Daniel Turíbio

Daniel Turíbio é jornalista da agência Smartpublishing Mídias em Rede. Já trabalhou com mídia impressa, rádio e assessoria de comunicação. Reside em Natal/RN.

Pesca em águas profundas vira tema estratégico no RN

29 de outubro de 2012

Notícia publicada no caderno de economia do Jornal de Hoje:

Com uma impressionante média para os padrões brasileiros de 2.700 quilos de peixes capturados por barco/dia, a Atlântico Tuna, empresa potiguar que desde abril do ano passado desenvolve um projeto de prospecção de atuns em águas profundas com tecnologia japonesa, volta seu foco agora para renovar seu acordo com a parceira Japan Tuna em 2013. Isso acontece no momento em que o Governo Federal anuncia o Plano Safra da Pesca, com investimentos de R$ 4,1 bilhões para a modernização da atividade e o fortalecimento da indústria e do comércio pesqueiro.

Foto: revistadinheirorural.terra.com.br

Hoje, o presidente da Atlântico Tuna, Gabriel Calzavara, disse que a empresa trabalha nas duas frentes: renovar o acordo com os japoneses e mostrar ao governo brasileiro a relevância de assegurar seus espaço na pesca de atuns, de forma sustentável, em águas profundas, no momento em que cotas internacionais de pesca são reavaliadas; e, ao mesmo tempo, assegurar a renovação do acordo com os japoneses, vencendo barreiras como deficiências de mão-de-obra especializada.

As declarações feitas pela presidenta Dilma Rousseff esta semana, por ocasião do lançamento do Plano Safra da pesca, animou os empresários e as comunidades de pescadores. Ela reiterou o objetivo do Governo Federal transformar o imenso potencial pesqueiro do Brasil em atividade econômica competitiva e lucrativa, tirando o país da condição de importador para a de exportador de pescados.

Para atingir a ambição presidencial de transformar o país numa potência pesqueira, a exemplo de nações muito menores e até sem qualquer tradição marítima, há um longo caminho pela frente. Ele passa, segundo Gabriel Calzavara, pela assimilação da tecnologia japonesa, cujo interesse é vender barcos para o Brasil.

“No outro lado do Atlântico, no continente africano, essa mesma corrida já começou e não podemos perder mais um minuto”, alertou. “Estão em jogo aqui pelo menos 500 mil toneladas/ano e a frota brasileira com espinhel captura hoje 5% disso (25 mil toneladas)”, lembrou.

O presidente da Atlântico Tuna, que recentemente enfrentou problemas para enviar o atum pescado por causa de uma greve dos fiscais do Ministério da Agricultura no Porto de Natal, qualificou de um contra-senso monumental a Brasil estar perdendo essa corrida diante do que representa sua área costeira e Zona Costeira Exclusiva (4 milhões de quilômetros quadrados) no Atlântico. Disse, ainda, que das 273 mil toneladas/ano de captura sustentável possível das albacoras branca, laje e bandolim – foco do projeto em parceria com os japoneses -, o Brasil capturou, em 2010, cerca de 4.000 toneladas, menos de 2%. A frota do Rio Grande do Norte foi responsável por 80% dessas capturas. “Basta fazermos o dever de casa, termos ambição de crescimento, trabalhar para formar mão-de-obra e concluirmos o terminal pesqueiro para criarmos todas as condições necessárias”, afirmou o empresário.

Segundo ele, a utilização do método de pesca japonês representa um salto tecnológico na captura dos atuns, assegurando maior competitividade à frota atuneira brasileira. “Alem de ser mais seletivo nas capturas, aumentando a rentabilidade delas, o processamento a bardo e o congelamento a  menos 60 graus, permite que a comercialização do pescado possa se desenvolver de forma mas planejada pelo produtor”, lembrou.

Atualmente, o método utilizado pela frota nacional, importada dos espanhóis e americanos, pescadores de Espadarte ( Meka), restringe as operações de pesca a profundidades de ate 80 a 100 metros, profundidade onde está o espadarte, ao contrario do espinhel japonês que trabalha a 180 e 380 metros, região onde estão os atuns.

Segundo Gabriel Calzavara, hoje, 75% da pesca oceânica é de atum para o milionário mercado do sushi e sashimi e 5% de meca, um pescado para o qual já há expertise local na captura por  se encontrar em águas bem menos profundas. Mesmo assim, ele lembra, pesqueiros locais, por ocasião de lua cheia, conseguem capturar atuns, mas em temporadas curtíssimas, ao passo que em águas profundas o ciclo migratório é constante e nesta estão os exemplares maiores.

Outro diferencial está nas vantagens de aumento da produtividade dos barcos usando a tecnologia japonesa de pesca ao contrário da usualmente utilizadas pelos brasileiros de origem americana e espanhola. Neste ponto, a diferença é dramática, pois comparando os números de uma e outra é possível perceber a gigantesca diferença. Num período de seis anos, o número de lançamentos de espinheis por uma embarcação com tecnologia convencional chegou a 1.870, enquanto com um barco com tecnologia brasileira o número de lançamentos chegou a 2.700 em apenas um ano e meio.

Calzavara lembrou que é preciso preparar melhor o Porto de Natal para receber esse tipo de operação. Toda vez que os berços estão ocupados com os porta-contêineres que fazem a safra de frutas e outros produtos e quando isso coincide com a chegada de barcos pesqueiros, estes têm que esperar para desembarcar. Se a carga for de atum, o custo aumenta porque os containeres próprios para esse tipo de carga – refrigerado a menos 60 graus – são trazidos por Porto de Pecém, no Ceará, provocando uma despesa adicional de R$ 4 mil por contêiner. Considerando que um barco utiliza cerca de 8 contêineres por desembarque, são R$ 32.000,00 por desembarque, só de transporte de contêiner.

Uma das preocupações de Calzavara é saber como poderão ocorrer as operações de atuns no Porto de Natal se ao invés de quatro barcos desembarcando forem 30 ou 40. “Os sócios japoneses já me perguntaram por que não fazer tudo por Pecém, mas eu insisto com eles que no Rio Grande do Norte já temos uma cultura pesqueira oceânica estabelecida e, por isso, mesmo temos todos os fornecedores de que precisamos aqui”, argumenta.

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