Os desafios para diversificar a matriz exportadora do RN

29 de janeiro de 2013

Notícia publicada no caderno Economia do Novo Jornal:

A queda da balança comercial no Rio Grande do Norte é analisada como um fenômeno nacional por quem atua na área. Apesar disso, representantes do setor primário lamentaram o impacto da pior seca dos últimos 40 anos na economia do Estado e apresentam alternativas para amenizar as perdas. Na edição de domingo, o NOVO JORNAL mostrou que a exportação no RN fechou o ano registrando queda de 7%. Os principais produtos afetados foram a castanha de caju e o mel de abelha. Juntos, a redução nas exportações desses dois itens fez o estado perder 20 milhões de dólares.

Crescimento na geração e exportação de energia beneficiou balança comercial do RN. (Foto: riograndedonorte.net)

Crescimento na geração e exportação de energia beneficiou balança comercial do RN. (Foto: riograndedonorte.net)

Por conta do prejuízo, o governo informou que trabalha para que diversificar a atual matriz exportadora do Rio Grande do Norte, que deixaria de ter apenas produtos primários, como as frutas irrigadas, para contar, por exemplo, com a energia eólica, um produto terciário. Ao contrário da agricultura, a energia eólica registrou aumento de 490% no volume exportado em 2012.

O presidente da Federação dos Agricultores do Rio Grande do Norte, José Alvarez Vieira, estima em 30% a redução na quantidade de castanha de caju produzida em 2012. Para ele, o Governo do Estado precisa investir em irrigação, caso contrário, vai continuar sentindo de maneira forte os efeitos da seca. “Acredito que perdemos mais de 30% da produção da castanha. O estado precisa colocar em prática projetos de irrigação. A agricultura do semiárido só acontece através de irrigação”, diz.

Ele também cobra do poder público projetos voltados para a geração de emprego, produção e renda. “O governo não tem que se preocupar com a produção familiar, mas de emprego e renda. Tem que fazer projetos de irrigação, oferecendo financiamentos a custo baixo de equipamento de irrigação para pequenos produtores também”, reivindica antes de lembrar que o estímulo à produção de palma é outra necessidade do setor. “A palma é o alimento que mais se adequa à alimentação animal para período de seca. Então é preciso investir”, cobra.

Como presidente da Federação dos Agricultores, Alvarez estima em mais de 1.500 o número de empregos perdidos em 2012. E cita como mais um prejuízo a transferência de parte da produção da empresa Agrícola Famosa para o Ceará. “Houve um grande impacto nos nossos poços, que não foram recompostos porque como não choveu também não houve o abastecimento do lençol freático. A Agrícola Famosa, uma das maiores empresas do Brasil, vai transferir 30% da produção de melão para o Ceará, onde a agricultura é irrigada”, analisou.

Têxtil
Outro segmento que sentiu os efeitos da queda da balança comercial no Estado foi o têxtil. O presidente do sindicato dos Têxteis, João Lima, contemporizou e disse que o problema é nacional. Para ele, foi o Brasil todo que perdeu competitividade. “O Brasil perdeu competitividade no ramo dos manufaturados, no custo de energia e no custo de logística. A burocracia é outro problema”, disse antes de afirmar que o governo tem tentado reverter a situação. “O governo deu passos no sentido correto. A desoneração das folhas de pagamento de alguns setores, inclusive o nosso, a redução do custo de energia elétrica, tudo isso foi muito positivo. Mas ainda precisa mais”, contou.

O NOVO JORNAL procurou o presidente da Fiern, Amaro Sales, para comentar a queda da balança comercial do estado. Porém, a assessoria de comunicação da instituição afirmou que ele estava no Ceará e tentaria o contato, o que não aconteceu até o fechamento desta edição.

Economista vê fruticultura como matriz consolidada

A possibilidade de o Estado mudar a matriz exportadora da fruticultura para a energia eólica por conta dos prejuízos dos últimos anos deixou o economista do IBGE, Aldemir Freire, intrigado. Na edição de domingo passado, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Rogério Marinho, afirmou ser possível o estado – que já exporta para os países do Mercosul – passar a exportar energia para o restante do Brasil. Questionado sobre a medida, ele afirmou que não tinha nem ideia de como o governo colocaria o projeto em prática. “Não sei nem como é isso. Não imagino como isso pode ser feito. Nós somos fruticultura. Quase metade das nossas exportações vem da fruticultura. Já fomos o segundo maior exportador de frutas do país, hoje somos o quarto. A gente tem vocação para isso, competitividade nessa área. Não estou dizendo que não devemos diversificar. Só acho que devemos ter um tratamento mais relevante com a fruticultura”, afirmou.

Almir também é pessimista em relação à retomada da produção de castanha no Rio Grande do Norte. Segundo ele, ainda por conta da seca, até outubro o produto não deve voltar ao mercado de exportações. “O impacto da seca nas exportações da castanha vai afetar 2013 também porque até outubro desse ano não vai ter castanha. A safra acontecia entre outubro e novembro, o impacto da seca continuará”, disse.

O economista também diverge do governo estadual quando o assunto é o montante total do prejuízo provocado pela seca no Rio Grande do Norte. Enquanto o estado divulga R$ 5 bilhões, nas contas do especialista do IBGE os valores não chegam a 20% disso. “Não chega a R$ 1 bilhão, está perto de R$ 700 milhões. Se agropecuária acabasse todinha por causa da seca não dava R$ 2 bilhões o prejuízo. A seca tem mais o drama social que o econômico”, revela o economista que explica que o IBGE está fazendo um levantamento sobre o impacto da seca no rebanho potiguar. “Saiu um monte de estimativa sobre os prejuízos na pecuária, mas estamos fazendo um levantamento, estudo de campo, que deverá ser divulgado no segundo semestre de 2013”, afirmou.

Agrícola quer mudar para o Vale do Açu

A ameaça de transferência de parte da Agrícola Famosa, uma das maiores produtoras de melão do país, para o Ceará, por conta da seca, pode não se concretizar. O presidente da empresa, Luiz Roberto Barcelos, tem uma reunião agendada hoje com o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Rogério Marinho. A ideia é levar a produção para o Vale do Açu. Isso porque em Mossoró, onde é sediada, a água para irrigação vem de poços, que também perdem volume por causa da seca e, como não é possível ver o nível da água, o planejamento da empresa fica prejudicado. Barcelos estima que o prejuízo da produção esteja avaliado em R$ 30 milhões. “Hoje, na nossa produção aqui no Estado, a água das chuvas abastecem os poços, que abastecem o aquífero. Como choveu pouco, não tinha condição. No Ceará eles tem um canal de irrigação que vem de rios e o abastecimento de água é de boa qualidade. Você vê água no reservatório e dá para planejar o plantio. Nos poços não é possível ver nada”, disse.

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