No RN, linhas de transmissão pretendem alavancar novos parques eólicos

10 de fevereiro de 2014

Notícia publicada no Novo Jornal:

Em meio à crise de abastecimento de energia elétrica que ameaça dominar o país – representada, principalmente, pelos apagões que aconteceram durante esta semana no sul e no sudeste –, o Rio Grande do Norte tem mais de 932 MW em potencial energético desperdiçado. De acordo com levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 32 parques eólicos do estado acumulam teias de aranha em seus aerogeradores há praticamente dois anos.

O potencial é desperdiçado devido aos sucessivos atrasos na entrega das linhas de transmissão de energia. A Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), responsável pela construção de três linhas de transmissão de 230kV e 500kV no estado, deveria ter entregado as obras em julho de 2012. Essas linhas levam a energia gerada pelos parques para o Sistema Integrado Nacional (SIN), que abastece todo o território brasileiro. Em outubro passado, a Chesf apresentou um cronograma ao Governo do Estado que previa a entrega da primeira linha no último dia 2 de fevereiro. Atrasou de novo.

Segundo as informações da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), a previsão é que a linha que liga as subestações de Extremoz a João Câmara seja energizada dia 21 de fevereiro. A linha pode atender até 27 parques das cidades de João Câmara, Parazinho e Pedra Grandes, que possuem um potencial de produção avaliado em 740 MW. Neste um ano e meio de parques parados, estima-se que o RN tenha deixado de ganhar até R$ 1,6 bilhão que seriam gerados durante a operação dos parques na região. Esse dinheiro circularia durante a construção e operação dos parques devido a compra de materiais, contratação de mão de obra e arrecadação de impostos. O cálculo foi feito pelo Centro de Estudos em Recursos Naturais e Energia (Cerne/RN) em 2012, segundo o qual se previa um investimento de até R$ 4 milhões a cada 300 gigawatts instalados e gerados.

Foto: Tribuna do Norte

Foto: Tribuna do Norte

No período em que os parques ficaram parados, a União também perdeu dinheiro. Isso porque, segundo o antigo regulamento dos leilões de geração de energia, se as empresas geradoras concluíssem os parques e não encontrassem formas de escoar a produção, elas teriam que ser ressarcidas pelo Governo Federal. O valor varia de acordo com a capacidade do parque eólico e do tempo que ele esteve parado. Entretanto, segundo matéria divulgada nesta semana pela imprensa nacional, o governo já desembolsou R$ 285 milhões por apenas um parque parado na Bahia, gerido pela Renova Energia. A Aneel não reconhece o número.

Esse mesmo gasto, entretanto, é diluído e pago pelo consumidor final: de acordo com estudo feito pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), o potiguar já pagou R$ 240 milhões.

Além da linha Extremoz-João Câmara, a Chesf ainda “deve” ao RN outras duas malhas: a construção de um “linhão” de 500 kV, com mais de 196 km de extensão, que vai ligar as subestações João Câmara e Campina Grande II, na Paraíba; além de trechos entre as subestações de João Câmara e Assú. Procurada para comentar os constantes atrasos e o novo cronograma de execução, a Chesf sequer atendeu aos telefonemas da reportagem.

Linhas de transmissão darão suporte para novos parques

A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Energético, no entanto, aposta na chegada da linha de transmissão ainda no dia 21, além dos leilões que estão por vir. Um deles já está marcado para o dia 9 de maio. O leilão prevê mais um linhão de 500kV para o estado, que interligará a subestação de Assú às de Quixadá e Milagres, no interior cearense.

“O mais importante é o que está por vir. Temos um novo leilão de transmissão já previsto para o dia 9 de maio. As empresas que forem vitoriosas vão dotar o Rio Grande do Norte de um sistema de transmissão. Dessa forma inverte a lógica: você vai ter uma transmissão que vai suportar os futuros projetos. É o que o estado sempre quis”, diz o coordenador de desenvolvimento energético do estado, José Mário Gurgel.

As empresas ganhadoras têm até 30 meses para concluir as linhas. A nova malha atenderá, por sua vez, leilões de geração futuros – somente para este ano, estão previstos 12 novos leilões de geração, de acordo com o Governo Federal.

A Sedec considera, atualmente, o RN como um estado “autossuficiente” em energia, uma vez que o estado só consome 700 MW por mês e tem potencial contratado que chega a 3,4 GW. Destaque-se: contratado, não gerado.

Atualmente, apenas 14 dos 137 parques contratados no estado estão gerando energia. Eles representam apenas 12% de tudo o que pode ser produzido em terreno potiguar.

O diretor de energia eólica do Cerne/RN, Milton Pinto, ressalta que a “autossuficiência” do estado é “virtual”. Uma vez que a energia entra no sistema nacional, ela pode ser direcionada para qualquer ponto do país. “Nós estamos gerando mais do que o consumo. Se a nossa geração é superior ao consumo, então a gente vai exportar energia. Mas esse exportar energia é virtual porque, se em algum momento outro ponto do país precisar da energia, ele pode sugar e deixar o RN sem. A eólica é uma energia que pode complementar o sistema elétrico nacional, não predominar”, explica.

Liderança na geração pode chegar ainda em 2014

Um levantamento feito pelo Cerne RN estima que 27 dos 32 parques eólicos que estão parados atualmente no estado devam entrar em operação até o fi m do primeiro

semestre de 2014. Com isso, o estado chega ao total de 41 parques eólicos em operação e é alçado ao status de primeira unidade da federação a exportar mais de 1 GW de energia limpa. De acordo com o diretor da instituição e ex-secretário

estadual de energia, Jean Paul Prates, o RN já era autossuficiente em energia elétrica desde 2010. O consultor afirma que, desde 2009, o Cerne avaliava o estado como um “pré-sal de energia eólica”. “Esses resultados são de um plano que foi traçado e declarado há muito tempo. O setor de energia é algo que você precisa planejar e aplicar com antecedência. Como previmos, o Rio Grande do Norte se tornou exportador de energia antes da Copa do Mundo”, comemorou.

Até agora, o estado só contava com 14 parques eólicos em operação, que geravam apenas 12% do potencial contratado, estimado em 3,4 GW. Os 27 parques do Mato Grande que terão suas linhas de transmissão energizadas resultam dos leilões de geração de 2009, 2010 e 2011. Juntos aos novos parques, o total de produção e escoamento de energia do estado sobe para 1,1 GW, deixando para trás os estados da Bahia e do Ceará. Apesar de sempre ter abrigado o maior potencial eólico do país, sendo detentor de 31% de todo o potencial contratado nos leilões federais, o estado ainda perdia para o Ceará em termos que produção – os vizinhos lideravam nacionalmente, com 691 MW gerados.

De acordo com o diretor de energia eólica do Cerne, Milton Pinto,a previsão é que os parques se conectem aos poucos, mas a energia gerada poderá dar suporte ao sistema nacional de energia, que tem sofrido com a falta chuvas e o desabastecimento das hidrelétricas.

“Esse suporte (das eólicas) é muito importante nesse momento de chuvas escassas, pois funciona como um complemento ao sistema de energia. É uma energia bem mais barata do que a termoelétrica,por exemplo”, salienta.

O coordenador de desenvolvimento energético do estado segue a mesma linha. “Não podemos dizer que vá solucionar a falta de energia, mas cada megawatt a mais é uma ajuda ao sistema”,diz José Mário Gurgel. Ele afirma,ainda, que o custo de produção do megawatt em uma eólica é bem mais barato do que em uma térmica: na primeira, o MW/hora custa, em média, R$ 120, enquanto que, nas térmicas, custam de R$200 a R$ 1 mil. “As térmicas, que dependem dos combustíveis fósseis,como petróleo e carvão, têm um custo maior com a produção.”

A Sedec estima que 80% dos137 projetos eólicos contratados no estado estarão prontos até2016. A produção total 137 parques,avaliada em 3,47 GW, deve ser totalmente escoada até 2018.O secretário estadual de desenvolvimento econômico, Sílvio Torquato,está confiante. “Os parques que começam a funcionar agora são de fundamental importância para o sistema elétrico que está deficitário. O que temos que fazer agora é agilizar as demais linhas de transmissão e cobrar da Chesf ”, avalia.

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