Notícia publicada na Tribuna do Norte:
Entrevista – Ivonildo Rêgo
Diretor do Instituto Metrópole Digital
Nadjara Martins
repórter
Das 631 escolas da rede pública da Região Metropolitana de Natal, metade não possui acesso à internet. Outros 50% tem banda de internet com, no máximo 370 quilobites (KB) – uma velocidade menor do que as fornecidas por operadoras de telefonia para a internet móvel, que é de no mínimo um megabite (MB) por dia. A deficiência foi constatada em um estudo do Instituto Metrópole Digital, da UFRN, realizado neste ano. Entretanto, esse panorama deve mudar até o final do primeiro semestre de 2015. O IMD iniciou, neste ano, um projeto para implantação de fibra ótica nas escolas da rede pública de Natal, que assegurará banda larga de até 20MB para as unidades. Segundo o diretor do Instituto, José Ivonildo Rêgo, 130 km de fibra ótica já foram instalados pelo projeto Rede Giga Metrópole. O papel da universidade para o desenvolvimento será abordada na 21ª edição do seminário Motores do Desenvolvimento, que acontece dia 8 de setembro, na Fiern. O tema será “Internacionalização e interiorização: desafios e oportunidades”. Confira a entrevista com Ivonildo Rêgo:
Como surgiu o Metrópole Digital?
O projeto começou em 2009, idealizado pelo então deputado federal Rogério Marinho, que alocou emenda parlamentar (R$ 45 milhões) e convidou a universidade para executá-lo. Fomos ao Ministério da Ciência e Tecnologia, no final de 2008. No ano seguinte conversamos com a Finep, aproveitamos as ideias iniciais e redesenhamos o projeto. Em 2011, a UFRN institucionalizou a proposta, criando o IMD, e quando eu saí da reitoria assumi a direção. O Metrópole tinha como preocupação a inovação, mas na verdade a proposta é ligar o conhecimento ao mercado. Veja que é um instituto mais para fora da universidade, quase no final do campus universitário.
Qual era a importância do projeto para a UFRN?
O IMD fazia parte de uma série de ações que denominamos de projetos estratégicos, que tinham como preocupação qualificar fortemente a universidade naquilo que é mais importante para uma instituição universitária: inovação, interdisciplinaridade, inovação e inclusão. Trabalhamos os quatro elementos nesses projetos estratégicos. Por exemplo, o Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) trabalhou muito a inclusão, com expansão de vagas. Já o Instituto do Cérebro, que hoje é referência mundial, foi muito importante para a pesquisa, interdisciplinaridade e internacionalização.
A proposta do IMD também é ser internacional?
Todos esses institutos têm um grau dos quatro elementos, mas o nosso foco era a inovação porque o objetivo é fomentar a criação de um polo tecnológico no Rio Grande do Norte. A indústria de Tecnologia da Informação (TI) ainda é muito fraca noeEstado, incipiente. Essa é uma indústria que depende essencialmente de capital humano. Portanto, a centralidade do instituto é capacitar pessoas e empresas nesta indústria.
Quais cursos vocês oferecem?
O IMD oferece cursos técnico, superior e também funciona como uma incubadora de empresas, que é a Inova Metrópole. Quando se fala em incubar, quer dizer preparar uma empresa para se lançar no mercado, trabalhando o produto, as parte jurídica, econômica. Nós dizemos que do primeiro ao terceiro andar nós oferecemos graduação para pessoas físicas, e no último andar nós graduamos pessoas jurídicas. As empresas são assistidas em tudo.
Quantas empresas estão incubadas?
Hoje temos estrutura para incubar até 50 empresas, mas temos 12 incubadas e outras dez pré-incubadas. Essas empresas podem passar até três anos instaladas no instituto, a partir daí elas precisam se lançar no mercado. No final deste ano vamos graduar a primeira empresa, que já tem 75 pessoas trabalhando: a SigSoftware (criadora do Sigaa e SigEduc). É uma empresa genuína da universidade.
Qual é a capacidade hoje do instituto para cursos de graduação?
Temos cerca de três mil alunos, mas estamos com mais 1680 vagas abertas para o curso técnico. O curso técnico em Tecnologia da Informação é de 18 meses, depois o aluno escolhe a ênfase, que pode ser em jogos digitais, que abrimos esse ano, informática para internet, redes de computadores, eletrônica e automação industrial. Para o cursos são apenas 200 vagas, as demais são para o curso semi-presencial, em que o aluno precisa ir ao polo apenas uma vez por semana. (Os polos ficam em Mossoró, Angico e Caicó).
O sistema é semelhante ao bacharelado em Ciência e Tecnologia…
Sim, e o bacharelado em Tecnologia da Informação também. É um modelo integrador, em que o aluno pode montar o cardápio que quiser. Do ponto de vista da formação, criamos o bacharelado em TI para integrar cursos que já existiam, como engenharia da computação, engenharia de software e ciência da computação. O curso tem 2400 horas de disciplinas comuns. Depois, o alunos pode escolher a área em que deseja se especializar, mas ele também pode não escolher uma área específica e montar as disciplinas que quer pagar. Nesta primeira parte o aluno é formado bacharel e pode ingressar em uma pós-graduação, se quiser. Neste modelo, o aluno monta a graduação, é flexível, e no final sai com dois diplomas.
E a evasão?
A área de tecnologia da informação é uma área de reprova muito. A taxa de sucesso no Brasil é de 18%, aqui é de 30%. Outro problema é que esse é um curso que depende principalmente da matemática e 70% das vagas são para a escola pública, em que o aluno já vem com uma deficiência. Por isso, nós montamos um acompanhamento, uma espécie de prova de proficiência em matemática. Depois o aluno faz um curso de imersão.
Quais são os projetos do IMD para os próximos anos?
Em apenas dois anos, nós já começamos a oferecer bolsas de pós-graduação: uma residência em engenharia de software e um mestrado profissional na área de engenharia de software. Temos mais um pedido na Capes para um novo mestrado, em sistema embarcado, microeletrônica e instrumentação.
Para além da formação, não há nenhuma parceria com empresas de fora, multinacionais?
Hoje algumas empresas já oferecem cursos de complementação para os alunos, como a Nokia e a IBM. Nosso objetivo é buscar novas parcerias. Uma multinacional já se interessou pelos produtos de uma das nossas empresas incubadas, que é a Ciência Ilustrada Studio, do Francisco Iroshima. Ele desenvolveu um aplicativo que ajuda a realizar exames de oftalmologia pelo celular.
Falava-se muito que o IMD foi criado com base no projeto Porto Digital, em Pernambuco. Temos capacidade para ter um parque tecnológico daquele tipo?
Sim, nós tomamos como base o Porto Digital, mas focamos em uma estrutura de formação que ele não tinha. Claro que lá existiu uma parceria muito forte entre o Estado, as empresas e a universidade. Mas a nossa preocupação não é ter um condomínio que abrigue as empresas como um parque tecnológico, mas colado à universidade. Assim podemos agregar empresas de tecnologia, atrair multinacionais e também fornecer profissionais. Nosso foco é ter uma boa estrutura de formação em TI, que é a área que possui maior déficit em pessoas qualificadas. Além disso, também somos credenciados pela Lei de Informática junto ao MCTi, para buscar recursos. Dessa forma você vai gerando uma corrente positiva para desenvolvimento em TI no RN.
O IMD anunciou, recentemente, a criação da Rede Giga Metrópole. O que é esse projeto?
Já existe uma Rede Giga Natal, que interliga o campus da UFRN às unidades de pesquisa. Já a Giga Metrópole prevê uma interligação por meio de internet de alta velocidade nas escolas da rede pública dos dez municípios da Região Metropolitana. Veja, isso engloba 40% da população do Estado. São 400 km de fibra ótima instalada, das quais já estamos finalizando a primeira etapa, que são os 130 km de tecbond (ramal principal da rede). Funciona como uma rede de alta tensão de energia, como a primeira passagem da rede fosse nos postos e a segunda a ligação para as casas. Temos a previsão de que metade das 631 escolas do projeto serão beneficiadas até o fim do primeiro semestre de 2015.
Qual a importância dessa rede?
O Metrópole Digital já tem uma participação importante do ponto da inclusão social, por meio dos cursos técnicos, dos alunos da rede pública. Agora, nós complementamos com a inclusão digital, que vai nos aproximar das escolas, facilitar a chegada de projetos de treinamento e videoconferências. Há algum tempo temos discutido a importância de uma integração digital em todo o estado. As infovias hoje são tão necessárias ao desenvolvimento quanto rodovias e infovias. É importante para a educação, para os serviços públicos e até para a atração de empresas para o Estado.
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