Só no delivery

16 de julho de 2012

Deu no caderno de Economia do Novo Jornal

Gastar menos e atrair um número maior de clientes. Esse é o objetivo dos empreendedores da cidade que resolveram apostar no ramo de refeições entregues a domicílio para sobreviver no competitivo mercado dos restaurantes natalenses. O NOVOJORNAL identificou e entrevistou os empresários de três novos estabelecimentos da cidade voltados para o delivery que buscam não apenas fugir do fast-food e oferecer uma culinária mais sofisticada, mas desenvolver um negócio lucrativo que pode chegar a custar menos do que 50% do que os empreendimentos tradicionais do ramo; e faz parte de um segmento que cresce a pleno vapor em Natal: o número de restaurantes com sistema de entrega na cidade hoje é mais que duas vezes maior do que há 10 anos.

Novato na área da alimentação, Paulo Ferraz, 46, apostou em uma loja voltada para o delivery pela praticidade oferecida tanto ao cliente quanto ao empreendedor.O empresário, que também trabalha no setor de imóveis, abriu a Galettos e Cia junto com a mulher, Adriana Queiroz, em junho do ano passado. De lá para cá, tem se revelado um sucesso.

Foto: Novo Jornal

O estabelecimento, localiza dona Avenida Jaguarari, também fica aberto para os que preferem buscar sua comida por lá. Mas Ferraz explica que o serviço de delivery foi um dos principais fatores para tornar o negócio bem-sucedido. Um dos maiores atrativos do segmento para novatos no ramo como Ferraz e sua mulher são os custos, que são bem menores do que os de um restaurantes. “Não precisamos gastar com garçons, mesas, talheres e, como o imóvel é menor, o aluguel fica bem mais barato”. O empresário estima que fizeram uma economia de 50% ou mais ao investir em um estabelecimento voltado para o delivery.

Além de uma pequena recepção para o cliente que prefira pegar sua própria comida, a Galettos e Cia possui apenas uma cozinha. O corpo de funcionários da loja é formado por cinco empregados fixos, como churrasqueiros, cozinheiros e caixas, e mais dois terceirizados: um é o motoboy que faz as entregas e a outra é uma caixa que trabalha apenas nos fins de semana. O aspecto é despojado, mas representa uma grande economia para o empreendedor.

“Escolhemos uma loja voltada para o delivery não apenas por causa da economia, mas também por causa da nova realidade do natalense dos dias de hoje. Com essa correria toda com a qual vivemos, é muito mais prático ligar e pedir a comida do que se arrumar todo para ir a um restaurante. Mesmo pessoas que moram aqui no bairro preferem pagar a taxa de entrega, que dependendo da distância do lugar custa de R$ 6 a R$ 12, do que vir até aqui buscar o alimento”, conta o empreendedor.

Ele admite que o número de pessoas que pegam suas refeições na loja ainda supera os que optam pelo delivery, mas as entregas têm apresentado um crescimento maior. De junho do ano passado para cá, o número de enviados por delivery duplicou: “Nos fins de semana sempre entregamos bastante,mas durante a semana, no começo, entregávamos uns 10 pedidos de terça a sexta. Hoje, são quase 20”, destaca Ferraz.

O empresário trabalha há 16anos no setor imobiliário, mas decidiu enveredar por outros caminhos ao perceber uma certa estagnação no área em Natal.O escritório da Ferraz Imóveis, onde ele também trabalha com sua esposa, fica em conjunto com a galeteria. O casal decidiu apostar em um nicho inexplorado: “Existem muitas galeterias de rua na cidade, mas queríamos algo mais sofisticado. Fomos a primeira loja de frango desossado recheado da capital”, aponta Ferraz.

Embora a Galettos e Cia tenha não apenas sobrevivido, mas também crescido durante seu ano de existência (no começo, existiam apenas três recheios para os frangos; hoje, já são nove), o empresário tem planos futuros de criar um restaurante, depois de ter adquirido a experiência necessária e consolidado a marca. A justificativa é que, embora um restaurante seja mais custoso, os clientes acabam consumindo mais.

“Quando a pessoa pede a domicílio, ela escolhe apenas um prato e pronto. Em um restaurante sempre se tem vontade de pedir mais uma bebida ou comer sobremesa depois”, ressalva.

SUSHI 2.0

Foto: Novo Jornal

Eduardo Anderson Balbinot, 33, combinou sua paixão por comida japonesa com o que considerava um nicho pouco explorado no mercado natalense na hora de idealizar seu empreendimento – a Sushideli é a primeira loja de sushis da cidade voltada especificamente para o sistema de entregas a domicílio. Por enquanto Balbinot admite que a quantidade de pessoas que preferem buscar as refeições na casa, localizada em Lagoa Nova, na Avenida Amintas Barros, é maior do que as pedem por delivery. No entanto, o empresário acredita que é apenas questão de tempo até que essa realidade mude.

Os investimentos na publicidade da marca sinalizam essa tendência. “Agora em agosto vamos investir mais pesado em propaganda, mas até agora nossa publicidade está sendo feita nas redes sociais. O próprio sistema de entregas está aliado a isso. Os clientes podem pedir seus sushis por Facebook, Twitter e até email. São mídias rápidas, baratas e de grande alcance”, explica Balbinot. Em apenas dois meses de existência – a loja foi inaugurada no dia 14 de maio, 233 pessoas já curtiram a página da Sushideli no Facebook, o que, na opinião do proprietário, é um grande sucesso.

Balbinot é natural de Erechim-RS, e veio para Natal por causa de seu trabalho como bancário. Ao perceber a carência de Natal no mercado de delivery de sushis, o gaúcho decidiu pôr o seu antigo desejo de ter uma loja de comida japonesa em prática – e o enfoque na entrega a domicílio foi escolhido, principalmente, por causa da redução de custos.

Em vez de um grande restaurante com ar-condicionado e ambiente requintado, a loja da Sushideli se resume a cozinha, estoque e uma pequena recepção. Sem contar com os motoboys da empresa terceirizada que faz as entregas, o corpo de funcionários é composto apenas por quatro pessoas: além de Balbinot e sua namorada Salomé Câmara, que administram o negócio e ficam no caixa, dois sushimen são responsáveis por preparar os pratos.

Para o proprietário da loja, toda essa redução de gastos possibilita que o produto possa ser entregue a um preço mais competitivo e ainda possua uma margem de lucro maior. “A economia com aluguel, funcionários e energia é grande o suficiente para permitir que eu venda o sushi a um preço mais barato e ainda lucre mais em comparação com um restaurante tradicional”, destaca.

Como os bons sushis sempre são servidos especialmente frescos, uma loja de comida japonesa que opte por ter um delivery enfrenta o desafio extra na hora de servir o produto. Balbinot garante que a Sushideli está conseguindo superar o obstáculo. “Conseguimos até entregar os sushis fritos ainda quentes”, airma. Esse sucesso, junto com o enxugamento de gastos e maior lucratividade propiciadas pelo sistema de entregas a domicílio, fazem com que o proprietário procure desenvolver o estabelecimento sem mudar a fórmula. “A Sushideli é uma loja de sushis com foco no delivery e isso não vai mudar. Se um dia eu decidir fazer um restaurante de sushis tradicional vai ser com outro nome e outra marca”, arremata o proprietário.

APOSTA NA QUALIDADE

Rodrigo Dowsley, 40, sempre foi um apaixonado por gastronomia. A decisão de transformar o hobby em negócio, no entanto, só aconteceu recentemente. O Chef House, loja de saladas voltada para entregas a domicílio, foi inaugurada no dia 8 de maio. Embora garanta não economizar com a mão-de-obra necessária para se fazer um prato soisticado, Dowsley conta que não depender de garçons e não precisar gastar com a energia e espaço extra do restaurante também chegam a representar uma economia de cerca de 50% em relação ao investimento em um estabelecimento comum.

A empresa possui oito funcionários (sem contar com os motoboys terceirizados), dentre cozinheiros, auxiliares e atendentes. O próprio Dowsley está incluso nesse quadro: ele trabalha na cozinha. Embora o espaço em que a loja está localizada seja grande – quando a marcar estiver consolidade, o proprietário pensa em expandir o estabelecimento e torná-lo um restaurante – a estrutura da Chef House só ocupa um terço do terreno, o que diminui os custos de manutenção da casa.

Dowsley pagou algumas matérias de culinária em um curso de administração de hotéis que fez nos Estados Unidos. Após ter retornado ao Brasil, em 97, ele trabalhou em diversos hotéis da cidade e o seu gosto pela cozinha ina evoluiu. Por isso, o empresário decidiu fazer uma estabelecimento de delivery que oferece pratos mais requintados. “Dei o nome de quality delivery (entrega a domicílio de qualidade) a esse conceito. Geralmente as pessoas associam delivery a fast-food, mas nós queremos oferecer uma experiência de restaurante com a praticidade da entrega a domicílio”, explica. Ele adianta que, embora a Chef House seja somente uma casa de saladas neste primeiro momento, existem planos de integrar massas e pratos quentes ao cardápio.

Para pôr a ideia de entrega a domicílio reinada em prática, certas precauções tiveram que ser tomadas. Métodos e ingredientes que não casam com o sistema de entrega a domicílio tiveram que ser eliminados do menu. “Usamos muita comida feita no forno, que resiste bem à viagem. Grelhados, no entanto, murcham com muita facilidade, por isso não usamos nenhum ingrediente grelhado”, conta.

“Também pesquisamos bastante antes de escolher a embalagem adequada, que é hermeticamente fechada e permite que a comida seja entregue quente e não fique desarrumada”.

Assim como a Sushideli, toda a propaganda da Chef House é feita através das redes sociais como o Facebook, Twitter e o próprio site da empresa. Dowsley ainda afirma que a web possibilita uma publicidade espontânea: “Muitos clientes tiram foto da salada e postam no Instagram, falando que gostaram. É uma mídia gratuita e espontânea”, afirma o empresário.

Apesar de achar que a casa está fazendo sucesso, Rodrigo Dowsley conta que ainda não está tendo lucros nesta fase inicial da loja. Para ele, o momento é o de conquistar o gosto do natalense, consolidar a marca e só então lucrar em cima disso. “Como oferecemos uma gastronomia mais soisticada, os pratos teriam um preço um pouco mais caro que o da concorrência. Não venderíamos desse jeito. Por isso, abaixamos o preço para atrairmos os clientes e vamos aplicar os valores adequados quando as pessoas já tiverem conhecido nossa comida”, conclui.

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