Projeto de inclusão transforma vidas de jovens em Natal

16 de julho de 2012

Deu no caderno de Cidades do Novo Jornal

OLHANDO PARA TRÁS, Taisa Santos, 24, consegue até sorrir. Mas o que o largo sorriso representa está longe de ser saudade. É a prova inquestionável da superação. Ela é uma das 130  jovens natalenses resgatadas pelo projeto ViraVida e inseridas no mercado de trabalho. Antes garota de programa, hoje assistente administrativa de um restaurante, a menina que saiu da casa dos pais aos 15 anos de idade enxerga o futuro com muito otimismo. O presente, ela vê com muito amor…. próprio. “Hoje eu tenho valor!”

O projeto que mudou a vida de Taisa foi Idealizado por Jair Meneguelli, presidente do Conselho Nacional do SESI. A capital potiguar foi escolhida como uma das cidades para ser sede do piloto ainda em 2009. De lá para cá já foram investidos na iniciativa mais de R$ 2 milhões na formação de jovens entre 16 e 21 anos, de acordo com o coordenador local do projeto, Gilson de Medeiros Costa. Cada beneficiado recebe uma ajuda de custo mensal, além de atendimento psicológico e odontológico. Quase 200 jovens já estão aptos ao trabalho em Natal e outros18 estão em processo de formação.

Foto: Novo Jornal

Na última terça-feira, 10, foi oficializada a formatura de 90 deles dos cursos de introdução aos serviços de hotelaria, operador de supermercado e lanchonete, desenho de moda e assistente administrativo. No meio dos formandos,estava Taisa.

“E já tinha decidido que não ia participar da formatura. Não ia de jeito nenhum, a não ser que eu conseguisse um emprego. E Deus fez isso no último dia. Aluguei um vestido, ganhei um sapato e estava lá linda. Eu era a mais linda (risos). Brincadeira (risos)”, contou Thaisa, que começou a trabalhar no restaurante do Hotel Nobile Suites, em Ponta Negra, no dia em que se formou.

Junto com Thaisa, recebendo o diploma diretamente da mão de Meneguelli, estava dois jovens, que além dos sonhos de um futuro melhor, dividem hoje o mesmo ambiente de trabalho: o garçon Pedro Alisson Dionísio, 20 , e a talentosa assistente de cozinha – também flautista, cantora, poetisa e boleira – Amanda Martins Venâncio, 22. Os três foram contratados no mesmo dia, após serem submetidos a uma entrevista bem inusitada. “Ele só olhou para a gente e disse: ‘estão contratados’”, contou Pedro.

O passado é o que menos importa para estes jovens. Mas citá-lo não é um grande problema. “Eu nem lembro mais sabia? Pra mim é uma coisa que passou. E eu também não vou ter vergonha se eu encontrar com um ex-cliente”, contou Taisa, que vendeu o corpo a primeira vez aos 18 anos, por R$ 80 “para pagar a luz e comprar umas besteirinhas para casa”. Aos 15 anos, a jovem já havia deixado a casa dos pais, quando passara a viver comum homem mais velho e usuário de drogas.

Pedro descobriu sua homossexualidade aos 14 anos e começou a fazer programas. Adriana, já mãe, aceitava sair com um ‘solteirão’ mais velho para ter dinheiro e comprar alimento para o filho.“Mas foi só com ele. Eu não era garota de programa de ponto ou de telefone”, justificou.

Mudança de dentro pra fora

Taisa estava disposta a abandonar a vida que levava quando soube do projeto. Ao ver uma ex-colega de programa, trabalhando em uma agência da Caixa Econômica, ela decidiu que iria fazer de tudo para ser uma das beneficiadas da iniciativa. Após passar pela triagem do programa, ela entrou de cabeça e a mudança foi sentida já no começo.

“Eu tinha que estar na aula na hora certa. Se chegasse com certo atraso, não podia entrar mais, e tinha que usar tênis. Era uma rotina a que eu não estava acostumada, mas foi aí que a mudança começou”, conta a jovem que hoje trabalha dois expedientes e tem que acordar todos os dias às 5h da manha. “E venho muito satisfeita. Estou empolgada demais, não vou mentir!”.

Amanda já pensa em fazer a faculdade de música “que é o meu ramo”. Foi durante o Vira-Vida que ela teve a chance de explorar este e outros talentos. Para participar do projeto, foram duas tentativa. A última delas, a mais dramática.

“Eu já tinha participado de uma entrevista, então eu conhecia a psicóloga. Um ano depois, quando encontrei com ela na rua, eu corri nos pés dela chorando e pedi para entrar no projeto porque eu estava desesperada e precisando me prostituir para alimentar meu filho”. contou.

Pedro teve o apoio da mãe para entrar no projeto. Ela soube da iniciativa na Secretaria de Assistência Social do Estado. Ele foi selecionado para o curso de Desenho de Moda. “Mas eu me identifico mesmo com a hoteleria. E minha vida mudou muito de lá para cá. Hoje, estou estudando o supletivo para terminar os estudos e vou fazer minha faculdade de Turismo”, afirmou.

E um dos momentos mais emocionantes que Pedro viveu, se deu no dia em que começou a trabalhar. “Fui visitar minha mãe ainda com a farda. Ela se emocionou, eu me emocionei, meu pai se emocionou. Ela disse ‘meu filho, eu não sabia que você ia mudar tanto’. E até o povo na rua me vê de outro jeito: ‘Pedro você é um executivo!’ (risos) Menos. Ainda não”, brincou.

Empresário se despe de preconceitos

José Martins de Oliveira, dono do restaurante do hotel Nobile, se vê um pouco na história destes jovens. É que ele, hoje empresário, perdeu os pais quando ainda tinha sete anos de idade e a rua foi o caminho encontrado para sobreviver.

Aos nove anos, já vendia bombom na rodoviária, e viu bem de perto como as coisas acontecem. “Ninguém vai te oferecer um prato de comida, mas te dá um cigarro, uma bebida…”, comentou.

Talvez por isso, ele se despiu completamente de qualquer preconceito ao empregar cada um destes jovens. Na descrição do patrão, o primeiro a estendera mão aos três, eles são excelentes profissionais, muito esforçados e com vontade de trabalhar.

Um detalhe é que o empregador sempre fica com os olhos marejando quando fala dos mais novos contratados.O trabalho feito pelo SESI é fortalecido com as parceiras que garantem o auto índice de empregabilidade do programa.Entre os parceiros em Natal, estão a Caixa Econômica Federal, a Associação Brasileira das Indústrias de Hoteis no RN (ABIH), a Coteminas, e algumas pequenas empresas.

Quem quiser ajudar, deve procurar o setor de Responsabilidade da Social da Secretaria Estadual do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas) ou o próprio projeto ViraVida (84 – 3234-1049).“É muito importante que todos ajudem. Estes jovens só precisam que alguém estenda uma mão”, completou Martins.

Meneguelli é o primeiro a atestar o trabalho dos jovens

José Meneguelli. (Foto: blog.tribunadonorte.com.br)

O presidente Nacional do SESI, Jair Meneguelli, em Natal para participar da formatura dos 90 jovens, teve a oportunidade de ver de perto o trabalho de Taisa, Pedro e Amanda. Ficou hospedado no Hotel Nobile Suites, onde os três estão trabalhando. Essa, no entanto, não é a primeira vez que ele se hospeda lá. “Mas agora eu ainda tenho um motivo maior para ficar aqui”, ressaltou, pouco antes de conhecer o empregador José Martins de Oliveira.

Para Menegheli são iniciativas como esta que vão garantir que estes jovens não voltem para as ruas. “A palavra é oportunidade. Inteligência todo mundo tem, talento eles têm, o que falta é oportunidade”, afirmou. O presidente do Conselho Nacional do SESI ainda explicou que o sistema possui condições de formar, pelo menos, 1 mil funcionários em cada estado, mas esse não é o grande objetivo.“A gente não quer apenas formar e obriga-los a se virar no mercado de trabalho. Eles vivem uma situação diferente. A maioria vem de abuso sexual dentro da sua família. Viveram a violência,a droga, o constrangimento, o preconceito. Eles precisam de uma atenção muito maior que um jovem chamado normal”,explicou,

Mesmo empregado, o SESI mantém o acompanhamento ainda durante um ano junto comas empresas que as empregam. E caso, os beneficiados queiram fazer cursos técnicos mais avançados, dentro do Sistema S – cursos pagos -, é garantida a bolsa. “Para eles continuarem, estudando, estudando, estudando. Porque agora é a hora de recuperar o tempo perdido”. Sobre o momento em que está o projeto, ele se mostrou bastante otimista. “Nós começamos comum piloto em quatro capitais, que foram Fortaleza, Natal, Recife e Belém; Hoje já estamos em 18 estados. Isso só nos mostra que o projeto é vitorioso. E com certeza absoluta nós vamos alcançar ainda neste ano os 27 estados. E mais ainda, nós esperamos transformar este projeto em uma política pública”.

Ao longo de quase três anos, mais de 2.200 jovens foram atendidos pelo projeto ViraVida em todo o país. No total, 838 alunos concluíram os cursos e 1.156 estão em processo de formação. Dos formandos, 664 estão inseridos no mercado de trabalho, enquanto o restante participa de processos de seleção e aperfeiçoamento profissional.

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