Daniel Turíbio

Daniel Turíbio é jornalista da agência Smartpublishing Mídias em Rede. Já trabalhou com mídia impressa, rádio e assessoria de comunicação. Reside em Natal/RN.

Projeto leva arte até as praias de Natal

26 de março de 2013

Notícia publicada no caderno Cidades do Novo Jornal:

Levar experiências artísticas para lugares experimentais. É essa a intenção do projeto ArtePraia, que promove intervenções em quatro das praias mais frequentadas da capital potiguar. As inscrições começaram no último dia 02 de março e vão até a próxima terça-feira, 02 de abril. A previsão é de que pelo menos 50 artistas ou responsáveis por coletivos artísticos de todo o Brasil se inscrevam na edição, que oferece quatro prêmios de R$ 7 mil (valor líquido livre de impostos) para os vencedores.

Ideia é levar experiências artísticas para lugares experimentais. (Foto: plugcitarios.com)

Ideia é levar experiências artísticas para lugares experimentais. (Foto: plugcitarios.com)

A segunda edição do projeto ArtePraia, promovido pela Casa da Ribeira Educação & Cultura, acontecerá nos dias 10, 11e 12 de maio nas praias do Forte, do Meio, Redinha e em Ponta Negra. O projeto é financiado pelo 9º Programa Rede Nacional FUNARTE Artes Visuais, do Governo Federal, através do Ministério da Cultura.

Em sua primeira edição, realizada em dezembro de 2011, o ArtePraia contou com 47 inscrições de artistas e coletivos de todo o estado, e elegeu cinco vencedores. Diferente de 2011, neste ano o edital abrange projetos de todo o país e possibilita que os artistas se inscrevam apenas em uma proposta, dando espaço para outras ideias.

Ao todo, cinco artistas atuantes no Rio Grande do Norte foram selecionados na primeira edição: Chrystine Silva, com “Compre seu espaço na praia”; coletivo Lamparina do Mundo, com “Inviabilidade”; Coletivo PotiguART, com “#morrodocareca”; Jean Sartief, com “Mensagem para Você”; e Sofia Bauchwitz, com duas intervenções. “Ao Mar o que é do Mar” e “Ventemos!”. Além dos selecionados, houve também um artista convidado, Álvaro Paraguai, com a obra “Uma visão de tempo”.

Chrystine Silva, 25, foi uma das vencedoras do ano passado com o projeto “Compre seu espaço na praia”, realizado em Ponta Negra. Natural de São Paulo, ela conta que os pais moravam em Natal e ao passar as férias na cidade, sentia o clima de competitividade pelo espaço da região da Via Costeira, de onde tirou inspiração para realizar a intervenção.

A proposta era anunciar, junto aos ambulantes, com um aparelho de som, um pedaço da praia por apenas 50 centavos. Quando as pessoas realizavam a compra, eram convidados a deitar na areia e a artista pintava a marca deixada pelo corpo com spray de tinta guache azul, diluída em água. Para completar a obra, colocava uma pequena lousa no local, onde era escrito a mão a quem pertencia àquela propriedade.

Chrystine conta que o estilo da intervenção foi inspirado no trabalho da artista cubana Ana Mendieta, que começou uma serie de intervenções com a sua própria silhueta na década de 70. “Eu procurava não dizer que era artista para que as próprias pessoas refletissem e tirassem suas conclusões sobre a intervenção”, afirma.

Ela lembra ainda que pelo menos 20 pessoas “compraram” o terreno durante os três dias de intervenção. Alguns ambulantes ficaram incomodados com a popularidade da vendedora inusitada, pois chegavam a cobrar R$ 5 por hora pelo aluguel de cadeiras e mesas, enquanto potenciais clientes preferiam ficar na areia.

Ainda segundo a artista, esse é um dos poucos editais locais que valorizam a arte contemporânea e incentivam a efêmera, que se desfaz com a ação do tempo. Por isso todos os materiais usados nas intervenções não podem agredir o meio ambiente. No caso do “Compre seu espaço na praia”, os próprios quadros com o nome do dono do terreno eram doados para os compradores no final da intervenção.

Sofia Bauchwitz, 24, também participou do projeto, com duas intervenções: “Ao Mar o que é do Mar” e “Ventemos!”. A primeira, uma das suas experiências mais profundas, devolveu quase uma tonelada de sal para o mar. Foram utilizados 40 sacas de 25kg, trazidos diretamente de Areia Branca, a 330km de Natal. Sofia conta que após transportarem os sacos para a praia da Redinha, local onde aconteceu a intervenção, ela mesma abriu um a um com uma faca, e transportou o material em jarras até a beira do mar, fazendo uma linha fina em sua extensão.

“Interferir o espaço real e vivido diariamente de forma efêmera é quase uma redundância. Chequei meus referenciais visuais mais valiosos e minhas experiências mais sinceras e tive a ideia para Ao Mar o que é do Mar e Ventemos”, conta. Além do efeito visual da linha de sal, a intervenção era contemplativa, visto que a própria autora passou todo o dia observando o mar diluindo o material, que voltou para onde veio.

Antes de ser lançado o edital Arte Praia, Sofia tinha acabado de expor Passa-gens (Galeria Conviv-art) onde trabalhou a questão da paisagem que só existe pelo registro fotográfico. Mas somente no ArtePraia pôde trabalhar com o efêmero. “Foi a primeira vez em que o orgânico, o vivo, entrava para a minha história”, afirma a jovem, que hoje cursa mestrado em Investigação em Artes e Criação na Universidade Complutense de Madrid, na Espanha.

Intercâmbio entre artistas

Gustavo Wanderley, coordenador de projetos da Casa da Ribeira, afirma estar satisfeito com o resultado da edição anterior, e que os artistas potiguares atenderam a sua expectativa. A proposta de ampliação da atuação do projeto esse ano visa proporcionar um intercambio entre artistas brasileiros pensando em outros tipos de imagens sobre Natal. Para ele, o desafio dos artistas é traduzir as características do lugar em seu trabalho.

Por isso, para o coordenador, o candidato ao edital tem que entender bem a dinâmica de cada praia antes de inscrever o seu projeto. “Para ter uma boa ideia, o artista vai ter que investigar o horário de avanço do mar, o tipo de problema social que aquela praia sofre, o afastamento da população para uma área menos valorizada, etc”, explica.

Gustavo conta que a repercussão no Brasil sobre a primeira edição foi tanta que a Funarte apostou novamente no edital, e vários artistas de outros estados já confirmaram sua inscrição. Como convidado especial, estará presente na edição o gaúcho Fernando Limberguer, que faz intervenções com areias coloridas. Fernando deve expor seu trabalho durante os dias do evento, na Praia da Redinha.

Os artistas escolhidos devem ainda expor seus resíduos e imagens da intervenção na sala Arte Contemporânea da Casa da Ribeira. O edital, que é o décimo terceiro realizado pela instituição, está disponível na íntegra em seu endereço eletrônico: www.casadaribeira.com.br/artepraia.

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