RN terá primeira grande fazenda de energia solar do país

29 de março de 2012

O RIO GRANDE do Norte terá o primeiro parque de energia solar em larga escala do país. A empresa brasileira Braxenergy formalizou semana passada a intenção de investir em um parque solar e uma indústria de componentes produtores de células fotovoltaicas, um dos meios utilizados para transformar radiação do sol em energia elétrica. A expectativa é que a usina comece a funcionar com uma capacidade de 30 megawatts e atinja 180 megawatts de produção.

Com potencial de radiação de 700 a 800 watts por metro quadrado, o Estado desponta como um dos mais promissores do país. O coordenador de desenvolvimento energético da Sedec, José Mário Gurgel, explica que os empresários brasileiros já vieram ao RN duas vezes num intervalo de 15 dias. O interesse em investir em solo potiguar é forte e já se encontra na fase de prospectar terrenos para se instalar.

“Eles estão muito interessados e a questão agora é identificar as áreas que poderão servir de localização”, acrescenta. O que se tem de concreto por enquanto é que a Braxenergy tem dois interesses no Estado: a implantação de um parque solar e a instalação de uma fábrica de componentes para energia fotovoltaica. Eles querem produzir energia tanto a partir da fotovoltaica quanto na CSP – concentrated solar power, ou simplesmente concentradores, como é chamado aqui no Brasil.

A Sedec ainda não sabe, entretanto, quanto a Braxenergy pretende investir no Rio Grande do Norte.

A fazenda de energia solar seria construída por etapas e começaria produzindo 30 megawatts de energia – o único parque existente atualmente no Brasil é do grupo EBX, de Eike Batista, que fica no Ceará, mas tem capacidade para produzir apenas 1 megawatt. Este seria, então, o primeiro projeto em larga escala do país. No futuro, poderia chegar a 180 MW de capacidade.

De acordo com Gurgel, os investidores querem produzir energia solar a partir das duas vertentes existentes: as células fotovoltaicas e a CSP. Mas é preciso, ainda, garantir a venda dessa energia que será fabricada. “Tem muita coisa a ser feita ainda”, admite o coordenador. O país precisa criar um marco regulatório para o setor e incentivar a queda nos preços, já que atualmente o megawatt/hora de energia solar está custando em torno de R$ 400, contra uma média de R$ 100 de outras fontes como biomassa, pequenas centrais hidrelétricas  e eólica.

A expectativa é que este ano o governo federal crie mecanismos para baratear esse preço e para incluir a modalidade nos leilões da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). “Tudo com energia solar é muito recente. O que existe é o sentimento que ao longo desse ano o governo federal vai permitir que dispute em igualdade de condições com outras fontes alternativas”, explica.

A Braxenergy tem investimentos na geração de energia térmica (biomassa e biogás), hidráulica (UHE’s e PCH’s), eólica, fotovoltaica e termosolar. Sediada em São Paulo, tem um empreendimento localizado em Coremas, na Paraíba, em uma área de 140 hectares. Segundo o site do grupo, trata-se de uma usina de ciclo solar/biomassa, que utilizará como combustível a radiação solar para seu módulo de concentradores fluido térmico e biomassa reflorestada da caatinga, bagaço, cana-de-açúcar e coco para seu módulo de geração através de biomassa.

De acordo com José Mário, a empresa também tem investimentos na África. No que diz respeito à fábrica, deve ser erguida no RN em parceria com a Solsonica e Vector Technology. A intenção de investir foi formalizada na quarta-feira da semana passada (21), durante uma reunião entre os investidores, a Sedec, membros do CTGás-ER e o secretário de Desenvolvimento de Goianinha, Téo Tomaz – o que pode sinalizar a possível localização do empreendimento.

Na ocasião, o representante da Solsonica, Francesco Zippo, teria reforçado a intenção de investir no Rio Grande do Norte e afirmou que o segmento fotovoltaico seria uma opção interessante. “O mercado fotovoltaico vem crescendo e saindo da Europa e vindo para o Brasil”, teria dito na ocasião.

“ENERGIA SOLAR SERÁ A MAIS PROMISSORA NO FUTURO”

Assim como no segmento eólico, o Rio Grande do Norte é um dos campeões em potencial na energia solar. Possui radiações de intensidade de 700 a 800 watts por metro quadrado, contra 150 watts/m² registrados na Alemanha, outro país produtor. De acordo com o engenheiro e professor da UFRN Luiz Guilherme Meira de Souza, que estuda solar há 35 anos, esta será a fonte energética do futuro.

"TEMOS UM POTENCIAL  INCOMENSURÁVEL.TENHO CERTEZA  QUE SERÁ A MATRIZ DO FUTURO E IRÁ  ULTRAPASSAR EÓLICA”  diz Luiz Guilherme Meira de Souza professor da UFRN

"...TENHO CERTEZA QUE SERÁ A MATRIZ DO FUTURO E IRÁ ULTRAPASSAR EÓLICA” diz Luiz Guilherme Meira de Souza professor da UFRN (foto: MAGNUS NASCIMENTO / NJ)

“Temos um potencial incomensurável, somos sem dúvida o país mais privilegiado nesse sentido. Tenho certeza que será a matriz do futuro e irá ultrapassar eólica”, projeta. O que falta, porém, são leis e incentivos que possam estabelecer o crescimento do setor. O preço desse tipo de energia ainda é um vilão: está em média hoje R$ 400 por megawatt/hora. Enquanto que eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas estão girando em torno de R$ 100.

Não é só o RN que tem tamanho potencial. O Nordeste como um todo é privilegiado, com picos de radiação solar podendo atingir 1.200 watts por metro quadrado. Mas entre os nove estados, é o RN, Ceará e Paraíba que despontam como donos dos maiores potenciais. “Nossa capacidade é muitas vezes maior que a da Europa, que busca incessantemente instalar usinas solares para levar energia até lá”, acrescenta o pesquisador.

O segmento, entretanto, precisa de um marco regulatório e de incentivos para decolar. Falta no Brasil, ainda, indústrias que produzam as células fotovoltaicas e os concentradores, equipamentos capazes de transformar a radiação do sol em energia elétrica. “Não temos ainda um grande projeto, uma grande instalação em energia solar”, frisa. Recentemente foi construída uma pequena usina no Ceará que utiliza os concentradores e que, segundo o professor, teria o dedo do bilionário Eike Batista, mas nada significativo.

As células fotovoltaicas – aqueles espelhos que captam a energia do sol diretamente e transformam em elétrica – precisam ainda ter a eficiência aumentada. Segundo o pesquisador, a efi ciência de uma célula comercial é de cerca de 15%, contra 85% de uma turbina hidráulica. Sem um projeto de incentivo a este tipo de geração, nada irá se desenvolver. “Há um longo caminho a percorrer e parece que agora está começando a se materializar”, registra.

Há 35 anos pesquisando sobre o assunto, Luiz Guilherme defende que a solar será a energia mais promissora no futuro. “Mas são necessários muitos investimentos para que a gente possa ver essa realidade se materializar”, avisa.

O pesquisador vê com bons olhos e entusiasmo os investimentos anunciados. “Trabalho há 35 anos com essa área e sempre acreditei nela. Creio que será a área do futuro porque tem essa característica de socializar o uso da energia. Esse é o pontapé inicial para grandes empreendimentos”, avalia.

Classificada pelo pesquisador como a energia de maior potencial no mundo, ele acredita que deve ultrapassar eólica em investimentos no Brasil. Mas prefere acreditar e defender uma simbiose entre as duas. “No Nordeste, sol temos muito e ventos também. O vento pode suprir a energia que a noite o sol não fornece. Acredito num sistema híbrido eólico-solar. Uma ideia assim seria muito bem-vinda”, defende.

GRANDE DESAFIO É CONVERGÊNCIA TARIFÁRIA
O diretor geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean-Paul Prates, também reforça o que foi defendido pelo professor da UFRN. Segundo ele, o grande desafio para fazer a energia solar decolar é a convergência tarifária. O potencial já está garatindo em todo o Estado, inclusive no interior, mas é preciso baratear o custo do megawatt. “Tem que começar a chegar perto da tarifa das demais fontes”, diz.

Jean-Paul Prates, Diretor geral do CERNE - Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia "O grande desafio para fazer a energia solar decolar é  a convergência tarifária"

Jean-Paul Prates, Diretor geral do CERNE - Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia "O grande desafio para fazer a energia solar decolar é a convergência tarifária"

Para projetos grandes isso é mais fácil de acontecer, diz ele. A crise na Europa também tem motivado a queda nesses preços, já que os equipamentos são fabricados lá em sua maioria e tem havido decréscimo em seus custos.

A proximidade com uma linha de transmissão também é outro fator para tornar a energia solar mais competitiva na opinião de Prates. No caso do interior do Estado, trata-se de uma região isolada, que tem muito potencial para produzir, mas não tem por onde escoar.

Segundo o diretor do Cerne, atualmente o megawatt/hora da energia solar está custando em torno de R$ 400. Os investidores têm lutado com o governo federal para que baixe para R$ 380 ou R$ 350. No caso da eólica, que começou em R$ 280, hoje está custando em torno de R$ 100 o megawatt/hora. No último leilão atingiu uma média de R$ 86. A energia gerada a partir de biomassa e as PCH’s também estão no mesmo patamar.

 

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