Parque das Dunas é sufocado entre o mar e o crescimento urbano

7 de julho de 2014

Confira na Tribuna do Norte:

Nadjara Martins
Repórter

Se observada dos céus, a imponência verdedo Parque das Dunas, segunda maior reserva ambiental do Brasil, está cercada: de um lado pela expansão imobiliária, que cria, aos poucos, uma “cortina de prédios” nos bairros de Petrópolis e Tirol. Do outro, pela ocupação irregular do solo nos bairros de Mãe Luiza e Nova Descoberta. Aos 36 anos, mais uma cerca se aproxima: a construção da via expressa da Avenida Roberto Freire, que prevê a desafetação de 4,5 hectares do parque. 

Hoje, não é possível sequer dizer qual a área atual da reserva, reconhecida pela Unesco como posto avançado de reserva da mata atlântica e patrimônio mundial da humanidade. O único levantamento da extensão da mata atlântica preservada foi feita em 1989, na elaboração do primeiro – e único – plano de manejo do parque.   O documento delimita as áreas da reserva e permite as áreas permitidas para ocupação. Previsto para ser revisado a cada cinco anos, o projeto do novo plano ainda aguarda na gaveta do Instituto de Desenvolvimento do Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema).

“Estamos recebendo recursos de uma compensação ambiental para refazer esse plano de manejo e recompôr o comitê gestor do parque”, garante o diretor geral do Idema, Jamir Fernandes, mas não informou qual data para o novo estudo. Segundo ele, o custo de um novo plano chega a R$ 500 mil.

Ampliação da Roberto Freire prevê a desafetação de 4,5 hectares. (Foto: Joana Lima)

Ampliação da Roberto Freire prevê a desafetação de 4,5 hectares. (Foto: Joana Lima)

Na primeira vez em que foi cercado, em 1977, ano da criação, o parque possuía 1.350 hectares. Na época, já era identificada a ocupação ilegal das áreas de encosta, principalmente pelo bairro de Mãe Luiza – até então uma favela. No levantamento feito em 1989, só foram registrados 1.172 hectares.

A discrepância, segundo a atual administradora do parque, a bióloga Mary Sorage, pode ter significado perda de área para ocupação humana – ou não. “Pode ter significado perda, mas eu acredito que era só uma diferença que tínhamos em termos de tecnologia. Era questão de equipamentos. Eu acredito que o contorno não mudou”, afirma.

Entretanto, a pressão para uso das áreas que contornam o parque é latente. Na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) tramitavam, até a última quinta-feira (3), 429 processos para reforma ou novas construções a um raio de um quilômetro da área do parque. Somente dos quatro bairros que contornam a reserva – Tirol, Mãe Luiza, Nova Descoberta e Petrópolis – são 185.

De acordo com ambientalistas e especialistas em urbanismo, a falta de informações atuais sobre o estado do parque aliado à pressão pela ocupação preocupam.

“Já é um problema termos espaços de preservação ambiental fragmentados, então qualquer tipo de intervenção pode trazer um impacto no parque a longo prazo, principalmente na preservação dos genes das espécies”, afirma a arquiteta e urbanista Rosa Pinheiro, especialista em gestão ambiental. “A área protegida é como o coração da mata”, emenda.

Insegurança


De acordo com o major Carlos Leão, comandante da Companhia Independente de Proteção Ambiental da Polícia Militar (Cipam), houve uma redução de 85% nas ocupações irregulares no parque desde a reinauguração, em 1999. 

“O parque é uma barreira natural entre a cidade e a via costeira, mas não temos como controlar todas as pessoas. O que fazemos diariamente é o monitoramento das trilhas”, defende Leão. Somente na semana passada foram apreendidas três armas em Mãe Luiza, próxima a área do morro. Existem três trilhas de acesso público e outras dez de uso da PM. 

No morro, assim como na Via Costeira, não existe mais barreira física para conter o acesso da população. Na Dinarte Mariz, toda a estrutura de ferro e concreto foi corroída pela maresia. O Idema ainda está elaborando um novo projeto de cerca-viva, que resista às intempéries.

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