No RN, Fábrica de balas sustenta exportações contra a maré da crise

2 de abril de 2012

Bombons, caramelos, confeitos e pastilhas, são nomes que chamam a atenção quando se observa o ranking dos dez itens líderes em exportações no Rio Grande do Norte. No ano passado a categoria vendeu ao mercado internacional US$ 10,1 milhões, por meio de transações que, em boa parte, levam a assinatura da Candy Pop. Essencialmente exportadora, a fábrica de balas e pirulitos comandada pelo empresário Thiago Gadelha Simas cresce contra uma maré de adversidades. Desafios envolvem o câmbio desfavorável, custos altos de escoamento, encargos fiscais e a falta de infraestrutura do Distrito Industrial de Macaíba, (distante 25 km da capital)  onde a indústria funciona.

Com apenas dois anos de atuação, Candy Pop já figura entre as maiores exportadoras do RN, mas enfrenta dificuldades pela falta de estrutura do Distrito Industrial de Macaíba.

Com apenas dois anos de atuação, Candy Pop já figura entre as maiores exportadoras do RN, mas enfrenta dificuldades pela falta de estrutura do Distrito Industrial de Macaíba. (Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press)

A superação das dificuldades Gadelha credita ao know how adquirido pelo trabalho de longa data na Simas Industrial, empresa criada por seu pai e da qual se separou há pouco mais de dois anos após desentendimentos familiares. Com a experiência de ter trabalhado no que foi a maior exportadora de balas do país durante anos, Thiago Gadelha entrouno mercado com um tiro certo, que atende pelo nome de Hershey’s, empresa norte americana e antiga parceira da Simas Industrial. “Já surgiu dentro de um negócio em perspectiva”, afirma Gadelha.

Os norte-americanos, que àquela altura já não estavam envolvidos em negócios no RN, toparam participar do projeto da Candy Pop. A união firme entre as duas empresas foi o segredo para fomentar o crescimento da fábrica potiguar mesmo com a conjuntura desfavorável e desestimulante para vender ao mercado internacional. “Só foi possível com investimento, a maturação do projeto inicial”, conta.

A Candy Pop fechou 2011 com um faturamento de R$ 30 milhões, exportando pouco mais de 80% de sua produção para os Estados Unidos. O índice de exportação teve redução frente a 2010, quando 92% das balas e pirulitos foram vendidos no exterior. Thiago Gadelha conta que apesar de ainda não ter uma marca forte no mercado nacional, já existe um direcionamento de alguns produtos para o Nordeste e Sudeste do país. Em 2012 a pretensão é faturar R$ 50 milhões e produzir mil toneladas mensalmente.

Hoje a Candy Pop trabalha com três linhas de pirulito, bala e caramelo, e lançou recentemente um novo produto, projetado em parceria com técnicos da Hershey’s. “É uma bala recheada em formato cilíndrico que também será lançada também no mercado interno”, revela Gadelha. Para o empresário, o segredo está na evolução tecnológica da produção e no desenvolvimento de um conceito de qualidade nos doces. Em 2012 o investimento em equipamentos se aproxima de R$ 1 milhão. “Não tenho dúvida que vamos crescer”, enfatiza Gadelha, que conta com a estabilização da crise internacional e a melhora do câmbio para ampliar ainda mais as exportações.

Faro para as oportunidades lá fora

Criada há dois anos a Candy Pop ainda é uma marca desconhecida para os brasileiros. Pesa muito nessa conta a juventude da empresa, nova no mercado, porém liderada por alguém que sabe muito bem onde está pisando. Sem o reconhecimento do mercado nacional, o caminho das exportações veio por uma questão de oportunidade, explicada pela parceria desenvolvida com a norte-americana Hershey’s. “Lá eu trabalho com marcas locais, que já estão na mente do consumidor”, conta Thiago Gadelha.

Parceria com a norte-americana Hershey's garante qualidade e tecnologia.

Parceria com a norte-americana Hershey's garante qualidade e tecnologia. (Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press)

A aliança tem rendido bem mais do que exportações. O desenvolvimento de novos produtos com apoio técnico do parceiro, além da transferência de tecnologia, são benefícios que apóiam a evolução do fator qualidade nos produtos da Candy Pop. “Hoje se paga pela qualidade”, enaltece o empresário. Para produzir as balas e pirulitos, Gadelha compra açúcar e embalagens no Brasil, enquanto o segredo do sabor vem da indústria norte-americana.

Embora o foco esteja no mercado internacional, o empresário almeja equilibrar minimamente as vendas. “Oideal é vendermos 2/3 para o mercado externo e 1/3 para o interno. Se eu quero chegar a mil toneladas, devia vender 300 toneladas no doméstico”, ressalta. O RN, a Paraíba, o Ceará, e Pernambuco interessam a Candy Pop, que também segura uma ponta da produção em São Paulo e Rio de Janeiro.

Câmbio

A crise internacional e a desvalorização do dólar acertaram em cheio as operações dos exportadores. No meio do redemoinho, a Candy Pop chegou a perder um cliente nos Estados Unidos, porém a manutenção da parceria com a Hershey’s sustentou a ampliação das vendas para fora do país. “Fomos mostrando a situação. São fatores cíclicos, que não vêm para ficar. O mercado externo é de longo prazo. Você se estabelece e fica sujeito a essas variações”, explica Thiago Gadelha.

O empresário critica a demora do governo brasileiro para manter a competitividade brasileira fora do país. De acordo com Gadelha mesmo já tendo identificado a necessidade de tomar providências o Ministério da Fazenda demorou um ano para colocar a mão na massa. “Nesse ano se perderam empregos, investimentos, e negócios que demoraram anos e anos para serem conquistados lá fora. É muito descaso”, avalia.

Infraestutura: “falta o básico”

Esquecimento é a primeira ideia que vem a cabeça de Thiago Gadelha quando começa a falar sobre o Distrito Industrial de Macaíba, onde está instalada a Candy Pop. O empresário elogia a forma como o condomínio de indústrias foi concebido, porém critica a falta de uma infraestrutura básica. “Nem o asfalto conseguimos ainda”, diz.

A ausência de acessos e iluminação adequados contribuem para deixar o local perigoso. Por coincidência, um dia após Gadelha conceder entrevista ao Poti/Diário de Natal, um funcionário que trabalhava no distrito foi morto a tiros nas imediações da indústria. A insegurança interfere diretamente no funcionamento da fábrica, que encerra o expediente às 17h devido ao perigo de sair mais tarde do local. “É você se adaptar à falta de infraestrutura. É o que temos feito ao longo desses dois anos”, afirma.

Da mesma forma, Gadelha avalia que a falta do básico prejudica empresas de todas as cadeias produtivas. “A produção existe, o negócio, o compromisso com o mercado externo, a entrada de dólar ea criação de emprego. Tudo isso e ficamos dependendo de uma estrada, de um acesso”, critica.

Se na operação da fábrica a falta de infraestrutura já pesa, no escoamento da produção não é diferente. “A Candy Pop deve gastar em torno de US$ 1 milhão nesse ano para levar os containeres da fábrica para os portos de Suape e Pecém”, conta Gadelha, que exporta seus produtos pelos portos pernambucano e cearense. Para o empresário, a viabilização de uma linha de cabotagem que permita a navegação entre os portos do país seria necessária. Na importação, o empresário conta que as dificuldades se repetem. “O comércio traz muito produtos de caminhão do Sudeste. O que é trazido de navio fica em Suape e temos que mandar buscar”, acrescenta.

Muitos encargos

No entendimento de Thiago Gadelha, a indústria nacional só terá um desenvolvimento sustentável quando as reformas tributária e trabalhista forem efetuadas. “Os encargos sociais no Brasil são 100%”, afirma o empresário, comparando a situação com países como Chile, México,China e Estados Unidos, onde os encargos não passam de 50%.

No campo fiscal, Gadelha considera urgente uma resolução para a questão tributária, de forma que se extingam os incentivos dados pelos governos estaduais. “É preciso deixar que cada estado pegue o mesmo tributo, trabalhe com ele para compor seus custos e monte suas linhas de produto para ir ao mercado e competir”, opina Thiago Gadelha. Para o empresário, as correções aplicadas para beneficiar os estados menos favorecidos, que recebem alíquotas diferenciadas em operações interestaduais, precisam acabar. “Os incentivos dados são para corrigir uma distorção e não para desenvolver o Nordeste”, reforça.

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