Pesquisa realizada no RN esclarece a origem da esquizofrenia

10 de novembro de 2014

do riograndedonorte.net:

Analisar transtornos psiquiátricos com base nos neurônios do intestino da lagosta pode parecer algo surreal, mas essa foi a metodologia escolhida por pesquisadores do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com o Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para mostrar que a origem de transtornos psiquiátricos não está atrelada a alterações biológicas únicas e que o diagnóstico ainda necessita da análise de sintomas.

O trabalho de Rodrigo Pavão, Adriano Bretanha Lopes Tort e Olavo Bohrer Amaral, que foi publicado na revista Schizophrenia Bulletin, utilizou modelos computacionais desenvolvidos em laboratórios que simulam sintomas da esquizofrenia em redes de neurônios artificiais. Os cientistas realizaram simulações, gerando milhares de redes neuronais, por meio de variações dos componentes dos circuitos. Após isso, examinaram o funcionamento das combinações para avaliar se havia sintomas semelhantes aos da esquizofrenia.

“O estudo feito pela pesquisadora Eve Marder – da Universidade de Brandeis, localizada em Boston nos Estados Unidos -, demonstrando múltiplos modelos computacionais capazes de gerar o padrão de contração rítmica no intestino de lagosta, inspirou o nosso artigo para confirmar que múltiplos modelos computacionais podem gerar características esquizofrênicas”, explica Rodrigo Pavão.

A ideia de aplicar essa abordagem foi concebida por Olavo Amaral quando assistia a uma palestra, que apresentou achados da neurocientista americana. Pavão conta que o evento aconteceu em 2010, no Escola Latino-americana de Neurociência Computacional (LASCON), quando ele e Olavo eram alunos e o professor Adriano Tort era palestrante.

A colaboração inicial foi entre Olavo (UFRJ) e Adriano (UFRN), com o primeiro contribuindo principalmente para a fundamentação em Psiquiatria e o segundo com a Neurociência computacional. Em seguida, Rodrigo (UFRN) entrou no projeto, fazendo o planejamento e execução experimental do projeto, rodando em computadores as simulações e organizando os resultados.

Pesquisador Rodrigo Pavão fez o planejamento e execução experimental do projeto, rodando em computadores as simulações e organizando resultados. (Foto: Anastacia Vaz)

Pesquisador Rodrigo Pavão fez o planejamento e execução experimental do projeto, rodando em computadores as simulações e organizando resultados. (Foto: Anastacia Vaz)

A conclusão da pesquisa foi que, além de observar as mesmas alterações relatadas em outros trabalhos, também foram geradas mais de uma centena de combinações diferentes de alterações. Com base nessas análises, nenhum dos componentes utilizados para construir o circuito neuronal foi capaz de predizer isoladamente a ocorrência dos sintomas relacionados à doença. Pelo contrário, eles parecem ser fruto da interação entre muitos fatores que atuam em conjunto.

O estudo reforça a complexidade dos transtornos psiquiátricos, mostrando que um conjunto de sintomas pode ser fruto de dezenas ou centenas de causas diferentes em nível de genes e moléculas. Também é possível que uma mesma alteração genética possa levar a sintomas distintos em pacientes diferentes, de acordo com fatores ambientais e culturais.

“Os diagnósticos atuais em Psiquiatria foram originalmente criados para agrupar pacientes com sintomas semelhantes. No entanto, nada garante que essas doenças, definidas a partir de sintomas, possuam causas biológicas únicas”, esclarece Olavo Amaral.

Segundo Pavão, a esquizofrenia tem se mostrado uma doença com bases biológicas múltiplas, que em conjunto definem padrões de atividade neural associados à doença. “Nosso trabalho evidencia que a compreensão das bases biológicas da esquizofrenia é uma tarefa complexa, uma vez que não se restringe à presença de um ou dois genes deflagradores da doença”, conclui.

Para os estudiosos, os resultados são um “balde de água fria” na ideia de que a Psiquiatria será capaz de substituir o diagnóstico baseado em sintomas por métodos objetivos, como testes bioquímicos, análises genéticas ou exames de imagem. No entanto, eles também afirmam que outras maneiras de diagnóstico são possíveis.

Estudo reforça a complexidade dos transtornos psiquiátricos, mostrando que um conjunto de sintomas pode ser fruto de dezenas ou centenas de causas diferentes em nível de genes e moléculas.

Estudo reforça a complexidade dos transtornos psiquiátricos, mostrando que um conjunto de sintomas pode ser fruto de dezenas ou centenas de causas diferentes em nível de genes e moléculas.

Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença caracterizada tanto pela presença de alucinações e delírios quanto pela depressão e declínio cognitivo ou apatia. Acredita-se que tenha base genética e ambiental e que esteja associada a mudanças químicas e estruturais do cérebro. “Não há convicção sobre o que causa a doença, que é definida como multifatorial, algo reforçado pelo nosso estudo”, enfatiza Pavão.

O tratamento farmacológico é geralmente feito por administração de antipsicóticos e é oferecido com suporte psicológico e social. Cerca de 0,5% da população mundial desenvolve a doença com pequena variação entre os países. Na maioria dos casos, a doença se expressa no fim da adolescência e início da vida adulta. É mais frequente, aparecer mais cedo e é mais grave em homens do que em mulheres.

Com informações da Agecom UFRN

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