização dos leilões, o Brasil se tornará o principal mercado do mundo”, anima-se. Para o doutor em Engenharia e professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRN, Luiz Guilherme Meira de Souza, que atua na área há mais de 30 anos e tem mais de 100 trabalhos publicados na área de energia solar, o processo será semelhante ao da eólica. “Primeiro, as empresas instalarão as usinas. Depois, instalarão as fábricas”.

Uma das áreas que já se preparam para receber este tipo de indústria é o distrito industrial de Goianinha. Das 32 empresas que solicitaram um terreno no distrito, duas atuam no segmento de energia solar. Uma delas é a italiana Solsonica, parceira da Braxenergy. O distrito industrial começa a operar até dezembro. “Estamos aguardando apenas as licenças”, afirma Teo Tomaz, secretário de Desenvolvimento Econômico de Goianinha.

Solar x Eólica

Apesar dos avanços, ainda há uma série de gargalos a serem superados pela indústria de energia solar. Mercado ainda incipiente, preço e dificuldades de transmissão são apenas alguns deles. Na avaliação de Jean Paul Prates, ex-secretário estadual de Energia e atual diretor geral do  Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia do RN (Cerne), a diferença tarifária ainda é um dos principais gargalos a serem superados. Enquanto a energia hidráulica custa, em média, R$ 70 o quilowatt/hora, a energia solar custa, em média, R$ 400. “A energia solar é, no minimo, 50% mais cara que a eólica, que apesar de ter caído de preço ainda é a fonte mais cara”, completa Luiz Guilherme Meira de Souza, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRN. Mas isso está mudando.  Para Sérgio Marques, presidente da Bioenergy, a energia solar se tornará tão competitiva quanto a energia eólica. “É só uma questão de tempo”. O investimento massivo da indústria mundial pressionará os preços para baixo, afirma Diogo Azevedo, também do Cerne. Sergio Palhares, diretor Brasil da Centrotherm Photovoltaics AG, uma das maiores fornecedoras de equipamentos para a produção de energia solar fotovoltaica do mundo, chegou a afirmar, em audiência pública realizada no ano passado em Natal, que os preços da energia solar haviam caído mais de 30% nos últimos dois anos. Mas desonerar a geração de energia não basta. Além de reduzir o preço, o país precisa investir em linhas de transmissão, aprimorar a infraestrutura e facilitar a logística. Apesar das barreiras, a energia solar é a fonte de energia que mais cresce no mundo. A taxa de crescimento anual chega a 30,89%. A da eólica, ‘a bola da vez’, cresce a 25,75%.

Consumidores descobrem no sol uma fonte de economia

A geração de energia solar abrange pelo menos três tipos de tecnologia: a energia solar térmica para banho, a térmica solar de concentração e a solar fotovoltaica (a que utiliza as placas). A térmica solar para banho é a mais comum no país, explica  Diogo Azevedo, diretor de energia solar fotovoltaica do Cerne. Em Natal, cerca de 90% dos hotéis usam energia solar para aquecer a água.

O Vip Praia Hotel, em Ponta Negra, foi um dos primeiros a apostar na nova tecnologia. Em 2008, instalou 15 placas fotovoltaicas no telhado. Com isso, conseguiu reduzir a conta de energia elétrica em 45%. O empreendedor que antes pagava R$ 18 mil por mês, passou a pagar R$ 10 mil. Para Beth Cequeira, gerente do empreendimento, o custo-benefício compensa. O hotel tem 40 suítes de até três quartos. “Imagine  100 hóspedes ligando o chuveiro elétrico na mesma hora”, diz Beth.

Banho quente ainda é pouco, admite Diogo, mas já é o primeiro passo. A regulamentação vai ampliar este mercado e trazer novas possibilidades. A socióloga americana Camy Condon, 73, concorda. Há um ano, ela desenvolve fogões e dissecadores solares de forma artesanal. Mas não parou por aí. Instalou oito placas solares em sua casa, nos EUA, e criou uma escola itinerante para difundir a prática no Brasil. “Assisti uma exibição sobre geração de energia solar na escola onde meus netos estudam, nos Estados Unidos, e pensei: ‘isso seria perfeito em Natal'”. Hoje, a casa de Camy, na capital potiguar (onde ela passa nove meses por ano) mais parece um museu dedicado a energia solar.

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