Daniel Turíbio

Daniel Turíbio é jornalista da agência Smartpublishing Mídias em Rede. Já trabalhou com mídia impressa, rádio e assessoria de comunicação. Reside em Natal/RN.

Mudança no sistema de leilões de energia: implicações para o RN

20 de março de 2013

Notícia publicação Economia do Novo Jornal:

A falta de linhas de transmissão para escoar a produção de energia eólica, os chamados “linhões”, pode trazer mais uma dor de cabeça para o RN. O governo federal, através do Ministério das Minas e Energia, sinalizou uma mudança nos leilões de energia que envolve diretamente os investimentos futuros e os que já estão em solo potiguar. A proposta é de que as empresas que participarem dos próximos leilões só podem entregar a energia se apresentarem uma alternativa para a transmissão do que for gerado.

Foto: uol.com.br

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O problema é que há dois anos o Estado aguarda a construção das linhas de transmissão pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf). Com a medida, o estado, responsável por captar em média 40% dos investimentos leiloados desde 2009, perderia competitividade exatamente pela falta de estrutura. “Toda a rede de transmissão do RN está comprometida, não há sobra que possa suprir a demanda futura de novos parques que venham a ser leiloados”, explica o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Rogério Marinho.

O governo federal planeja dois leilões de energia para este ano, mas que ainda não possuem data marcada. Até hoje os leilões para venda de energia e de construção dos linhões são feitos separadamente, sendo este sempre após o leilão de energia. Marinho acredita que as mudanças sinalizadas pelo Ministério das Minas e Energia preveem uma perda de espaço do RN.
“Poderemos perder competitividade com as alterações”, aponta o economista.

Para tanto, durante reunião realizada na semana passada, o secretário cobrou do ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, a construção das linhas estruturantes de transmissão. “O governo alega que deixar os leilões separados prejudica o sistema”, diz Rogério.

A urgência, de acordo com Rogério, é para a ligação com o Ceará, através de duas linhas, saídas de região do Mato Grande potiguar: uma com rumo à Milagres, próxima à divisa com Pernambuco e a Paraíba; e a segunda até Pecém, no litoral cearense, e onde funciona o terminal portuário do estado. A obra faz parte de um projeto de estruturação que envolve, em duas etapas de construção, também os estados do Piauí e do Maranhão.

Enquanto isso, o parque eólico do RN, que daria autossuficiência energética ao estado caso estivesse em pleno funcionamento, aguarda a construção das linhas de transmissão há cerca de dois anos. A Bahia também passa por problema semelhante.

A Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) foi vencedora de quatro licitações, uma delas em consórcio com a Extremoz Transmissora do Nordeste S.A. (ETN S.A.), para construção das linhas no RN. As licitações ocorreram entre 2010 e 2012.

“O cronograma está devidamente atualizado. A Chesf esteve aqui no RN e comprometeu-se a entregar as obras dentro do que está prometido. O nosso problema agora é com o futuro”, pontua o secretário de desenvolvimento econômico.

A promessa da estatal é de que o primeiro lote seja entregue até setembro deste ano, interligando 12 parques eólicos na região de João Câmara. Em janeiro serão ligados mais 28 parques, de oito empresas diferentes, que representam 776,7 MW (megawatts) de potência instalada no RN. O terceiro e o quarto lotes de linhas conectarão, cada um, mais oito parques. Os investimentos devem chegar aos R$ 215 milhões.

RN poderia estar com o dobro da capacidade energética

Segundo o especialista no setor de energia e diretor do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean-Paul Prates, o RN estaria com o dobro da necessidade energética, o que representa cerca de 1.200 megawatts, se os parques que estão parados tivessem sua capacidade aproveitada pelas linhas de transmissão. No entanto, não há motivo para se desesperar. Para Prates, o RN não deve sair prejudicado com as prováveis mudanças no sistema de leilões de energia eólica. Os investimentos em solo potiguar ao superarem em muito o resto do país deixam o RN em um nível diferente.

“Não é nada desesperador. Tivemos dois anos perdidos, em que, infelizmente, nada foi feito. O passivo é grande, mas já se pulou tanto à frente nos leilões até 2011, que é possível se dar ao luxo de perder esse tempo. Dá para corrigir tranquilamente”, aponta.

Prates, no entanto, não acredita que a solução será tão rápida. “A Chesf prometeu para setembro, mas eu acho um prazo curto para quem não começou as obras. É complicado construir linhas para mais de 600 MW”, analisa.

Ver os parques parados, segundo ele, deixa as empresas preocupadas. “Todos estão recebendo, mesmo sem produzir a energia. Mas ver os parques parados deixa uma frustração para os empresários. Além da manutenção diferenciada que é preciso ser feita nos equipamentos”, relata Jean Paul.

A proposta do governo de alterar o sistema de leilões deveria ser acompanhada de uma outra notícia na opinião do especialista. “O governo federal teria que anunciar uma linha ‘parruda’ para o Rio Grande do Norte e o Ceará. Seria um retrocesso cavalar não dar solução para um dos maiores potenciais de energia eólica do mundo, que já captou R$ 10 bilhões em investimento”, diz Jean. A solução, segundo ele, é a construção da linha de transmissão tratada como a “coluna vertebral do elefante”, que faz ligações com o Ceará, podendo chegar ao Piauí e o Maranhão.

O diretor-geral do Cerne acredita que a situação tende a melhorar nos próximos anos pela mudança de diretrizes dentro da Sedec, com a saída de Benito Gama e a entrada de Rogério Marinho. “O secretário anterior achava que iria se resolver sozinho. Só com Rogério que voltaram as movimentações para cobrar da Chesf. O cliente, que é o governo, não reclamou e deixaram rolar. E o papel do governo do estado é essencial nesse momento, em que cada um briga pelo o que é seu. Tenho fé que Rogério fará isso”, finaliza.

Para o coordenador de desenvolvimento energético da Sedec, José Mário Gurgel, o pouco tempo de exploração da energia eólica no país, que foi incluída nos leilões de energia apenas em 2009, faz com que o sistema tenha que se adaptar às condições de estrutura. “Nem sempre onde tem vento tem linha de transmissão”, resumiu o coordenador.

Gurgel explica que a mudança proposta pelo Ministério das Minas e Energia pode inviabilizar os leilões para os locais que não possuem infraestrutura de transmissão de energia, como o RN. “Se a empresa que vencer o leilão para construir o parque tiver que resolver a questão da transmissão, o preço vai aumentar e a tarifa oferecida vai perder competitividade. O projeto ficaria inviabilizado”, aponta.

A resolução do problema, segundo ele, não é técnica. “Um reforço na linha e aumento da carga, como é proposto para ser feito em João Câmara, pode ser feito em 15 meses. Mas, uma obra que resolveria a deficiência de escoamento não se pode fazer em curto prazo”, pondera Gurgel.
O coordenador ainda ressalta que o RN, apesar da falta dos linhões, continua como líder na atração de investimentos. E acredita que o estado, no fim das contas, não sairá prejudicado. “Já se conhece todos os locais de potencial energético, as ‘jazidas’ de vento do RN em que se devem construir as linhas para dar suporte aos novos leilões. Acredito que o bom senso prevalecerá e não irá se tirar a competitividade do estado com maior potencial”, analisa José Mário.

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