Projetos para Natal que não saíram do papel

27 de agosto de 2012

Deu no caderno Natal da Tribuna do Norte:

A falta de projetos usualmente tem sido utilizada para justificar o pouco desenvolvimento urbanístico de Natal. Mas não foram poucas as ideias apresentadas nos últimos 15 anos que poderiam modificar profundamente o cotidiano dos que moram ou visitam a capital do Estado. Infelizmente, a maioria desse projetos ficaram no papel, se perderam nos arquivos do arquitetos e na memória dos administradores.

A Natal do papel…

A transformação galopante na paisagem urbana de Natal aponta em muitas direções, entre elas a intensa verticalização e a sobrecarga do sistema viário. Também é notória a falta de um planejamento capaz de ampliar a quantidade de áreas públicas de lazer e convivência, fator que interfere de forma direta na qualidade de vida da população. Em meio a esse crescimento desenfreado, alguns projetos que poderiam alterar o cotidiano do natalense acabaram engavetados – mesmo após terem sido alardeados com pompa e circunstância por gestores públicos e empresários.

Nos últimos 15 anos, pelo menos sete propostas de grande impacto urbano não saíram do papel, e a TRIBUNA DO NORTE lança foco sobre como é e como poderia ser alguns trechos da cidade, sobretudo nos bairros de Lagoa Nova, Cidade Alta, Mãe Luíza, Praia do Meio, Ponta Negra, Cidade Satélite e Santos Reis. Apesar de anunciados, dois foram descartados pelo poder público, três aguardam boa vontade política, um ainda pode ser implantado e apenas um depende exclusivamente de investimento privado.

Vale ressaltar que dos sete projetos, cinco são de interesse público e três interferem positivamente no trânsito da cidade – e todos têm a capacidade de potencializar a indústria do turismo.

Banho Maria

No grupo dos descartados estão a construção do Teatro de Natal, cujo projeto foi escolhido em 2005 através de concurso público nacional realizado pelo Governo do RN e que deveria ser erguido no cruzamento das avenidas Miguel Castro e Prudente de Morais; e a primeira proposta para urbanização da orla de Ponta Negra, também escolhida através de concurso público.

Os três mantidos em ‘banho maria’ são a construção de uma Marina na foz do rio Potengi; a readequação das marginais da BR-101, no trecho entre o viaduto de Ponta Negra e o retorno de Cidade Satélite; e a área de lazer de Mãe Luiza, na Via Costeira, assunto que voltou à tona recentemente – ainda que de maneira tímida – após o debate em torno da liberação (ou não) de novos empreendimentos turísticos ao longo da via.

Já o Janelas do Potengi, projeto abraçado pela Prefeitura do Natal, no início dos anos 2000, e que previa um reordenamento urbano geral nas imediações da Praça André de Albuquerque, na Cidade Alta, ainda pode ser retomado caso haja interesse do município. A única proposta que pode sair do papel sem interferência pública é a restauração do Hotel Reis Magos, na Praia do Meio, hoje controlado por uma rede hoteleira pernambucana.

…A Natal real

Ponta Negra ficou só na ideia

A primeira urbanização da orla de Ponta Negra foi realizada no final da década de 1980, e o projeto já surgiu inadequado para as necessidades dos frequentadores e trabalhadores da praia. Ao longo dos anos, as antigas barracas de lona se proliferaram e até banheiros clandestinos foram construídos na faixa de areia. O problema se agravou de tal maneira que o Governo do RN, responsável pelas intervenções na orla, promoveu um concurso público em 1995 para escolher um novo projeto.
Uma segunda urbanização renovou a fachada da praia em 2000, mas o projeto elaborado pelos arquitetos Dulce Bentes, José Ailton de Morais, Roseane Dias e Fabiano Diniz – devidamente submetido à aprovação popular – sofreu alterações e apenas 30% do planejado acabou implantado.

Entre a aprovação e a execução do projeto, um intervalo de cerca de cinco anos, a ocupação desordenada da praia inviabilizou várias propostas  previstas originalmente como calçadões mais largos, mais vagas de estacionamento à beira mar, quiosques mais estruturados, equipamentos de lazer e área para a prática de esportes. “A área tida como pública acabou incorporada a terrenos particulares, e várias ruas que iriam permitir o acesso até a Via Costeira simplesmente sumiram”, declarou na época o arquiteto José Ailton de Morais, um dos autores do projeto.

Hoje o desafio para se fazer uma terceira urbanização da orla de Ponta Negra esbarra no avanço do mar, e requer estudos detalhados sobre erosão marinha e a dinâmica costeira. Destruído pela força das marés, o calçadão começou a desmoronar em fevereiro – problema intensificado a partir do mês de maio devido a falta de ações de prevenção. Interditado por apresentar riscos à população, a Prefeitura decretou estado de emergência e conseguiu recursos para recuperar a orla com a Secretaria Nacional da Defesa Civil Nacional. O início das obras para reconstruir o calçadão está prevista para o mês de setembro.

Confira a diferença do projeto para a realidade de diversos empreendimentos da cidade:

Hotel Reis Magos 

No papel: Apesar de aparentar abandono e não funcionar, o hotel está sob os cuidados da rede de Hotéis Pernambuco S/A. O grupo empresarial negociou todas as pendências do imóvel, como impostos estaduais e municipais, e busca parceiros para reativar o negócio. O projeto de restauração e ampliação do hotel está orçado em R$ 20 milhões. Após concluído, terá 294 apartamentos.

Projeto arquitetônico do Hotel Reis Magos. (Foto: Tribuna do Norte)

O real: Inaugurado em 1965, pelo Governo do Estado, o Hotel Reis Magos funcionou por três décadas e ainda hoje é tido como um dos símbolos do turismo no RN. Tombado pelo Patrimônio Histórico por seu valor arquitetônico de traços modernos, o hotel foi desativado em 1995 – mesmo ano em que passou a ser controlado pela iniciativa privada.

Hotel Reis Magos. (Foto: Júnior Santos)

Marina de Natal 


No papel: A proposta surgiu em 2007, quando um grupo de investidores espanhol sinalizou interesse no empreendimento à Prefeitura. Orçada em R$ 100 milhões, a Marina terá capacidade para receber até 450 barcos de uma vez. A previsão é que as obras levem dois anos para serem concluídas. O projeto está parado desde 2008 na Câmara Municipal.

Maquete projeto da Marina de Natal (Foto: Tribuna do Norte)

O real: A área de 50 hectares, localizada na margem direita do rio Potengi, permanece praticamente intacta e ocupada por vegetação nativa – cerca de um terço do terreno serviu como canteiro de obras da ponte Newton Navarro. Distante cerca de 500 metros da Fortaleza dos Reis Magos, a área faz parte da Zona de Proteção Ambiental 7 e qualquer intervenção depende da regulamentação da ZPA.

Área onde deveria ficar a Marina de Natal. (Foto: Tribuna do Norte)

Área de Lazer Via Costeira 

No papel: Concebido pela arquiteta Luciana Kelly Maia Correia como trabalho de conclusão de curso, o projeto foi registrado no IAB-RN e doado ao município. No local estavam previstos a construção de minicampode futebol, quadra poliesportiva, parque infantil, área para comercialização de artesanato, anfiteatro, quiosques e pista para caminhada. O início das obras estava previsto para o primeiro semestre de 2006.

Área de Lazer da Via Costeira. (Foto: Tribuna do Norte)

O real: O lote da Via Costeira, onde a área de lazer deveria ter sido construída, pertence à Datanorte. Disponível desde 2007 para o município viabilizar o projeto, a área à beira-mar tem 17 mil metros quadrados e fica entre os hotéis Pirâmide e Porto do Mar. Em 2004, o Governo Federal chegou a liberar R$ 1 milhão. Na época, além dos entraves burocráticos, houve pressão do setor hoteleiro contra o projeto.

Espaço da Área de Lazer da Via Costeira. (Foto: Emanuel Amaral)

Teatro de Natal 

No papel: O projeto vencedor, assinado pelos arquitetos Mario Biselli e Guilherme Lemke Motta, de São Paulo, continha três salas de espetáculos, área de convivência e edifício garagem. Acabou engavetado pelo Governo por inviabilidade econômica – a Secretaria Estadual de Infraestrutura chegou a estimar orçamento em R$ 60 milhões. Os arquitetos receberam um prêmio R$ 60 mil pelo projeto.

Teatro de Natal. (Foto: Tribuna do Norte)

O real: O terreno onde o Teatro de Natal seria erguido fica no cruzamento das avenidas Prudente de Morais e Miguel Castro, em Lagoa Nova, mas até hoje
a área de 12 mil metros quadrados permanece desocupada – atualmente serve como estacionamento do DER-RN. A proposta para construir o
equipamento surgiu em 2005, quando o Governo do Estado lançou um concurso nacional para escolha do projeto.

Terreno do Teatro de Natal. (Foto: Júnior Santos)

Marginais da BR-101

No papel: A obra é do Dnit, mas a responsabilidade da construção era do Exército – que deixou de trabalhar alegando falta de repasses por parte do Governo Federal. Em setembro de 2011, chegou-se a anunciar o prazo para conclusão: 31 de agosto deste ano. Estavam previstas mudanças significativas na altura do Sam’s Club em Neópolis; nas imediações do antigo Posto Senador; e em frente ao conjunto Cidade Satélite.

Marginais da BR-101. (Foto: Júnior Santos)

O real: A estrutura viária da BR-101, principalmente no trecho urbano de Natal entre o Viaduto de Ponta Negra e o retorno de Cidade Satélite, não acompanhou a velocidade de ampliação da frota de veículos que circulam na Região Metropolitana. A necessidade de replanejar o trânsito é comprovada pelos engarrafamentos diários que afligem a população que utiliza a rodovia.

Praça André de Albuquerque 

No papel: Elaborado pelo arquiteto Carlos H. Nogueira, o projeto Janelas do Potengi previa intervenções que incluíam desapropriações para descortinar a vista do rio; construção de equipamentos de lazer, calçadão e um túnel (início na altura da Praça das Mães e final após a praça João Tibúrcio, por trás da Igreja do Galo) para desviar todo o tráfego. Pontos de ônibus e estacionamento também seriam subterrâneos.

Praça André de Albuquerque prevista no papel. (Foto: Tribuna do Norte)

O real: Marco zero da fundação de Natal, em 1599, a Praça André de Albuquerque está cercada pelos principais imóveis tombados pelo Patrimônio Histórico no centro da cidade. Descaracterizada ao longo do tempo, perdeu seu contato com o rio Potengi e hoje é testemunha da falta de estrutura para receber o chamado turismo cultural. Durante o dia, seu entorno se transforma em estacionamento concorrido.

Área da PraçaAndré de Albuquerque hoje. (Foto: Júnior Santos)

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