RN pode retomar liderança em eólicas

22 de janeiro de 2014

Notícia publicada no Novo Jornal:

A indústria dos ventos do Rio Grande do Norte pode retomar a liderança da produção energética do país até 2017. Por enquanto, permanece uma promessa. O estado, que hoje lidera o ranking nacional em potencial energético contratado, avaliado em 3,3 gigawatts (GW), produz apenas 12% de todo o seu potencial – ou 423,15 MW.

A abertura do complexo eólico João Câmara, em Parazinho, a 119 km da capital potiguar, anunciado para próximo dia 2 de fevereiro, é uma das apostas para tentar começar a mudar essa realidade.

A Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) obteve licença do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) para operar a subestação, localizada na cidade com maior potencial energético instalado do Brasil. A autorização foi publicada na edição do Diário Oficial do Estado do dia 14 de janeiro.

Dos 39 parques eólicos construídos do estado, apenas 15 estão em funcionamento. Os poucos parques em atividade produzem pouco mais de 400 megawatts (MW), segundo dados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec). Devido à baixa geração, o RN perdeu espaço para estados como Ceará e Rio Grande do Sul, que lideram como principais geradores de energia eólica do país, com 661 MW e 460 MW, respectivamente.

Foto: Ney Douglas

Foto: Ney Douglas

Pelo menos 12 parques localizados em Parazinho estavam parados desde julho de 2012, devido à falta de linhas de transmissão. A Chesf, responsável pela construção das linhas, atrasou a entrega das estruturas em mais de um ano. A demora foi causada, principalmente, pelas dificuldades em pedir autorização aos proprietários de terra para instalar torres em suas áreas.

“Essa linha deveria dar suporte ao primeiro leilão de geradoras de 2010”, explica do secretário estadual de desenvolvimento energético, José Mário Gurgel. De acordo com ele, os sucessivos atrasos da Chesf são justificados pelo antigo regulamento dos leilões de energia eólica, modificado pelo Ministério de Minas e Energia em 2013. “Antes eram feito os leilões das empresas geradoras de energia, e só depois que os parques ficassem prontos eram leiloados as linhas de transmissão. Com isso, muitos parques ficavam prontos sem ter como se ligar ao sistema elétrico. Agora, com a nova regulamentação, uma empresa só pode participar do leilão se tiver garantia de que existem linhas para escoar sua produção”, acrescenta.

Até então, continua o secretário, o usuário era quem pagava a conta. Isso porque, mesmo que as empresas terminassem os parques e não existissem linhas para escoar a produção, elas continuavam recebendo pagamento do Governo Federal.

No entanto, nem todas as notícias são negativas: desde que o Rio Grande do Norte participou do primeiro leilão de eólicas, em 2009, mais de R$15 bilhões foram investidos no estado. Essa verba veio, principalmente, de gigantes do setor elétrico, como Voltalia, CPFL Renováveis, Galvão Energia, Energisa e ContourGlobal – empresas que investiram na construção de parques e empregaram mão de obra local.

“O estado não ganha com a energia eólica em dinheiro, mas ganha indiretamente na cadeia produtiva. Com a construção de parques eólicos, você gera empregos e ainda leva qualificação de mão de obra para o interior do estado”, salienta o secretário José Mário.

Diferentemente do petróleo, por exemplo, as empresas produtoras de energia eólica, ressaltou ele, não pagam royalties ao estado. Pelo contrário: recebem isenção fiscal do Governo Federal para instalarem os parques.

Perspectivas de mais empresas e mais empregos

Foto: Eduardo Maia

Foto: Eduardo Maia

O diretor de energia do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energias (Cerne), Milton Pinto, ressalta que o RN se beneficia, principalmente, por seguir uma tendência comum aos países desenvolvidos: o foco em sustentabilidade. “As eólicas poluem menos do que as termoelétricas, e servem como uma energia de suporte para o sistema elétrico. A eólica é muito bem vinda ao nosso país, que deve focar em ter uma matriz energética diversificada”, comenta.

“Com esse grande potencial energético, empresas de todo o mundo voltam os olhos para o Rio Grande”, acrescenta.

Atualmente, somente o RN é responsável por 40% da matriz eólica do Brasil. Com o término da construção de outros 44 parques eólicos e das novas linhas de transmissão, previsto para 2017, o RN espera alcançar até 90% de todo o seu potencial de produção energético, e se consolidar como o principal fornecedor de energia eólica do Brasil.

De acordo com o levantamento “A indústria dos ventos no Rio Grande do Norte”, publicado pelo Cerne em 2013, mais de 30 mil empregos diretos e indiretos podem ser gerados nos próximos três anos. “Essa produção vai dar uma sobrevida ao Rio Grande do Norte”, conclui José Mário.

O que está por vir

O Brasil possui, atualmente, 13,4 GW de energia eólica contratada que devem ser instalados até 2018, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Destes, 3,3 GW estão contratados no Rio Grande do Norte, colocando o estado como líder absoluto em potencial contratado. Falta transformar esse potencial em realidade.

De acordo com a presidente a Abeeólica, Élbia Melo, os parques eólicos, considerados “elefantes brancos” pela população, vão deixar essa realidade para trás em 2014. “Uma série de linhas devem ser leiloadas ainda no primeiro trimestre deste ano”, garante a presidente.

Assim como o Rio Grande do Norte, outras unidades da federação, como a Bahia, tem sofrido com a perda de geração de energia devido à falta de linhas de transmissão. “Para se ter uma ideia, há um parque na Bahia com potencial para produzir 279 MW, mas está parado devido à falta de linhas de transmissão. O parque, que deveria ser considerado o maior do país, perde o posto para o Rio Grande do Sul por não produzir”, conta o diretor de energia do Cerne, Milton Pinto.

O RN chegou a ser prejudicado no leilão de eólicas A-3, realizado em novembro de 2013, no qual as empresas concorrentes tinham até três anos para concluírem os parques e iniciarem a geração de energia. Na ocasião, o estado não conseguiu negociar nenhum dos 71 parques eólicos que habilitou para a disputa. “Que investidor iria se comprometer em produzir sem ter como escoar?”, questiona o secretário José Mário Gurgel.

No mês seguinte, após a Chesf anunciar a finalização de novos linhões em 2014, as empresas voltaram a aparecer.

O diretor de energia do Cerne, Milton Pinto, é otimista: para ele, novas linhas de transmissão devem ser entregues ainda em maio. “Se pelo menos 50% dos parques que estão desativados se conectarem às linhas, o RN sobe imediatamente para o primeiro lugar em geração de energia eólica no Brasil”, determina. E por que isso seria positivo? “Quanto mais o RN produzir, melhor vai ser o abastecimento de energia do Sistema Interligado Nacional [de energia]. O Brasil ganha em energia e o estado em expressividade nacional”, conclui.

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