Bombons, caramelos, confeitos e pastilhas, são nomes que chamam a atenção quando se observa o ranking dos dez itens líderes em exportações no Rio Grande do Norte. No ano passado a categoria vendeu ao mercado internacional US$ 10,1 milhões, por meio de transações que, em boa parte, levam a assinatura da Candy Pop. Essencialmente exportadora, a fábrica de balas e pirulitos comandada pelo empresário Thiago Gadelha Simas cresce contra uma maré de adversidades. Desafios envolvem o câmbio desfavorável, custos altos de escoamento, encargos fiscais e a falta de infraestrutura do Distrito Industrial de Macaíba, (distante 25 km da capital) onde a indústria funciona.
A superação das dificuldades Gadelha credita ao know how adquirido pelo trabalho de longa data na Simas Industrial, empresa criada por seu pai e da qual se separou há pouco mais de dois anos após desentendimentos familiares. Com a experiência de ter trabalhado no que foi a maior exportadora de balas do país durante anos, Thiago Gadelha entrouno mercado com um tiro certo, que atende pelo nome de Hershey’s, empresa norte americana e antiga parceira da Simas Industrial. “Já surgiu dentro de um negócio em perspectiva”, afirma Gadelha.
Os norte-americanos, que àquela altura já não estavam envolvidos em negócios no RN, toparam participar do projeto da Candy Pop. A união firme entre as duas empresas foi o segredo para fomentar o crescimento da fábrica potiguar mesmo com a conjuntura desfavorável e desestimulante para vender ao mercado internacional. “Só foi possível com investimento, a maturação do projeto inicial”, conta.
A Candy Pop fechou 2011 com um faturamento de R$ 30 milhões, exportando pouco mais de 80% de sua produção para os Estados Unidos. O índice de exportação teve redução frente a 2010, quando 92% das balas e pirulitos foram vendidos no exterior. Thiago Gadelha conta que apesar de ainda não ter uma marca forte no mercado nacional, já existe um direcionamento de alguns produtos para o Nordeste e Sudeste do país. Em 2012 a pretensão é faturar R$ 50 milhões e produzir mil toneladas mensalmente.
Hoje a Candy Pop trabalha com três linhas de pirulito, bala e caramelo, e lançou recentemente um novo produto, projetado em parceria com técnicos da Hershey’s. “É uma bala recheada em formato cilíndrico que também será lançada também no mercado interno”, revela Gadelha. Para o empresário, o segredo está na evolução tecnológica da produção e no desenvolvimento de um conceito de qualidade nos doces. Em 2012 o investimento em equipamentos se aproxima de R$ 1 milhão. “Não tenho dúvida que vamos crescer”, enfatiza Gadelha, que conta com a estabilização da crise internacional e a melhora do câmbio para ampliar ainda mais as exportações.
Faro para as oportunidades lá fora
Criada há dois anos a Candy Pop ainda é uma marca desconhecida para os brasileiros. Pesa muito nessa conta a juventude da empresa, nova no mercado, porém liderada por alguém que sabe muito bem onde está pisando. Sem o reconhecimento do mercado nacional, o caminho das exportações veio por uma questão de oportunidade, explicada pela parceria desenvolvida com a norte-americana Hershey’s. “Lá eu trabalho com marcas locais, que já estão na mente do consumidor”, conta Thiago Gadelha.
A aliança tem rendido bem mais do que exportações. O desenvolvimento de novos produtos com apoio técnico do parceiro, além da transferência de tecnologia, são benefícios que apóiam a evolução do fator qualidade nos produtos da Candy Pop. “Hoje se paga pela qualidade”, enaltece o empresário. Para produzir as balas e pirulitos, Gadelha compra açúcar e embalagens no Brasil, enquanto o segredo do sabor vem da indústria norte-americana.
Embora o foco esteja no mercado internacional, o empresário almeja equilibrar minimamente as vendas. “Oideal é vendermos 2/3 para o mercado externo e 1/3 para o interno. Se eu quero chegar a mil toneladas, devia vender 300 toneladas no doméstico”, ressalta. O RN, a Paraíba, o Ceará, e Pernambuco interessam a Candy Pop, que também segura uma ponta da produção em São Paulo e Rio de Janeiro.
Câmbio
A crise internacional e a desvalorização do dólar acertaram em cheio as operações dos exportadores. No meio do redemoinho, a Candy Pop chegou a perder um cliente nos Estados Unidos, porém a manutenção da parceria com a Hershey’s sustentou a ampliação das vendas para fora do país. “Fomos mostrando a situação. São fatores cíclicos, que não vêm para ficar. O mercado externo é de longo prazo. Você se estabelece e fica sujeito a essas variações”, explica Thiago Gadelha.
O empresário critica a demora do governo brasileiro para manter a competitividade brasileira fora do país. De acordo com Gadelha mesmo já tendo identificado a necessidade de tomar providências o Ministério da Fazenda demorou um ano para colocar a mão na massa. “Nesse ano se perderam empregos, investimentos, e negócios que demoraram anos e anos para serem conquistados lá fora. É muito descaso”, avalia.
Infraestutura: “falta o básico”
Esquecimento é a primeira ideia que vem a cabeça de Thiago Gadelha quando começa a falar sobre o Distrito Industrial de Macaíba, onde está instalada a Candy Pop. O empresário elogia a forma como o condomínio de indústrias foi concebido, porém critica a falta de uma infraestrutura básica. “Nem o asfalto conseguimos ainda”, diz.
A ausência de acessos e iluminação adequados contribuem para deixar o local perigoso. Por coincidência, um dia após Gadelha conceder entrevista ao Poti/Diário de Natal, um funcionário que trabalhava no distrito foi morto a tiros nas imediações da indústria. A insegurança interfere diretamente no funcionamento da fábrica, que encerra o expediente às 17h devido ao perigo de sair mais tarde do local. “É você se adaptar à falta de infraestrutura. É o que temos feito ao longo desses dois anos”, afirma.
Da mesma forma, Gadelha avalia que a falta do básico prejudica empresas de todas as cadeias produtivas. “A produção existe, o negócio, o compromisso com o mercado externo, a entrada de dólar ea criação de emprego. Tudo isso e ficamos dependendo de uma estrada, de um acesso”, critica.
Se na operação da fábrica a falta de infraestrutura já pesa, no escoamento da produção não é diferente. “A Candy Pop deve gastar em torno de US$ 1 milhão nesse ano para levar os containeres da fábrica para os portos de Suape e Pecém”, conta Gadelha, que exporta seus produtos pelos portos pernambucano e cearense. Para o empresário, a viabilização de uma linha de cabotagem que permita a navegação entre os portos do país seria necessária. Na importação, o empresário conta que as dificuldades se repetem. “O comércio traz muito produtos de caminhão do Sudeste. O que é trazido de navio fica em Suape e temos que mandar buscar”, acrescenta.
Muitos encargos
No entendimento de Thiago Gadelha, a indústria nacional só terá um desenvolvimento sustentável quando as reformas tributária e trabalhista forem efetuadas. “Os encargos sociais no Brasil são 100%”, afirma o empresário, comparando a situação com países como Chile, México,China e Estados Unidos, onde os encargos não passam de 50%.
No campo fiscal, Gadelha considera urgente uma resolução para a questão tributária, de forma que se extingam os incentivos dados pelos governos estaduais. “É preciso deixar que cada estado pegue o mesmo tributo, trabalhe com ele para compor seus custos e monte suas linhas de produto para ir ao mercado e competir”, opina Thiago Gadelha. Para o empresário, as correções aplicadas para beneficiar os estados menos favorecidos, que recebem alíquotas diferenciadas em operações interestaduais, precisam acabar. “Os incentivos dados são para corrigir uma distorção e não para desenvolver o Nordeste”, reforça.
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