Venda online cresce e rua perde força

15 de setembro de 2014

Saiu na Tribuna do Norte:

Em meio aos eletrodomésticos e móveis usados à venda em sua loja no Alecrim, Zona Leste de Natal, Iris Metieres busca entre um clique e outro produtos para colocar à venda em seu estabelecimento. Já no bairro Emaús, em Parnamirim, Mateus Alohã Lopes e a esposa Gabriella Balduíno tentam arranjar um comprador para seu ar-condicionado em um site de classificados gratuito. Seja entre donos de loja ou pessoas físicas, a venda de usados pela Internet tem crescido no Rio Grande do Norte e parece ter vindo para ficar.

Embora as plataformas de venda online sejam vistas como um dos motivos para a queda de cerca de 30% no faturamento do comércio de rua de usados, há quem se beneficie delas para encontrar produtos para revenda.

Vendas de produtos usados aceleram em sites de classificados online e nas redes sociais. No comércio tradicional, de rua, há queda. (Foto: Alex Régis)

Vendas de produtos usados aceleram em sites de classificados online e nas redes sociais. No comércio tradicional, de rua, há queda. (Foto: Alex Régis)

Só no site bomnegócio.com, que disponibiliza o serviço de classificados grátis desde julho de 2011, o Rio Grande do Norte já registrou R$ 400 milhões em movimentações comerciais com a plataforma. Os anúncios de usuários do RN já representam de 10% a 15% do total no Nordeste, deixando o Estado na quarta posição no ranking da região.

Crescimento

No Brasil, o bomnegócio.com tem mais de 4 milhões de anúncios. A maioria é feita por pessoas que desejam se desfazer de algum produto usado. “O bomnegócio cresceu do ano passado para cá em mais de 95%”, diz a gerente de produto do site, Loren Monteiro.  “O mais legal é que as pessoas conseguem vender uma coisa que às vezes está em casa, sem utilidade, e que acaba sendo útil para outra pessoa. Antes, as pessoas com esses interesses não se encontravam e nós acreditamos que a tendência é que isso aumente”, diz a gerente.

Outro site que dispõe do serviço de classificados gratuito é o OLX. Sem revelar quanto as vendas movimentam no Estado, a empresa calcula que no RN já são mais de 83 mil anúncios postados no site.  “Isso coloca o Estado como um dos principais mercados para compra e venda de itens usados pela Internet”, diz Maria Elisa Silva, gerente de marketing da OLX Brasil.

O mercado brasileiro de vendas de usados na Internet tem crescido de forma acelerada no país, diz Maria Elisa. “Em 2013, a OLX teve crescimento de 200% no número de anúncios e, neste ano, projetamos incremento de 150%.  Aos poucos, os brasileiros começam a incorporar o hábito de compra e venda de usados pela internet”, diz.

No Brasil, o OLX tem mais de 8,7 milhões de anúncios ativos e recebe uma média mensal de 26 milhões de visitantes únicos, um crescimento de 91% quando comparado com o primeiro semestre de 2013.
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O crescimento das vendas de usados acompanha o ritmo do comércio eletrônico como um todo, incluindo produtos novos vendidos por lojas. Segundo o MercadoLivre, que tem 110 milhões de usuários na América Latina, o comércio na web cresce em média 18% ao ano. Hoje, cerca de 20% dos produtos comercializados via MercadoLivre são usados.

“Facilidade” atrai compradores e vendedores

Para uns, o serviço de venda pela Internet é sinônimo de comodidade. É o que argumenta o técnico de telecomunicações Mateus Alohã Lopes, de 25 anos, que reside em Parnamirim. “É mais fácil. Como a gente trabalha o dia todo e nem sempre está disponível para procurar um comprador, acaba optando pela Internet. Assim a gente não esquenta a cabeça e aguarda em casa que os interessados nos procurem em busca dos produtos”, opina.

Mateus começou a vender na Internet há três anos, junto com a esposa, a publicitária Gabriella Balduíno, de 32. “No início, eu não confiava muito no poder dos sites para vender, mas quando vi que dava certo, fiz mais anúncios e isso se tornou meio que um vício. O que eu tiver para vender, agora vendo pela Internet”, conta.

Por outro lado, há quem não tenha gostado muito da novidade e ainda procure se adaptar à nova realidade. Dona de uma loja de usados no Alecrim, Iris Metieres, de 40 anos, conta que o comércio desse tipo de mercadoria no bairro “parou”. “A gente suspeita que as vendas na Internet estejam entre os motivos. O fato é que tivemos queda de 30% do ano passado para cá”, relata. “Mas a gente também compra na Internet e revende aqui”, comenta.

Segundo Iris, cada vez menos pessoas procuram as lojas do Alecrim para vender usados. “O pessoal que vinha oferecer aqui na porta não vem mais, anuncia tudo na Internet”, diz.

Internet já impacta comércio tradicional

Na região do bairro do Alecrim  conhecida como “Vuco-Vuco”, nos arredores do cruzamento da Avenida Presidente Bandeira com a Rua dos Pajeús, está a Loja Antigos e Usados. Os móveis dela não podem ser encontrados na Internet. E se depender da proprietária do estabelecimento, dona Joana D’Arc Azevedo, de 57 anos, os produtos nunca chegarão à web. Já Wellington Melo, corretor de imóveis de 34 anos, pensa bem diferente: não só utiliza os sites de classificados como também os grupos de Facebook do RN, que transformam a rede social num verdadeiro “Vuco-Vuco” virtual.

De 2013 até hoje, segundo Joana D’Arc, as vendas de seus móveis antigos caíram em 30%. Ela vê na facilidade das compras pela Internet o motivo para o faturamento ter encolhido. “Tem gente que não quer sair de casa, só pede pela Internet e espera o produto chegar. O pessoal que vende tem reclamado muito da facilidade da Internet”, conta.

Ainda assim, ela avalia que dá para se manter vivendo apenas das vendas offline. “Até porque é o que a gente aprendeu a fazer. Às vezes demora a sair, mas a gente ainda vende o suficiente”, explica.  Joana D’Arc sustenta que o negócio de usados nas ruas ainda deve durar. “Nos bairros tem muita gente que vende usados. Na Estrada da Redinha tem coisa, e também para os lados do Planalto”, comenta.

Por outro lado, Seu Carrinho, como é conhecido o fundador do Vuco-Vuco, discorda da tese de que o comércio de usados na rua vá durar muito. Com 80 anos, sendo 55 deles dedicado às vendas de usados no Alecrim, desde móveis até sanfonas – que segundo colegas da rua são o forte dele – Seu Carrinho reclama do movimento em baixa na região e diz que a queda nas vendas vem de anos atrás, já com a chegada de lojas maiores de produtos novos. “Me expulsaram do meu ponto. Minhas vendas diminuíram em 90%”, afirma, desapontado e sem sequer revelar o nome à reportagem. Frequentadora assídua do Vuco-Vuco, dona Angelita Maria da Silva, de 83 anos, ou “Pituta”, como se apresenta, diz que comprava muitos móveis no Alecrim para revender. Isso há 50 anos. “O Vuco-Vuco foi o que me deu a vida. Negociava com tudo no mundo. Já não é mais como era antes”, relata.

Redes sociais

Bem diferente do ritmo pacato registrado nas lojas do Alecrim, no Facebook, as publicações não param de brotar nos vários grupos de venda de usados. Exemplos disso são o “Venda Tudo Aqui Rio Grande do Norte” e o “Vuco-Vuco Natalense”, grupos onde se encontra de tudo: imóveis, celulares, óculos de sol, banheiras de bebê e até cadarços luminosos para tênis.

Para o contador Wellington Melo, que anunciou um micro-ondas, um sofá e uma TV, a rede social é hoje uma maneira a mais para divulgar os produtos. “Facilita tanto para quem está procurando como para quem está vendendo”, explica.  No Facebook, diz ele, as propostas acabam vindo mais rápido. “Comecei a anunciar há pouco tempo. Já fazia isso com imóveis, porque sou corretor, mas do meio do ano para cá decidi anunciar outras coisas”, conta.

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