Programa leva educação para hospitais públicos em Natal

24 de novembro de 2014

Notícia publicada no Novo Jornal:

No Centro de Oncologia do Hospital Infantil Varela Santiago (COHI), a Classe Hospitalar é uma sala que faz brilhar os olhos de muitas crianças em tratamento de câncer. Mesmo algumas que estão muito debilitadas reencontram no espaço o elo de aprendizagem rompido com a escola regular por causa da internação.

Para evitar o rompimento do elo aluno/escola, a Lei Municipal nº 6.365, de 21 de agosto de 2012, regulamentou o Programa Classe Hospitalar, previsto pela Constituição. Essa lei determina a instalação de estrutura de ensino para crianças internadas em hospitais públicos e filantrópicos.

Camila, 8, paciente que espera um transplante de medula, foi alfabetizada pelo Classe Hospitalar do Varela Santiago e já tem um manuscrito de um livro que, inclusive, tem título: O cactus, a rosa e a margarida.

A menina esperta que desde os dois anos de idade freqüenta hospitais por causa de sua doença (leucemia), gosta de ler e escrever. Camila é aplicada e sempre que pode está na Classe Hospitalar, hábito que também faz os olhos da mãe, Maria das Graças Silva de Araújo Medeiros, 32, refletirem felicidade.

Maria das Graças mora em Florânia, região central potiguar, e praticamente se mudou para o hospital. Acompanha  Camila, que é paciente do Varela Santiago desde 2009. O tratamento começou em 2008, em Goiânia, e depois ela e o marido se mudaram para Florânia, terra dos pais de Maria.

A natureza exuberante de Florânia inspira Camila, que lê tudo que chega às suas mãos, mas não quis mostrar o manuscrito do livro. “Ela é rato da salinha”, exalta a mãe, que considera o Classe Hospitalar fundamental para o aprendizado das crianças internadas. “Aqui, elas ocupam a mente”, frisa Maria das Graças.

Classe Hospitalar do Hospital Infantil Varela Santiago funciona no Centro de Oncologia. (Foto: Argemiro Lima)

Classe Hospitalar do Hospital Infantil Varela Santiago funciona no Centro de Oncologia. (Foto: Argemiro Lima)

Maria Tereza Lemos, a professora, é entusiasmada com o Classe Hospitalar. Ela é servidora concursada do município e chegou ao programa indicada por uma amiga que não se adaptou por causa da perda de um aluno da oncologia e, por isso, desistiu.

Maria Tereza trabalhava no CMEI José Alves Sobrinho, no bairro Barro Vermelho, zona leste. A professora explica que, mesmo dentro de um hospital, o trabalho obedece à grade curricular oficial da educação básica (educação infantil e ensino fundamental).

“Garantimos a continuidade dos alunos internados”, ressalta Maria Tereza. No ambiente hospitalar, tudo é diferente. Os alunos têm que tomar remédios, fazer sessões de quimioterapia, ir para consultas médicas. Toda a rotina de procedimentos hospitalares é respeitada e a escola é que tem de se adaptar a isso, pondera.

O Classe Hospitalar é essencial para dar continuidade aos estudos das crianças que são internadas, profere a professora, principalmente, as da oncologia (com câncer), muitas vezes  obrigadas a passar períodos  longos no hospital.

As crianças são atendidas de acordo com o conteúdo da escola de origem. Quem não frequentava a escola é matriculada da mesma forma, mas os pais é que têm de autorizar a matrícula.

Em caso de a criança já ser matriculada na rede oficial, os pais têm de levar a grade curricular que as crianças estavam submetidas para adaptar o conteúdo à nova realidade delas.

Se os pais não levarem as atividades que os filhos desenvolviam nas escolas, os professores do programa aplicam o conteúdo de acordo com o currículo oficial.

O importante é a criança continuar ou se integrar ao processo de aprendizagem, assinala Maria Tereza, que resume três vertentes principais do programa: o olhar do professor sobre as necessidades da criança na aprendizagem; respeitar e deixar fluir o desejo da criança; atender às demandas do hospital.

Mesmo fora da sala de aula convencional, o trabalho de ensino e aprendizagem é o mesmo no Classe Hospitalar. São dois expedientes e atende a crianças de todas as idades. “Temos que respeitar o momento das crianças, a saúde e a questão da higiene”, diz a professora. Tudo é contextualizado a partir disso e até as aulas de matemáticas têm conteúdo lúdico, mas obedecendo ao currículo da Secretaria de Educação do Município.

Programa tem apoio pedagógico

O Programa Classe Hospitalar funciona em três hospitais de Natal para que as crianças não percam o vínculo com a escola enquanto estiverem internadas.

Nos hospitais infantis Varela Santiago e Maria Alice Fernandes e no setor de queimados e pediatria do Walfredo Gurgel, professores da rede municipal e estadual de ensino contribuem para que as crianças continuem no processo de aprendizagem mesmo fora das salas de aulas convencionais.

A assessora pedagógica do setor de Educação Especial do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação, Tereza Cristina Nóbrega Bezerra, explica que o Programa Classe Hospitalar se tornou obrigatório através da lei 6.365, de 21 de agosto de 2012, mas antes disso, em 2009, já era aplicado nesses hospitais cumprindo um preceito constitucional de garantia do direito da criança e do adolescente hospitalizados.

Sete professores concursados e especializados no ensino fundamental e educação infantil, da Secretaria Municipal de Educação, participam do programa. Eles são lotados em escolas de referências próximas aos hospitais onde trabalham. Todos recebem capacitação continuada como os demais professores da rede, além de qualificação específica para atendimento especial na rede de ensino.

As crianças são matriculadas na data-base do Censo Escolar do Município para que mesmo fora da escola formal, depois de receberem alta, possam retornam às escolas de origem sem prejuízo para sua aprendizagem, garantindo que não entrem na lista de alunos evadidos, frisa  Tereza Cristina Nóbrega Bezerra.

A proposta pedagógica, esclarece a assessora, obedece a  projetos e outras atividades relacionadas ao currículo das escolas de origem. São as secretarias de Educação que fornecem o material didático e mobiliário. É importante diferenciar que mesmo adotando atividades lúdicas, o Classe Hospitalar não é uma briquedoteca, explica a assessora da Secretaria de Educação Municipal.

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