Daniel Turíbio

Daniel Turíbio é jornalista da agência Smartpublishing Mídias em Rede. Já trabalhou com mídia impressa, rádio e assessoria de comunicação. Reside em Natal/RN.

Sem investimento, pesca oceânica no RN apresenta desafios

20 de novembro de 2012

Notícia publicada no caderno de Economia da Tribuna do Norte:

O salto na pesca oceânica de atum no Rio Grande do Norte presenciado nos últimos dois anos pode perder o fôlego, caso o governo não invista em tecnologia. A advertência foi feita pelo empresário Gabriel Calzavara, presidente da Atlântico Tuna, durante o Seminário do Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, realizado ontem no Auditório Albano Franco, na Casa da Indústria.

Gabriel Calzavara (D), da Atlântico Tuna, alimentou debate com informações sobre a parceria com o Japão, fator que permitiu salto na pesca oceânica nos últimos anos. (Foto: Alex Régis)

A empresa potiguar firmou parceria com a frota nipônica da Japan Tuna e conseguiu alçar a produção potiguar de atum, em alto mar, a patamares de destaque na produção nacional. Em 2011, os barcos japoneses desembarcaram 2 mil toneladas de atum, elevando o total capturado pelo país que chegou a 6 mil toneladas naquele ano. Deste total, 1,5 mil eram de três espécies (albacora lage, bandolim e branca) – 24% da produção nacional.

O volume pescado, em 2011, com a técnica de espinhel,é quase o dobro do que o país pescou em 2009, quando o Brasil capturou 4,2 mil toneladas, e usava 11 embarcações japonesas.

“Conseguimos este patamar ano passado usando apenas quatro embarcações”, comemorou o empresário, que solicitou aos representantes do governo estadual, federal, da indústria e setor pesqueiro esforços no sentido de dar “um salto em tecnologia”. O projeto apresentou em faturamento 18 milhões de dólares, dos quais 61% foi movimentado dentro do Estado.

“Não podemos mais ver uma frota estrangeira, sendo protagonista na pesca do nosso atum”, sentencia.

As embarcações japonesas equipadas com fábrica de beneficiamento e câmara de refrigeração com conservação a -60º, o que permite a frota ficar até três meses sem precisar atracar em portos.

A viabilidade da tecnologia usada na pesca no Atlântico Sul foi comprovada. “Conseguimos saber a localização, a posição estratégica que o Estado está em relação ao produto e conseguimos aumentar a produtividade”, afirma Calzavara.

Mesmo com um crescimento médio de mais de 400% do atum na pauta de exportação, o crescimento ainda é considerável aquém do potencial existente. “O mercado é propício ao atum retirado da costa brasileira”, analisa o presidnete da Atlantico Tuna.

Prova disso é a estimativa do consumo global de atum para sashimi em torno de 501 mil toneladas, o que corresponde a 3,7 bilhões de dólares. Em 2010, foram produzidas 428 mil toneladas, em águas do Oceano Atlântico. O Brasil respondeu por 21,5 mil toneladas, ou seja, 4% da produção total.

“A pesca de atum é um grande vetor para este desenvolvimento, mas é preciso investir em embarcações e em tecnologia de mão de obra”, afirma.

A parceria permitiu ainda a transferência de conhecimento, por meio de programa de capacitação desenvolvido pelo Senai, para 107 empregos diretor.

Pescadores cobram apoio técnico

A burocracia e os custos para se obter o licenciamento ambiental , como impeditivos do crescimento da piscicultura no Estado, foram abordados no Seminário do Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte pelo presidente da Confederação Nacional dos Pescadores Abraão Lincoln. Ele criticou a postura adotada pelos órgãos ambientais e defendeu a desvinculação do Ministério da Pesca atrelado hoje ao Ministério do Meio Ambiente.

“É preciso dar autonomia para que possa realizar o trabalho, para tratar, regulamentar, sem que a questão ambiental seja sempre posto como entrave”, disse. O representante dos pescadores defende ainda que os valores arrecadados com as infrações ambientais da atividade pesqueira imputadas pelos órgãos de fiscalização sejam revertidos para o setor de aquicultura.

O Rio Grande do Norte, segundo o presidente da Confederação, é um dos principais prejudicados pela questão da licença ambiental, que fez cair a produção de camarão, impediu a pesca da lagosta. “O Brasil é o símbolo da incompetência na produção do pescado, camarão e lagosta. Tendo a riqueza aos olhos, não tem acesso devido a um pedaço de papel”, disparou.

Com a burocracia para obter o licenciamento que trouxe desaceleração ao crescimento do setor, houve uma migração de atividades. Impedidos de pescar a lagosta, devido as irregularidades apontadas pelo Ibama, os pescadores artesanais da região de Areia Branca passaram a atuar na área do pescado, de forma também rudimentar. Inclusive, na pesca artesanal do atum. As 60 pequenas embarcações do Estado comercializaram, em 2011, cerca de 3 milhões de dólares em pescado, os dados são da Confederação.

No Rio Grande do Norte, a pesca artesanal, “grande carro chefe do setor”, observa Lincoln, está dividida em 80 colônias de pescadores ao longo dos 400 quilômetros de costa.

O anúncio da instalação de uma indústria de enlatados de sardinha e atum, a ser montada na praia da Redinha, litoral Norte de Natal, é considerado fator positivo no fomento da atividade no Estado. “Isto vai agregar valor a essas espécies que estão sendo comercializados a preços aquém do nível de subsistência”, denuncia Lincoln. No último mês, a sardinha foi comercializada a R$ 0,80, o quilo, enquanto a albacora pescada em Baía Formosa, no extremo sul to litoral potiguar, caiu dos habituais R$ 6,00 para apenas R$ 2,00, o quilo.

Bate-papo

João Hélio Cavalcante, diretor técnico do Sebrae

“É preciso uma integração entre todos interessados”

A piscicultura é viável no Estado?

O Sebrae atua em diversas áreas, com projetos em psicicultura, algas marinha, carcinicultura, ostricultura, desenvolvemos projetos, acompanhando dando consultoria. E iremos mostrar, neste Seminário, o projeto que comprova que a piscicultura é viável, que existe um potencial enorme a ser explorado aqui no Estado. Hoje, para ter uma ideia, a produção em tanques e gaiolas se restringe a cerca de um mil tanques. Com estes 13 reservatórios licenciados pelo Idema e Semarh, a criação poderá passar para 20 mil gaiolas em produção. Mas para isso é preciso que fatores, pré-condições sejam adotadas para sanar os gargalos.

Que gargalos são esses?

Hoje é muito difícil para o pequeno produtor conseguir se manter. A começar pela lei de 2005, já que não existia instrução normativa para a atividade. Isto foi resolvido com o decreto em setembro. As instruções anteriores permitiam o trabalho em tanques escavados, em gaiolas. O outro gargalo é o custo que sai muito elevado para esse pequeno produtor. Segundo a burocracia. São processo que rolam desde 2008, que só agora estão sendo concluídos. E mesmo com a possibilidade desses tanques, que estão já obedecendo a lei, há um corte nesse volume solicitado para a exploração, fica em valores inferiores daquilo que a própria lei e a instrução normativa preveem.

E quais as soluções nesse caso?

É preciso uma integração maior entre todos os órgãos de iniciativa privada, governo e a academia também, com suas pesquisas, para que possamos além da outorga e a licença termos boas condições para que a produtividade e a competitividade aumentem.

Nesse contexto, qual a contribuição do Plano Safra da Pesca?

O plano é excelente, deve impulsionar bastante o potencial produtivo do estado. Mas é preciso frisar precisamos desburocratizar para ter acesso a essas facilidades de crédito.

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Novo modelo é a via do crescimento

Notícia da Tribuna do Norte:

A globalização e o acirramento da disputa entre os países produtores de pescado devem ser tratados pelo Brasil como um sinal de que a aquicultura precisa ter um novo modelo no país. Essa é a opinião do consultor chileno Carlos Wurmann, ao falar no encerramento do Seminário Motores do Desenvolvimento Pesca e Aquicultura. Consultor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura  (FAO e um dos gestores da aquicultura no Chile, Wurmann considera que o Brasil precisa de um modelo mais produtivo para competir com os países asiáticos.

Carlos Wurmann, consultor em organismo das Nações Unidas é um dos responsáveis pelo sucesso chileno na indústria da pesca. (Foto: Alex Régis)

O consultor chileno argumenta que a estagnação do setor no Brasil deve provocar uma “invasão” de produtos da China,da Tailândia, entre outros. Isso porque esses países terão como produzir com mais qualidade e com preços mais acessíveis. Isso faria com que uma séria competição com os produtores do mercado interno acontecesse. “O Brasil pode até brecar essa chegada por um, dois ou três anos, mas se não houver um modelo mais competitivo dentro do próprio país fatalmente irá sucumbir a essa competição”, disse Wurmann. Hoje, segundo Wurmann, 60% da produção de aquicultura no mundo é da China. Outros países que se destacam na produção são responsáveis por mais 22% da produção. Ou seja: a aquicultura está concentrada em poucos locais.

Para conseguir um modelo mais produtivo, é preciso desenvolver uma aquicultura baseada em desenvolvimento tecnológico e grandes empreendimentos, na opinião de Carlos Wurmann. “Isso provoca necessariamente uma mudança do modelo praticado no Brasil, hoje centrado principalmente no pequeno produtor. Ao contrário disso, é preciso ter uma indústria forte”, aponta o consultor. A ideia de Wurmann é que uma grande indústria pode ser responsável pelo desenvolvimento tecnológico e “puxar” o crescimento do setor. A mudança de modelo também traria uma diferença: as exportações passariam a ser uma das prioridades. “Uma produção voltada para exportar costuma ter as características competitivas necessárias”, compara.

O chileno citou algumas possibilidades de planejamento para conseguir levar o Brasil ao nível de desenvolvimento desejado. O cultivo do atum, por exemplo. Hoje, poucos países conseguem dominar o ciclo completo do atum e produzi-lo em cativeiro. Apenas a Austrália, o Japão e poucos outros. “O Brasil ainda não percebeu que o cultivo do atum pode ser estratégico para o país nos próximo anos. Não vi ainda nenhuma autoridade brasileira falar nesse assunto e nem pensar no cultivo do atum como estratégico a longo prazo”, disse Carlos Wurmann. Estar limitado a um planejamento de curto prazo é um dos pontos fracos do país, na visão do chileno.

Apesar dos pontos fracos, Carlos Wurmann disse acreditar que o Brasil irá alcançar grandes patamares nos próximos 10 anos, caso o crescimento dos últimos anos continue. “De 1972  até 2010 passou a ser o décimo quinto produtor no mundo, apesar de todas deficiências colocadas na discussão nesse seminário hoje. Então, até 2021 o Brasil será fatalmente o principal produtor pesqueiro do mundo”, analisou.

Nos próximos anos, os países desenvolvidos devem continuar a consumir pescado importado de países em desenvolvimento, segundo Wurmann. Isso porque esses países não conseguem produzir por si próprios uma oferta de pescado à altura de sua demanda. “Alguns países são condenados a serem importadores de pescado por não terem como realizar essa produção”, diz. E complementa: “Ao mesmo tempo, os países em desenvolvimento tem a possibilidade de produzir esse pescado”.

O consumo nos mercados de países em desenvolvimento também deve ser considerado, na opinião do consultor Carlos Wurmann. “Os números mostram que esses países estão crescendo e devem ser potenciais consumidores no futuro”, ressalta.

Problemas com o licenciamento

O processo de licenciamento ambiental para a carcinicultura e a piscicultura permearam os debates da tarde no Seminário Motores do Desenvolvimento. O secretário estadual de Meio Ambiente e recursos hídricos, Gilberto Jales, mediou a discussão entre o diretor técnico do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do RN (Idema) Jamir Fernandes e o coordenador de pesca e aquicultura do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) Pedro Eymard Campos Mesquita.

De acordo com Jamir Fernandes- contradizendo a opinião da maioria dos palestrantes-, o Idema não tem criado dificuldade na tramitação das licenças. No tocante a criação de camarão em viveiros, o diretor técnico disse que o órgão está revendo processos a partir de um parecer técnico que irá avaliar se é carcinicultura é privativa de serviço de pastoril, e ainda sobre a legislação que versa sobre Áreas de Preservação Ambiental de Pesca e Mata Ciliar.

Tais legislação interferem no espaço de recuo em áreas de preservação ambiental, que para os médios e grandes produtores variam de 30 a 100 metros. “Estamos revendo os processos e esperamos regularizar até 90% das atividades de pequenos produtores”, afirma Fernandes.

O diretor técnico citou ainda medidas para agilizar o licenciamento, como as apresentações feitas em bloco e inspeções por amostragem, esta última adotada em São Paulo reduz para 15 dias o procedimento. Recentemente, em parceria com a Semarh, o Idema licenciou 14 tanques para o cultivo de peixe, no interior do Estado.

“Estamos dispondo na Internet, ferramentas para fazer o pedido de licenciamento e encaminhar documentos digitalizados, tudo para dar celeridade às análises”, disse.

O secretário Gilberto Jales lembrou que o órgão estadual de fiscalização ambiental não está acima da legislação federal. “O Estado só pode intervir, se for para restringir ainda mais qualquer uso ou atividade. Adequando a realidade local”, disse. O secretário citou a elaboração do estudo da capacidade dos reservatórios aquiferos do Estado, ” que se arrastam há anos”, como uma das ferramentas para dar respostas mais eficazes a demanda da aquicultura.

O coordenador de pesca e aquicultura do DNOCS, Pedro Eymard Campos Mesquita, criticou o mau uso de barragens, como a Armando Ribeiro Gonçalves, no Açu, para a piscicultura. A produção poderia chegar a 15 mil toneladas por ano ali. No reservatório do município de Pentecostes, mesmo com 23% da capacidade, produz por ano 20 mil toneladas de tilápia “sem comprometer a qualidade da água para consumo humano”, observa Mesquita.

O coordenador defendeu políticas de produção que deem condições de trabalho e comercialização. “Para sair da pesca como forma de sobreviver para se tornar uma atividade comercial”. Para ele, é necessário para um pequenos produtor se estabelecer a exploração de 40 tanques-redes, de 2x2x1 metros de profundidade, com vistas a uma produção “em um espelho de água de dois hectares”. NO caso de tanque escavados, a destinação de pelos menos seis tanques, ou seja o cultivo 18 mil metros quadrados. “Esses parâmetros permitem uma produção ininterrupta”, disse.

Itamar Rocha critica “inércia” do Estado

Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), apresentou números do setor no Brasil e no mundo e criticou a inércia das autoridades brasileiras, que têm assistido a queda da produção e aumento da importação de pescado pelo país. Ele voltou a falar sobre a dificuldade para obter licenças no Rio Grande do Norte, o risco de importar camarão de países sem tradição no setor como a Argentina, e as limitações trazidas pelo novo Código Florestal, aprovado com vetos pela presidenta Dilma Roussef.

Muitos dos gargalos que atravancam o setor a carcinicultura e o setor pesqueiro de modo geral, segundo ele, passam pelo Estado. “Estamos perdendo espaço por pura incompetência”, afirmou.  Segundo Itamar, o culpado pelo atraso do setor não é o IBAMA, como se chegou a dizer, “mas o Estado, que é quem licencia”. Sem medo de atingir as autoridades, afirmou que de nada adianta ter ‘todo este potencial’, se nada é feito para aproveitá-lo. Ele citou o caso de países asiáticos, como o Vietnã, que mesmo com menor extensão territorial, conseguem produzir mais do que o Brasil. “Vamos encarar as coisas com seriedade. O Vietnã começou a produzir camarão ‘ontem'”, afirmou. “Nenhum país precisa de licença. E aqui precisa. Precisa e ninguém dá”, acrescentou.

Para Itamar, que reafirmou que processaria o ministro da Pesca, Marcelo Crivella, e a presidenta Dilma Roussef, se autorizassem a importação de camarão argentino como chegou a ser anunciado pelos órgãos argentinos este ano, falta apoio para o setor. “A nossa produção é ridícula. O mundo inteiro está aumentando a produção e nós estamos reduzindo. O RN, que já chegou a exportar 21 mil toneladas, passou a exportar 72. Por que? Porque o produtor é incompetente? Não”.

Embora cobre apoio do governo, Itamar se diz cético. “As pessoas continuam acreditando nos programas milagrosos. Mas se a sociedade não se mobilizar, eles não passarão de um anúncio. Do R$ 1 bilhão anunciado no último plano para o setor, só saiu R$ 13 milhões”. O novo Código Florestal só incluiu trechos desfavoráveis ao setor, porque, segundo ele, não houve apoio político. O Rio Grande do Norte, que já foi o maior exportador de camarão, perdeu a liderança e hoje comercializa toda a produção no Brasil.

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