Praças esportivas de Natal sofrem com o descaso

19 de novembro de 2012

Notíia publicada no caderno Esportes da Tribuna do Norte:

Uma pesquisa realizada no mês de outubro, entre os jovens de todas as regiões do Brasil, revelou dados interessantes para os gestores públicos, principalmente no Nordeste. Dos mais 1.500 entrevistados, entre 13 e 17 anos, apontaram que a nossa região é a que mais se pratica alguma modalidade esportiva em todo país. A média nacional é de que 68% dos jovens são atletas, enquanto no Nordeste, esse número sobe para 74%. Para se ter um comparativo entra regiões consideradas mais desenvolvidas e exemplo de investimento no esporte, como Sul e Sudeste, esses locais tem como média, 67% e 66%, respectivamente. Números que poderiam fazer com que os governos investissem mais na área esportiva, já que o Brasil vai receber, nos próximos anos, os dois maiores eventos do esporte do mundo: a Copa, em 2014 e os Jogos Olímpicos, em 2016.

O Palácio dos Esportes está entregue ao descaso do poder público. O lixo e a vegetação alta tomam conta da entrada do local, que não recebe mais jogos. (Foto: Alex Régis)

Mas, não é o se vê na realidade. Em outro item da pesquisa realizada pelo Instituo Olimpikus, 38% dos entrevistados, revelaram que não praticam esportes porque no seu bairro, cidade ou escola, não tem local adequando para a prática ou não possui a modalidade que ele deseja participar. Trazendo essa realidade para Natal, capital do Estado, com mais de 800 mil habitantes e que vai ser uma das sedes da próxima Copa do Mundo, é fácil perceber porque os jovens daqui não conseguem se destacar no esporte.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE percorreu algumas das principais praças esportivas da cidade e o que se pôde notar é que a falta de atenção do poder público fez com que esses locais ficassem todo ou parcialmente destruídos. É o caso do ginásio poliesportivo Marcelo Carvalho, mais conhecido como DED, que fica em Candelária. Até bem pouco tempo atrás, ele era ponto de encontro dos times de futsal, principalmente nas disputas dos Jogos Escolares do Rio Grande do Norte, os Jern’s. Hoje em dia, não passa de um local abandonado, que só é usado como posto policial, na época do Carnatal, micareta que acontece todo mês de dezembro, em Natal.

A quadra está em péssimas condições, assim como os banheiros e vestiários. A cobertura do ginásio da candelária apresenta  falta de telhas e limpeza do local é precária. Dos 24 refletores para fazer a iluminação interna do DED, apenas quatro ainda estão funcionando. Os demais estão queimados. Na parte de fora, a vegetação tomou conta do local e os postes de energias estão quebrados. Na escuridão, a segurança é zero. “Ainda bem que o pessoal do posto de gasolina colocou um refletor direcionado para cá, para iluminar um pouco o local. Se não tivesse, seria uma escuridão total, de noite”, revela um funcionário da empresa contratada para coordenar o ginásio, que preferiu não se identificar.

Esse mesmo funcionário revela, também, que faz mais de três anos que aconteceu a última partida oficial de futsal no local. Hoje em dia, a quadra é “alugada”, nos finais de semana, para grupos de amigos que queiram praticar futsal no local. “O coordenador liberou para que a gente alugasse e pudesse tirar o dinheiro para limpeza do ginásio. A gente cobra R$ 35 por duas horas de jogo. Tem horário todo final de semana, mas, só até às cinco horas da tarde, porque não tem iluminação na quadra”, afirmou o funcionário.

O Palácio dos Esportes, outra praça esportiva, que fica localizada no Centro da cidade, já teve seus tempos áureos, principalmente nas décadas de 80 e 90, quando os grandes jogos de futsal, vôlei e também luta livre, eram realizados ali. Hoje em dia, por falta de estrutura, o espaço recebe apenas alguns jogos dos Jern’s.

Mas, a situação mais preocupante é a do CAIC. O Centro de Atenção Integrada à Criança, surgiu na década de 90, para oferecer aos estudantes da rede pública de ensino, um local onde os alunos pudessem estudar e praticar esportes de qualidade. Mas, o que se vê é um local de contrastes. De um lado, uma pista de atletismo que é considerada a melhor do Estado, graças a uma parceria da Federação Norte-riograndense de Atletismo, que funciona no próprio CAIC e a Caixa Econômica Federal, que é responsável pela manutenção da pista. É lá que dezenas de pessoas praticam suas caminhas e também treinam o atletismo.

Mas, é só cruzar a grade que separa a pista do restante do CAIC para se ter uma choque de realidade: os dois ginásios cobertos do local estão em situações preocupantes, sem a manutenção adequada. As quadras descobertas estão completamente abandonadas, sem tabelas de basquete, traves de futebol ou redes de vôlei. Os campos de futebol de areia praticamente não existem mais. E a piscina olímpica, que foi construída no CAIC, serve, atualmente, apenas como depósito de lixo e possível foco de proliferação do mosquito transmissor da dengue, já que existe água parada, sem tratamento, na piscina.

Outro ponto que servia como praça esportiva em Natal era a pista de skate no bairro Cidade da Esperança, na zona oeste da cidade. A atual prefeitura demoliu o local para a construção de Unidade de Pronto Atendimento Médico (UPA), prometendo construir outra pista no bairro. Mas, até agora, a promessa ainda não se realizou.

Shopping  “adota” praça em Lagoa Seca

A quadra das Rocas está abandonada. As telas de proteção foram destruídas e seguem sem reparo. (Foto: Magnus Nascimento)

Se o poder público pouco investe no esporte, cabe a iniciativa privada fazer esse investimento. A quadra poliesportiva que fica localizada na avenida Romualdo Galvão, em Lagoa Seca, vizinho ao shopping Midway, foi toda revitalizada pelo próprio empreendimento, para oferecer aos moradores da região, uma praça esportiva adequada. O piso foi restaurado, assim como as grades de proteção, para evitar que as bolas atinjam os carros que passam na rua. Além disso, foi instalada uma cobertura, para que os usuários possam utilizar o espaço sem se preocupar com chuva ou sol. Mas, os jovens e adolescentes que queiram fazer uso da quadra, devem seguir algumas regras, para manter o local em ordem.

Um morador do local foi escolhido pela administração do shopping para ficar responsável pela quadra. Ele tem a chave que abre o portão para que os adolescentes possam utilizá-la. Mas, tudo com hora marcada e horário de funcionamento. Começa às 8h da manhã e vai até às 21h. sem tolerância. Quando é preciso fazer algum reparo na quadra, o responsável solicita, via ofício, verba ao shopping que analisa a proposta e libera, ou não o pedido.

A prefeitura de Natal também investiu para promover qualidade de vida a população da cidade. Se não por meio da recuperação das quadras espalhadas pelos bairros, a administração resolveu instalar academias da terceira idade, que vem sendo bastante utilizadas por pessoas das mais diversas faixas etárias. Ao todo já são 26 academias nos bairros de Natal, como Mirassol, Candelária, Tirol, Conjunto Pirangi e Rocas. Quase todas contam com profissionais de educação física para orientar os usuários nos exercícios.

“Nosso objetivo é contribuir para o bem estar das famílias de Natal incluída em estudos como uma das cidades mais sedentárias do país”, esclareceu o secretário de Serviços Urbanos, Luís Antônio Lopes, na época da  inauguração, no mês passado, de mais cinco academias da terceira idade.

Codesp revela que tem projetos para o esporte

Além das praças e quadras públicas, que estão em péssimos estados, as escolas sofrem também sem espaço para a prática esportiva adequada. De acordo com Osvaldo Neto, titular da Codesp, Coordenadoria de Desportos do Rio Grande do Norte, subordinada a Secretaria Estadual de Educação, os pedidos para a construção de quadras nas escolas de todo o Estado, chegam quase que diariamente, mostrando que os alunos querem praticar esporte, mas, por falta de incentivo, acabam desistindo. “O que podemos notar é que o desporto no Rio Grande do Norte é quase todo escolar e por isso precisamos, sempre, melhorar o que não está bom. Recebemos vários pedidos de reforma e construção de quadras nas escolas, mas, tudo depende do nosso orçamento, que não é muito grande”, revela o coordenador da Codesp.

Osvaldo Neto é o responsável pela coordenação da Codesp. (Foto: Magnus Nscimento)

Mesmo com o problema de pouca verba, a coordenadoria de desportos afirmou que já foi autorizado a liberação de recursos para as obras de construção de 30 quadras poliesportivas em algumas escolas do Rio Grande do Norte, que devem se iniciar ainda este ano, para serem entregues no início do ano letivo de 2013.

Esse projeto foi idealizado no Plano de Ação Articulada, que, entre outras ações, está na revitalização do Ginásio Marcelo Carvalho, o DED. Para Osvaldo Neto, o importante é fazer um projeto sério para a recuperação da praça esportiva de Candelária, sob pena de “jogar dinheiro fora”, segundo o responsável pela Codesp. “Sem querer colocar culpa em ninguém ,mas está claro que o problema do DED foi uma falta de continuidade de gestão. Não poderiam deixar a situação do  ginásio chegar ao ponto que se chegou. Ou seja faz um projeto sério, de revitalização do DED, ou vai ser apenas dinheiro jogado fora. Nada mais que isso”, afirmou Osvaldo.

Além do ginásio em Candelária, outra praça esportiva está nos planos da Codesp para ser revitalizada: o CAIC. “Nesse ano, conseguimos alojar os atletas que vieram do interior, para disputar os Jern´s, na Pousada do Atleta, que está bem melhor estruturada. As duas quadras cobertas que temos no CAIC, também receberam melhorias. É verdade que a piscina ainda precisa ser recuperada, mas, está nos nossos planos”, disse Neto, adiantando, também, que em 2013, o local vai abrir suas portas para escolinhas. “Já temos projeto para, a partir do próximo ano, começarmos com escolinhas de karatê, judô, dança, atletismo e vôlei”, afirmou.

Mas, para Osvaldo, a situação do esporte, de uma forma geral, só vai mudar no Rio Grande do Norte, quando todos os poderes se unirem para melhorar a situação. “Só a Codesp não tem como resolver essa situação. Se tem um problema no interior e o prefeito não consegue mandar os alunos para disputar os Jern´s, quem tem que  resolver somos nós. E não deveria ser assim. O que mais precisamos, nesse momento, é a união do Poder Executivo e também de outros poderes, para incentivar ao aluno a prática esportiva”, finalizou Osvaldo Neto.

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