Confira matéria publicada na Tribuna do Norte:
Vinícius Menna
repórter
Com as secas que o país vem enfrentando nos últimos anos, a dependência da energia térmica – uma das mais caras entre as fontes – cresceu em todas as regiões. No Rio Grande do Norte, a geração das termelétricas aumentou em 30,56% entre janeiro e julho de 2014, no comparativo com o mesmo período do ano passado. E embora a energia obtida dos ventos tenha crescido, a participação das térmicas ainda é maior na matriz energética do RN, representando 69,44% do que é escoado para o sistema nacional. Mas os reflexos disso só deverão ser sentidos com mais força nas contas de luz a partir de 2015. Conforme o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou em agosto, os reajustes da tarifa devem ser de 2,6% em 2015, 5,6% em 2016 e 1,4% em 2017.
Embora a geração das eólicas tenha crescido mais que a das térmicas entre janeiro e julho de 2014, no comparativo com o mesmo período de 2013, variando em 78,79%, essa energia ainda não representa a maior fatia da matriz energética potiguar. Nos primeiros sete meses de 2014, foram gerados 2.248,92 megawatts médios (Mwmed) pelas térmicas, frente aos 989,65 Mwmed das eólicas.
No Nordeste, a geração de energia térmica também cresceu, com variação de 35,87% entre janeiro a agosto de 2014, no comparativo com o mesmo período de 2013. Ao todo, foram gerados 29.101 Mwmed nos primeiros oito meses de 2014, enquanto em 2013 esse número foi de 21.418 Mwmed.
A dependência das térmicas afeta diretamente a indústria de transformação, que tem na energia um dos seus principais insumos. Isso é o que explica o presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem do RN, João Lima, que também preside o Conselho de Consumidores da Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern).
“Está faltando geração de energia hidrelétrica. O fato de ter chovido menos é que levou à necessidade de despachar as termelétricas. Com isso, aumenta o preço da energia e gera impacto nos custos da indústria”, explica Lima. “Isso atrapalha a produtividade porque a energia é um insumo muito importante, ela impacta todas as categorias da indústria de transformação”, diz.
Por existirem variações de uma indústria para a outra em relação à dependência da energia elétrica, João Lima não soube quantificar o impacto das térmicas nos custos. A termelétrica Jesus Soares Pereira, mantida pela Petrobras, é a que tem a maior potência instalada do RN: são 323 MW. Localizada no município de Alto do Rodrigues, a 180 km de Natal, a usina começou a operar comercialmente em setembro de 2008 e destina 100% da energia ao sistema nacional.
Ela é movida a gás natural e opera em sistema de cogeração, isto é, além de produzir energia, ela gera vapor para os campos de produção de petróleo da Petrobras na região. Isso é feito através do calor que é recuperado dos gases resultantes da geração de energia. O Custo Variável Unitário (CVU) da usina é de 314,63 R$/MWh.
Situadas às margens da BR-304, em Macaíba, estão as outras duas maiores térmicas do Estado: a Potiguar III e a Potiguar, com potência instalada de 64,4 MW e 53,12 MW, respectivamente. As usinas – pertencentes à Companhia Elétrica Potiguar (CEP), do grupo Global – são separadas da rodovia e de uma pousada que fica ao lado por um muro de cinco metros de altura, por onde sai a fiação que cruza a BR para levar energia ao sistema nacional.
Além dessas três, há mais 11 usinas no RN. As 14 termelétricas respondem por 508,9 MW, o que representa 31,75% da capacidade de todas as fontes do Estado. A TRIBUNA DO NORTE procurou o Grupo Global para detalhar as atividades de suas usinas, mas a empresa não atendeu às solicitações.
CUSTOS
Em estimativa dos Encargos de Serviços do Sistema (ESS) realizada em março de 2013, a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) apresentou resultados que mostram que os Custos Variáveis Unitários (CVUs) das usinas Potiguar e Potiguar III, de Macaíba, eram de 1.006,71 reais por megawatt-hora (R$/MWh) no período. Os custos verificados nas usinas potiguares as deixaram na quarta colocação entre as 31 termelétricas incluídas no relatório da Abrace, ficando atrás apenas das usinas Pau Ferro I e Termonautas (1.116,71 R$/MWh), localizadas em Pernambuco, e da termelétrica Xavantes, em Goiânia (1.018,16 R$/MWh), A TRIBUNA DO NORTE procurou a Abrace para obter dados mais recentes dos Encargos de Serviços do Sistema, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
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Saiu na Tribuna do Norte:
Se por um lado a energia térmica é uma das fontes mais caras e, em geral, mais poluente também, é preciso considerar que ela tem suas vantagens: ela é mais estável, pode ser produzida a partir de várias matérias-primas e as usinas podem ficar próximas às regiões de consumo, resultando em economia na instalação de linhas de transmissão. Além disso, embora o RN seja o Estado com a maior capacidade instalada de energia eólica do país, essa fonte é complementar, ou seja, é preciso de outras fontes para garantir segurança energética ao país.
Com tantos parques eólicos, as usinas térmicas são mesmo necessários no âmbito do Rio Grande do Norte? Em nota, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) esclarece que “as usinas térmicas do Estado são conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), ou seja, a energia por elas gerada soma-se à energia produzida pelas demais usinas”.
Como as usinas térmicas do RN são conectadas ao restante do país, a energia gerada por elas é injetada no SIN, não tendo um consumidor específico. Em outras palavras, a energia gerada no Estado é do Brasil, não só do Rio Grande do Norte.
Uma das maiores desvantagens das térmicas é o preço, que varia de acordo com o combustível usado para gerar energia. Usinas a óleo diesel são as mais caras, conforme relatório da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) com base em preços atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em junho de 2014.
No caso do óleo diesel, o preço médio na contratação em leilões é de R$ 211,39 reais por megawatt-hora (R$/MWh). O segundo mais caro é o óleo combustível, com 196 R$/MWh. Depois vem o carvão, com 190,97 R$/MWh. Biomassa (176,37 R$/MWh) e Gás Natural (175,80 R$/MWh) vem em seguida, quase empatados. Por outro lado, a energia eólica tem custo médio nos leilões de 138,78 R$/MWh, sendo a segunda fonte mais barata. A força das águas é a que possui a média mais barata nos leilões, com 127,38 R$/MWh.
Outra diferença em relação às fontes de energia é que, diferente das usinas térmicas, os aerogeradores das eólicas não poluem, conforme explica o diretor de energia eólica do Centro de Estrategias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Milton Pinto.
“Além de serem caras, com relação ao meio ambiente, as térmicas não são tão interessantes. Apesar de algumas usarem biomassa, a grande maioria usa o óleo diesel. Os combustíveis fósseis são mais nocivos porque liberam gases para atmosfera”, diz Milton. No sentido ambiental, a desvantagem das eólicas é o impacto visual. Além disso, as eólicas tem a desvantagem de dependerem dos ventos, o que acarreta em uma geração que não assegura energia o tempo todo. “A energia eólica é intermitente, enquanto que as fontes térmicas fornecem energia firme”, esclarece a Aneel.
“Embora as eólicas tenham uma potência instalada de quase dois gigawatts no Estado, como elas geram de 30% a 40% da capacidade instalada, as térmicas acabam gerando mais energia”, diz Milton Pinto.
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