Via Costeira tenta despertar como espaço para o lazer dos natalenses

8 de abril de 2013

Matéria publicada no portal No Ar:

Uma via expressa que conecta as zonas Leste e Sul de Natal. Um ponto de passagem. Uma região onde se concentra uma das maiores redes hoteleiras do Brasil. Um dormitório. Uma área privilegiada para se apreciar as belezas naturais da capital potiguar. Uma praia pouco frequentada pelos natalenses. Dependendo do ponto de vista, a Via Costeira pode representar muito, ou quase nada. Se por um lado abriga milhares de turistas e gera empregos, por outro desde que foi construída, em meados da década de 80, a Avenida Dinarte Mariz nunca se consolidou como espaço público. Entretanto, em uma coisa a maioria concorda: a Via Costeira ainda tem muito potencial a ser desenvolvido.

O projeto Via Costeira Viva interditará trecho da avenida a partir da rotatória do Centro de Convenções. (Foto: Alberto Leandro)

O projeto Via Costeira Viva interditará trecho da avenida a partir da rotatória do Centro de Convenções. (Foto: Alberto Leandro)

Estreando neste domingo (7), o projeto Via Costeira Viva, que interditará dois quilômetros e meio da avenida para usufruto da população, é mais uma tentativa de aproximar o natalense da região. O antigo clube e hoje desativado Vale das Cascatas, que recebia famílias nos fins de semana, foi algo de concreto há algum tempo. Já os mirantes e acessos previstos no primeiro projeto da Costeira, de 1978, e mais recentemente a prometida área de lazer no trecho do bairro de Mãe Luíza, não passaram de sonhos. Do que estava no papel saíram os hotéis, uma cervejaria e um restaurante, todos construídos pela iniciativa privada.

O diretor do hotel Vila do Mar e presidente do Polo Turístico da Via Costeira, Luís Sérgio Barreto, um dos idealizadores do projeto, explica que a ideia é justamente “humanizar” a região. “Queremos mudar um pouco o conceito para que deixe de ser um dormitório e se torne uma área de lazer”, afirma. Para o secretário estadual de Turismo, Renato Fernandes, é a chance de “quebrar paradigmas” relacionados ao uso público da Costeira. “Estamos entregando para que Natal a utilize”, diz.

Além do pontapé inicial dado neste domingo, Luís Sérgio Barreto revela que um plano de reurbanização da avenida vem sendo discutido entre hoteleiros, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a gerência estadual da Superintendência do Patrimônio Público da União (SPU/RN). “Com a recente discussão sobre a Via Costeira ser uma Área de Proteção Permanente (APP) e não poder receber construções degradantes, tem sido discutida também essa revitalização. E nesse debate estão sendo discutidos usos públicos”, explica a superintendente estadual da SPU/RN, Yeda Cunha de Medeiros, que também integra a equipe.

Atuante e crítico de longa data quando o assunto é Via Costeira, o presidente da Associação Potiguar Amigos da Natureza (Aspoan), Francisco Iglesias, elogia a iniciativa de tornar a avenida um espaço público, mas rememora o mau planejamento. “A Via Costeira nunca existiu para Natal e nem Natal para ela. A duplicação feita em 2008 foi um desastre ambiental e urbanístico, além de ter tirado a única ciclovia que havia. Nunca foi investido no potencial. Se as coisas da cidade forem feitas para o cidadão também beneficiarão o turista”, avalia.

As reuniões do grupo de trabalho que discute a revitalização ocorrem desde dezembro, porém o projeto ainda está em fase preliminar. “Com as dificuldades para a construção de novos hotéis vão sobrar muitos espaços livres e aí vai se discutir com órgãos ambientais qual a melhor forma do ponto de vista, primeiro da preservação, depois do uso, que pode ser dada àquilo para que a sociedade natalense e turistas tenham acesso”, detalha Yeda Cunha. Para Luís Sérgio Barreto, antes de qualquer decisão ou investimento, é preciso planejar com cuidado esse novo conceito da Via Costeira.

Infraestrutura para criar demandas

Presidente do Polo Via Costeira revela que grupo de trabalho vem elaborando plano de revitalização para a avenida. (Foto: Alberto Leandro)

Presidente do Polo Via Costeira revela que grupo de trabalho vem elaborando plano de revitalização para a avenida. (Foto: Alberto Leandro)

“O banhista não vem para cá porque não tem linha de ônibus? Ou não tem linha de ônibus porque o banhista não vem para cá?”, questiona o presidente do Polo Via Costeira ao ser perguntado se a infraestrutura de transporte impede o natalense de aproveitar a Via Costeira. Luís Sérgio Barreto argumenta que historicamente as praias ao longo da avenida sempre foram pouco utilizadas, e na maioria das vezes por surfistas e mais recentemente por praticantes de parapente. “O que é impeditivo? O transporte ou a tradição?”, reforça.

Atualmente apenas a linha de ônibus 56, que tem uma frota de nove veículos, atravessa toda a Via Costeira. As outras três que passam pela avenida trafegam por um trecho pequeno. De acordo com a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), a pouca disponibilidade se deve justamente à falta de demanda. O horário de circulação, encerrado antes da meia noite, prejudica até mesmo o funcionamento dos hotéis, que liberam os funcionários mais cedo. A Semob tem estudado junto ao Polo Via Costeira uma extensão do horário, contudo as limitações permanecem.

Como a linha atende apenas o trecho que vai de Ponta Negra até o bairro da Ribeira, a maioria dos funcionários precisa pegar dois ônibus para chegar em casa. Para o natalense que não reside nesse caminho, a realidade é a mesma para ir à Via Costeira. Fabiano da Silva, integrante do movimento Bicicletada Natal, compara o caso com o do Parque da Cidade. “É um lugar interessante e bonito, mas não tem linha de ônibus. Existe a própria movimentação da sociedade em querer esse espaço de volta com pessoas praticando esportes todos os dias. Isso já desperta curiosidade e a demanda começa a partir desse momento”, opina.

No projeto Via Costeira Viva, o secretário de Turismo explica que o próprio espaço inicial de interdição e o horário de funcionamento serão alterados conforme as necessidades. “Se o chamamento for atendido, nós vamos ampliando”, ressalta. Além do transporte, Fernandes lembra que outras questões deixam a desejar na Costeira, como a segurança pública e a iluminação na avenida. Para esse primeiro domingo o policiamento será reforçado.

Quanto à iluminação, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) vem trabalhando na manutenção dos postes da avenida, porém o diretor do setor no Município, Antônio Fernandes, acredita que o problema só será resolvido em definitivo com a troca dos equipamentos. Uma licitação, inclusa no recém anunciado Projeto Orla, da prefeitura, deve ser lançada em um prazo de 50 dias. “Não temos como fazer um serviço dessa grandeza no momento”, justifica. Recentemente o trecho mais afetado pela ficava entre os hotéis Imirá Plaza e Vila do Mar, onde a escuridão vinha tomando conta da Costeira.

Equipamentos públicos só no papel

Secretário de Turismo explica que ampliação do espaço vai depender da participação do público. (Foto: Alberto Leandro)

Secretário de Turismo explica que ampliação do espaço vai depender da participação do público. (Foto: Alberto Leandro)

A Via Costeira dos mirantes, áreas de lazer e escadarias para a praia está no papel deste 1978, quando o primeiro projeto de ocupação da avenida foi elaborado. De lá para cá, o mais próximo que se esteve de construir equipamentos públicos na avenida foram a garantia de recursos para uma área de lazer para o bairro de Mãe Luíza em meados da década passada e a criação de uma lei tornando obrigatória a construção de 13 acessos para a praia em 2001.

Localizada entre os bairros de Petrópolis e a praia de Areia Preta, zona Leste de Natal, a comunidade de Mãe Luíza historicamente não tem uma relação das mais amigáveis com a vizinha Via Costeira. O presidente do Conselho Comunitário do bairro, Nílson Venâncio relembra. “Há uns dez anos a praia que a comunidade usava foi cercada, o que gerou protestos. Até hoje os hotéis não permitem o acesso a determinadas áreas. E quando se falava na área de lazer, os hoteleiros foram contra”, conta.

Atualmente, Venâncio explica que o uso da Costeira por parte da comunidade é pequeno. “Tem o pessoal que faz caminhada e pessoas que têm a pesca como momento de lazer. O pessoal desce na praia em frente ao bairro, mas em determinadas áreas os hotéis não aceitam a presença deles. O pessoal do surf vai mais para a praia de Miami e os banhistas vão para Areia Preta e também à praia da Via Costeira”, relata.

Com recursos que chegaram a R$ 1 milhão garantidos em emendas federais da deputada Fátima Bezerra, o projeto da área de lazer empacou em burocracia, dívidas e pendências em certidões da Companhia de Dados do RN (Datanorte), proprietária do terreno, que não conseguiu liberar o espaço para a prefeitura construir o equipamento nos anos 2000.  “O prefeito Carlos Eduardo acabou fazendo um acordo para investir a verba em outras áreas da cidade para que o recurso não se perdesse”, diz Venâncio.

Acessos

Dos 13 acessos à praia criados e oficializados pela Lei número 7942, de 2001, apenas dois estão construídos. São as descidas localizadas na altura da Cervejaria Continental e do hotel Marsol. As demais estruturas estão lá, mas na forma de declives marcados em vermelho ao longo da calçada. Os espaços ficaram de ser viabilizados quando a avenida passou por intervenções urbanísticas em 2008. De acordo com Yeda Cunha, da SPU/RN o projeto executivo da Thenge Engenharia, empresa que fez a obra de duplicação da via, previa cada acesso com 12 metros de extensão, além de ciclovia, estacionamento, rampa e escadaria.

Ainda em instância administrativa, um processo de acompanhamento das medidas para construção dos acessos tramita no Ministério Público Federal (MPF). Assinado pelo procurador federal Ronaldo Sérgio Chaves Fernandes, o documento é de 2004 e virou um inquérito civil seis anos depois, sendo prorrogado até agora.

Preocupado com a construção precipitada dos acessos, o presidente do Polo Via Costeira cita o caso das descidas da cervejaria e do Marsol. “A frequência é pouca. As ruas de 12 metros terão estacionamento suficiente? Para mim tem de haver planejamento global, pois quando se pensa estacionamento, é preciso pensar em área de lazer, área de comércio, de banco, tudo”, analisa. Dentro do grupo de trabalho que discute o plano de revitalização da avenida, Yeda Cunha  levanta a possibilidade de reformatação dos acessos para a praia. “Os acessos poderão até ser outros, ou feitos de outras formas. Já estamos discutindo com a UFRN”, lembra.

 Atrações

A partir das 16h a Via Costeira será fechada no sentido na altura da rotatória do Centro de Convenções até o hotel Pestana, algo em torno de dois quilômetros e meio no sentido da pista que vai da praia de Areia Preta para Ponta Negra. Do outro lado da via, o trânsito será dividido nas faixas nos dois sentidos de tráfego. O Centro de Convenções e os hotéis disponibilizarão o estacionamento para o público. Também haverá distribuição de água mineral para a população.

Às 18h começa a apresentação musical do evento, que desta vez ficará a cargo da banda potiguar Rosa de Pedra. O Via Costeira Viva será encerrado às 19h. Por se tratar de um projeto piloto, o secretário estadual de Turismo, Renato Fernandes, diz estar aberto a sugestões para os próximos fins de semana. “Já sugeriram a montagem de uma pequena feira de artesanato. Enfim, estamos abertos a ideias de quem queira contribuir. O evento ocorrerá todos os domingos”, encerra.

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Costeira Viva estreia e surpreende organização do evento

O projeto piloto do Costeira Viva, realizado na Via Costeira, no domingo (7), atraiu bom número de famílias e pessoas surpreendendo as melhores expectativas dos organizadores. Os 2,3 quilômetros interditados de uma das faixas da Via ficaram preenchidos de pessoas de todas as idades e com os mais diferentes fins: caminhar, andar de bicicleta, patins, skate, reunir a família para um momento de lazer ou para assistir o show da banda potiguar Rosa de Pedra, ao final do evento.

Para o secretário estadual de Turismo, Renato Fernandes, muito ainda pode ser feito para agregar valor ao projeto. “Mas para uma estreia ficou além do que pensávamos. Estamos muito satisfeitos com a resposta da sociedade natalense à ideia e já estamos ouvindo sugestões para as próximas edições. Não há mais volta. A Via Costeira voltou a ser do natalense e estaremos a cada domingo aqui, cada vez melhor”, disse o secretário.

Entre os serviços ofertados, enfermeiras mediam pressão arterial, a Abrasel distribuiu água mineral de graça e equipes da Semob promoveram instantes de interação para as crianças com jogos de memória, dominó e lápis de cor e papel para desenhos.

A ideia de uma feirinha de artesanato será estudada e poderá ser implantada já nas próximas edições. O evento contou com a segurança das polícias Militar e Rodoviária Federal, do Corpo de Bombeiros e da Samu Natal. Nenhum registrou qualquer tipo de incidente.

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