Primeiro colégio particular de Natal fecha as portas este ano

5 de outubro de 2012

Deu no caderno de Cidade do Jornal de Hoje:

Um dos maiores e mais tradicionais colégios do Rio Grande do Norte está com data marcada para encerrar suas atividades educativas. O Governo Provincial das Doroteias, congregação da qual pertence o Colégio Imaculada Conceição (CIC), que tem 110 anos de fundação e foi o primeiro colégio particular de Natal, decidiu fechar as portas do CIC este ano, em virtude das dificuldades financeiras provenientes do alto índice de inadimplência. No entanto, os pais, alunos e ex-alunos, professores e funcionários não estão dispostos a acatar a decisão e já apresentaram inúmeras propostas para salvar a instituição de ensino e manter as portas abertas daquela escola que há anos é referência na qualidade de ensino. Apesar da alta inadimplência alegada pelas Doroteias, hoje o Colégio Imaculada Conceição não tem dívidas.

Apesar dos protestos, Doroteias decidem que as atividades do colégio serão encerradas este ano. (Foto: Heracles Dantas)

Na manhã desta quarta-feira (4), como forma de protesto, os alunos não assistiram aulas. Todos os alunos estavam com os rostos pintados, ao estilo dos ‘caras-pintadas’, com o diferencial de que as cores não eram verde e amarela e, sim, preto. Uma demonstração de luto pela forma arbitrária como está sendo decidido o rumo do CIC. Nas paredes das escolas, diversos cartazes expressavam o sentimento de luto, tristeza e indignação com a possibilidade de fechamento de uma escola que há 110 vem formando cidadãos potiguares.

Nesta terça-feira, toda a comunidade escolar, formada por funcionários, alunos e ex-alunos e professores, realizou diversas atividades para sensibilizar a Irmã Maria do Carmo Santos, coordenadora Provincial e a secretária Irmã Mariluce Moucour em revogar a decisão de fechar o Colégio Imaculada Conceição. Houve um abraço simbólico ao colégio, depoimentos emocionantes de pais, ex-alunos, professores, os atuais alunos pintaram os rostos com as cores do CIC, azul e branco, uma forma de homenagear a escola.

Contudo, todas as manifestações de carinho e amor à escola, não foram suficientes para comover e fazer as representantes do Governo Provincial das Doroteias, com sede em Recife, mudarem de opinião, já que elas têm autonomia de revogar esta decisão. A intransigência das irmãs fez com que pais e alunos saíssem da reunião indignados.

Em carta entregue aos pais, alunos, professores e funcionários do Colégio Imaculada Conceição, assinada pela Irmã Maria do Carmo Santos, diretora presidente da Mantenedora e Coordenadora Provincial, apesar de reconhecer os 110 de doação e de alegrias, ela diz que “de sacrifício também o será”. “Nos despedimos com saudade, mas conscientes do esforço que empreendemos para encontrar outra solução e que, infelizmente, tornou-se impossível”, disse Irmã Maria do Carmo Santos. A coordenadora provincial ainda relata que o Colégio Imaculada Conceição “continuava a sentir cada vez maiores as dificuldades advindas da inadimplência, afetando a matrícula de alunos a cada ano, motivo maior da nossa decisão de encerrar as atividades educativas do CIC”.

A atual diretora do CIC, Irmã Maria Cacho Belchior, conhecida apenas como Irmã Belchior, chegou à instituição há apenas seis meses. Ela conta que, caso permaneça a decisão de fechar o CIC, as irmãs que hoje se congregam e residem nas dependências da escola, serão transferidas. Irmã Belchior disse que ainda não tem nenhuma perspectiva do que será feito da estrutura do Colégio, mas a previsão é de que seja locado. Duas faculdades particulares já manifestaram interesse no prédio do CIC, mas ela não pode adiantar se a negociação está certa. Irmã Belchior confirmou que a taxa de inadimplência realmente é alta e, por mês, gira em torno de 25% a 30%. No entanto, no mês de setembro, essa taxa foi de 40%.

A escola que, anos atrás, no tempo áureo, já chegou a ter mais de três mil alunos, distribuídos em três turnos, hoje conta com pouco mais de 300 alunos, apenas no turno matutino. Há alguns anos foi fechado o Colégio Paula Francinette, que funcionava no CIC no turno noturno, com educação de magistério. Em seguida, encerrou-se o turno vespertino, por conta da pouca demanda de estudantes. Hoje, a escola, apesar das dificuldades, mantém as turmas do Ensino Infantil até o Pré-Vestibular, com 27 funcionários e 42 professores. Até 2010, o CIC tinha o dobro de funcionários.

Para a atual diretora Irmã Belchior, a crise no CIC começou no final de 2008, com a saída da Irmã Carmem Alves da direção do colégio. A gestora ficou à frente da direção por 37 anos e após a sua saída, no ano seguinte, as matrículas sofreram uma queda de 50%. “Em 2009, após a saída da Irmã Carmem Alves, 600 alunos saíram da escola”, disse Irmã Belchior. Após a saída de Irmã Carmem Alves, a Irmã Mércia assumiu a direção por três anos e há seis meses que a Irmã Belchior comanda o Colégio Imaculada Conceição.

Contra o fechamento

Professores, alunos e funcionários permanecem contrários à posição das Doroteias de fechar o Colégio Imaculada Conceição e pretendem ir até as ultimas instâncias para que esta decisão seja revista.  A professora de Educação Física Johy Silva Pereira, que trabalha na escola há 27 anos, disse que nesta sexta-feira (5), todos os alunos e funcionários irão para a escola vestidos de preto, como forma de protesto. “É dolorido, cruel e muito duro tudo isso que está acontecendo com nossa escola. Fico triste que mesmo com toda mobilização, nada comoveu as irmãs. Elas estão tão determinadas da decisão que estão irredutíveis, mas não iremos nos calar e nem nos acomodar diante situação”, disse a professora.

A professora de História, Adriana Moreira, também é contra o fechamento da escola e se mostra bastante triste com a situação. Ela conta que não estudou no CIC, mas sua família tem uma relação bem particular com o colégio. “Minha avó, minha bisavó e minha tataravó estudaram no CIC, esta por sinal fez parte da primeira turma do Colégio. Minha avó ficou muito triste com toda essa situação”, afirmou.

A coordenadora educacional do Ensino Fundamental, Jailca Medeiros conta que apesar da tristeza com a possibilidade real de fechamento do CIC, os professores irão honrar o calendário de 2012, com a mesma qualidade e o mesmo serviço que está sendo oferecido.

Ivânia Paulina da Silva tem 42 anos, destes 26 anos foram dedicados ao Colégio Imaculada Conceição. Desde os 16 anos ela trabalha no CIC como auxiliar de serviços gerais. “Minha vida está toda aqui. Estou arrasada com toda essa situação, pois não esperávamos isso. Irmã Belchior veio para nos dá uma esperança e agora fomos surpreendidos com essa notícia”, desabafou a funcionária.

As alunas Anna Luiza Pereira, do Pré-Vestibular, e Sarah Marizete, do 2º ano do Ensino Médio, são apenas duas dos inúmeros alunos que estão revoltados e tristes com a situação da escola do coração. “Queremos apenas mais um ano para poder, junto com toda a comunidade, salvarmos o colégio. Vários colégios já fecharam, mas queremos mostrar que o CIC não será mais um”, disse Sarah. “A nossa intenção é não parar o protesto. Vamos continuar todos os dias até que as irmãs nos escutem. Vamos protestar dentro da ordem, pois foi assim que recebemos a educação do CIC e vamos continuar fazendo a nossa parte como estudante. A família CIC é muito unida e nesse momento vai mostrar a sua força”, destacou Anna Luiza Pereira.

As alunas não conseguem mensurar os prejuízos causados com o fechamento do CIC. Anna Luiza explica que o Colégio Imaculada Conceição é o único colégio que recebe alunos com bolsas de mais de 20%. Além disso, ainda tem muitos alunos-atletas bolsistas. “Não fazemos ideia do que será próximo ano se o CIC não existir mais em nossas vidas”, disse. Os estudantes pretendem colocar os cartazes de protesto no muro de fora do colégio. “O CIC tem muito da história de Natal e a cidade precisa conhecer a nossa situação”, disse.

A assistente social Luciana Araújo destacou as implicações sociais que o fechamento do CIC poderá acarretar nos estudantes, pois, segundo ela, alguns bolsistas terão que estudar na rede municipal ou estadual de ensino a partir do próximo ano. É o caso de Ana Angélica que tem um filho estudando no CIC e que, caso perca a bolsa com o fechamento da escola, terá que colocar o filho em uma escola pública. “A questão social é o que mais me preocupa nesse momento, sem falar na perda da qualidade de ensino. A postura das Irmãs é contrária ao que todas as irmãs do CIC têm pregado ao longo destes anos”, afirmou.

Propostas

O professor de Língua Portuguesa, Marcos Bezerra, explicou as propostas apresentadas pela comunidade escolar como forma de salvar a escola da crise. Eles pedem que Governo Provincial das Doroteias revogue a decisão de fechar o CIC este ano e que os professores, funcionários e alunos possam ter mais um ano de atividade. Como forma de diminuir o índice de inadimplência, há a proposta de passar a cobrança de mensalidades em atraso para dentro da escola, que hoje é feito por uma empresa de assessoria contábil, como forma de humanizar a cobrança e reduzir os índices de inadimplência.

Além disso, outras propostas foram apresentadas como: parcerias com outras escolas menores para o ano letivo de 2013, locação de salas para cursos técnicos e cursos isolados, manter o nome CIC Doroteias Natal, resolver as situações trabalhistas pendentes e estabelecer uma meta de, pelo menos, 600 alunos para o próximo ano. “Cada proposta é um tijolo que vamos colocando para reerguer esta escola centenária”, afirmou o professor Marcos Bezerra. O professor disse também que até a próxima segunda-feira, dia 8, será aberta uma conta para que toda a comunidade natalense possa fazer doações para salvar a escola.

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