Todos os investimentos em energia eólica só na região do Mato Grande, no período 2010/2014, renderão R$ 1,6 bilhão, dos quais se calcula que entre R$ 500 milhões e R$ 600 milhões fiquem no município de João Câmara, que concentra o maior número de projetos, seguidos Parazinho e Pedra Grande. O cálculo foi feito hoje pelo diretor geral do Centro de Estudos em Recursos Naturais e Energia, Jean-Paul Prates, que amanhã participa em Natal do lançamento de um selo comemorativo do “Dia Mundial do Vento” (Global Wind Day), data criada pela Global Wind Energy Council (GWEC).
Dos 24 parques eólicos projetados para o Rio Grande do Norte, dez estão em João Câmara. “É o maior pólo eólico do Estado, com imensas possibilidades de crescimento a partir desses investimentos”, explicou Prates, que já foi secretário de Energia do RN até a pasta ser extinta ainda no governo de Wilma de Faria para resolver uma acomodação política.
Os cálculos de Prates têm como base a previsão de 300 a 400 megawatts a serem produzidos pelas eólicas construídas na região do Mato Grande. Para cada megawatt instalado o investimento é de R$ 4 milhões. Do total aplicado em recursos privados, um terço será na forma de compras locais e regionais e dois terços na forma de produtos e serviços adquiridos fora, em outras regiões do País e do exterior.
Com uma população de pouco mais de 32 mil pessoas, o município de João Câmara, bem como os demais da região do Mato Grande, vive basicamente do programa Bolsa Família. “A partir de 2009, essa realidade vem mudando rapidamente e hoje se você quiser se hospedar em algum hotel ou pousada da cidade não vai encontrar vaga”, assegura Jean-Paul.
Município limitado economicamente, João Câmara vem recebendo atenção da mídia desde que os projetos tendo éolicos começaram a chegar à cidade. “Os maiores investimentos, é claro, se farão presentes durante a construção, mas será uma grande oportunidade para a região planejar seu desenvolvimento a partir da alavanca da energia eólica”, acrescentou.
Hoje, 59% da população de João Câmara vivem no limite da pobreza, segundo o IBGE. Cada megawatt instalado emprega o equivalente a 15 pessoas durante um período que varia de três a cinco anos. Depois disso, esses empregos deixam de existir, mas cumpriram um ciclo importante, dando às comunidades oportunidades para se organizarem. Cada operadora tem mais 20 anos de direito de operação.
O Rio Grande do Norte é o Estado com o maior número de parques eólicos inscritos nos Leilões de Reserva e A3, programados para julho deste ano no Brasil. Do total de 429 projetos inscritos nacionalmente pelo setor para participar da disputa, 116, ou 27%, são previstos para o Estado. A oferta de energia do RN chega a 3.012 Megawatts (MW), representando 27,54% do total ofertado por todos os concorrentes. Em segundo lugar, está o Ceará, com 103 projetos e 2.427 MW de energia.
Os números que confirmam a posição de liderança, divulgados pela Empresa de Pesquisa Energética, responsável por conduzir os leilões, ainda estão em aberto. Os projetos inscritos ainda passarão pela fase de habilitação, quando é feita a conferência de documentos jurídicos, institucional e técnica, como licenças. Só depois disso se chegará a um número definitivo de projetos.
Nos últimos leilões realizados no país, o Estado foi campeão em número de parques e energia contratados. Os leilões serão feitos pelo governo federal, com o objetivo de contratar energia elétrica para suprir o crescimento do mercado do Sistema Interligado Nacional no ano de 2014. Também inscreveram projetos eólicos Rio Grande do Sul (92), Bahia (90), Piauí (18), Pernambuco (9) e Rio de Janeiro (1).
Segundo ainda Jean-Paul Prates, o momento é para pessoas e empresas que se beneficiarem do ciclo da energia eólica olhar suas vidas e seus negócios numa perspectiva de longo prazo, imaginando como poderão se capitalizar para quando as companhias que se instalaram na região diminuírem o peso de suas aplicações.
“O hotel que ampliou seus leitos terá que se preparar para daqui a dois anos, quando as usinas estiverem funcionando e seu número de hospedes baixar, e os municípios devem aproveitar o bom momento para investir em suas melhores potencialidades para manter suas economias aquecidas”, aconselha.
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