Quem conheceu o Centro de Convenções de Natal (CCN) na década de 90 dificilmente imaginaria que ele chegaria a ser a estrutura que é hoje. O Estado, na época, destinava R$ 200 mil do orçamento todos os meses só para manter o equipamento e ainda assim as instala-ções eram sucateadas. Hoje, a realidade é bem diferente. Em 2011, o espaço – de 15 mil metros quadrados, dos quais 10 mil m2 é de área climatizada – recebeu mais de 100 eventos, atingido a marca recorde de 290 dias de ocupação.
A estimativa é de que tenham passado pelo local cerca de 650 mil pessoas só no ano passado. De acordo com cálculos da Associação Brasileira de Centros de Convenções e Feiras (Abraccef), esse volume de visitantes representou uma injeção de R$ 130 milhões na economia de Natal. É que o turista de eventos costuma gastar o dobro do que gasta um turista de lazer.
E a expectativa é de que esses números se mantenham em 2012, apesar de tratar-se de um ano eleitoral. Até dezembro próximo, já há eventos confirmados para todos os meses, totalizando 42, entres bailes de formaturas, feiras e congressos nacionais de diversos setores. Todos os números foram apresentados pelo diretor executivo do CCN, Nailson Dantas Azevedo.
Nailson Dantas Azevedo, diretor executivo do Centro de Convenções, defende ampliação do espaço para responder à concorrência com outros estados. (Foto: Ney Douglas)
Se o Centro de Convenções é hoje o que é, muito se deve ao modelo de gestão do equipamento. Apesar de ser uma propriedade do Estado, é administrado pela Cooperativa de Desenvolvimento da Atividade Hoteleira e Turística (Coohtur) desde 1999. O grupo é formado por empresários da rede de hotéis que são indiretamente benei ciados pela captação de eventos para o centro. Cresce o turismo de eventos na cidade, automaticamente aumenta o índice de ocupação de leitos.
O modelo trouxe resultados tão relevantes ao Rio Grande do Norte que outros Centros de Excelência no País estão estudando copiá-lo. O intuito é contratar uma administração semelhante à potiguar para que, assim como aconteceu aqui, se supere a dificuldade de gerir este tipo de equipamento. O Centro de Convenções de Natal é o maior fomentador do turismo na cidade.
Antes de ser assumido pela cooperativa, o Estado tinha dificuldade para tocar o empreendimento. O principal problema era a descontinuidade de gestão. Os administradores escolhidos para tocar o Centro quase nunca eram pessoas especializadas do setor, mas frutos de indicações políticas. Foi assim de 1983 a 1998.
Durante o tempo em que o Estado ficou à frente do Centro de Convenções, o lucro não cobria os gastos. Esse desequilíbrio teve um f m logo que os empresários assumiram a administração. De início, já se enxugou a folha de funcionários, que passou de quase 100 para apenas oito, quantidade que se matem até os dias de hoje. O número de eventos também cresceu de um ano para o outro, mas não se sabe ao certo quanto.
CONTAS PAGAS
Desde 1999, o Centro de Convenções é autossustentável. Só pelo fato de pagar suas próprias contas – o estado não investe um real no equipamento – a estimativa é de que a economia ao longo destes 13 anos já some R$ 30 milhões. E mais que isso, o CCN se tornou lucrativo.
Todo o dinheiro que ‘sobra’ do que já foi aplicado em manutenção do equipamento, é reinvestido no próprio Centro de Convenções. O balanço econômico é feito no início de cada ano. Seja em obras de reparo ou de ampliação, todo o ‘lucro’ é reaplicado em benfeitorias. Por direito acertado no convênio firmado com o Estado, este excedente deveria ser dividido entre os cooperados, mas por decisão unânime eles preferem deixar no caixa do equipamento.
Só em 2011, de acordo com estimativa do diretor executivo do Coohtur, foram aplicados em obras no Centro de Convenções de Natal cerca de R$ 1,5 milhão. Além de obras de ampliação, entram no pacote de gastos as obras de manutenção. Para se ter uma ideia do custo de um equipamento destes, só em consumo de energia o valor pago chega a R$ 350 mil ano. Ainda se tem os gastos com reparos pontuais ou preventivos nas estruturas metálicas na beira da praia, telhados, premissas de alumínio, ar-condicionado.
No momento, por exemplo, há duas equipes contratadas trabalhando entre o forro e o teto do pavilhão Morton Mariz, a mais nova ala do Centro, fazendo manutenção preventiva, aplicando toda a textura necessária para aumentar a durabilidade do equipamento. “É impossível pensar em um equipamento desses sem pensar em manutenção preventiva”,ressaltou Nailson.
Mas o fato do hotel ter aplicado mais de R$ 1 milhão em 2011, não signii ca que esta seja a média de lucro anual. O diretor explicou que este valor é muito relativo. “No ano passado, vou revelar um dado para você, sobrou R$ 500. Mas isso porque em 2011 o volume de investimento foi muito alto e também porque nós fizemos muitos eventos para o governo do estado”, explicou. Nestes casos, não se cobra pela única fonte lucro do Centro de Convenções, que é o valor de locação.
MAIOR FATIA FICA COM PRESTADORAS DE SERVIÇO
Com cada evento realizado no Centro de Convenções, a fatia de dinheiro que fica no empreendimento é apenas o valor da locação. O Estado, dono do CCN, por sua vez, não ganha nada além do que economiza. O governo estadual também pode realizar feiras usando o espaço sem ter gastos com o aluguel das salas.
A maior parte fica mesmo é com as cerca de 140 empresas terceirizadas que prestam serviço a estes eventos. Estas micro e pequenas empresas estão nos mais variados setores, como arte design, montagem de equipamentos, som, alimentação, iluminação e todas as demais partes que compõem um evento completo.
Aliás, o desenvolvimento destas empresas é uma das bandeiras da Coohtur. E devido a esta atenção especial esta ramificação se ampliou e se desenvolveu.Hoje, no momento da captação de eventos, o cliente já toma ciência de que o Rio Grande do Norte tem a mesma estrutura para realizar um evento que São Paulo, por exemplo. Outra consequência deste trabalho junto às MPEs foi a independência total do RN. Hoje, seja qual for o evento, não há a necessidade de se contratar empresas de outros estados.
CENTRO PRECISA DE NOVA AMPLIAÇÃO
O Centro de Convenções de Natal tem 15 mil m2 atualmente. Quando foi passado para as mãos da cooperativa tinha apenas 10 mil m2. Do total atual, mais de 10 mil m2 são de áreas climatizadas. A estrutura suporta um evento de até 7.500 pessoas, como aconteceu no ano passado com o Encontro Internacional de Enfermagem. “Mas se você perguntar se precisa crescer mais, eu respondo que precisa”, ressalta o diretor executivo do CCN, Nailson Dantas Azevedo.
A preocupação é que outros Estados, atentos à importância do Turismo de eventos, estão construindo grandes centros de convenções. O Ceará, um dos maiores concorrentes do Rio Grande do Norte como destino turístico, está investindo pesado em uma estrutura de 75 mil m2. A Paraíba, por sua vez, está construindo um centro com 26 mil m2.
A Coohtur já está pleiteando uma ampliação para o CCN, mas quando este projeto será viabilizado ainda não se sabe. O fato é que, entre reformas e ampliações, muito já foi feito. A primeira intervenção foi realizada ainda em 2009. Naquele ano, foi atualizado o equipamento que já estava defasado porque não passara por nenhuma obra nos 15 anos de existência.
Em seguida, foi pleiteada junto a todos os candidatos ao governo da época a ampliação do espaço, o que resultou no pavilhão Morton Mariz, erguido na gestão de Wilma de Faria. O novo espaço possui 4 mil m2.
E com recursos próprios a Coohtur fez mudanças na iluminação interna e externa, mudou completamente a drenagem do prédio, cuidou dos jardins e, atualmente, está construindo uma calçada coberta. “E pela primeira vez, nós temos um plano geral de manutenção preventiva”, ressaltou Nailson.
EVOLUÇÃO
Hoje, os eventos nacionais ou internacionais realizados em Natal são captados de forma integrada pelo Natal Convention Bureau. A escolha do lugar exato onde serão realizados – Hotel Pirâmide, Imirá, Praiamar, Serhs ou Centro de Convenções, entre outros – é feita apenas pelo cliente. Essa mudança otimizou o trânsito de eventos para a Capital Potiguar.
Nailson conta que antes dessa integração, havia alguns conflitos. Muitas vezes, os empreendimentos disputavam pelos mesmos eventos. “Então, baseados na universalidade do próprio Convention Bureau, vimos que o ideal seria que ele funcionasse mais forte e nós ficaríamos por trás apenas da busca pelas melhores oportunidades”, ressaltou. “Hoje, ele vende não o Centro de Convenções, mas a imagem do destino Natal. Praias maravilhosas, uma geografia incomum e 30 mil leitos classificados”, acrescentou.
A mudança foi incentivada pelo Centro de Convenções, que hoje é um dos grandes beneficiados. “Com isso, aumentou não só a capacidade de atendimento, como a de captação de eventos, que antes era feita pelo próprio centro de convenções”, contou.
O Natal Convention Bureau representa uma entidade mundial presente na maioria dos países, direcionada a convenções. Ele está integrado a uma política uniforme que é ir atrás do evento corporativo, industrial ou tecnológico como negócio para o seu Estado ou sua cidade.
HOTÉIS CONTRIBUEM PARA O SUCESSO
Vários fatores fizeram com o que o Centro de Convenções se transformasse no que ele é hoje. E incluída neste processo expansão, há uma grande certeza: se não fossem os hotéis da Via Costeira dificilmente o equipamento do Governo do Estado teria chegado ao nível de excelência que tem hoje, com uma média de ocupação de 290 dias do ano.
Esta afirmação é do próprio diretor executivo do Centro, Nailson Dantas Azevedo. “Não tenho dúvida. Os hotéis da via costeira absorvem grande fatia dos cinco e quatro estrelas de Natal, que é o nível do público do turismo de evento. Além disso, as pessoas querem se hospedar próximo do evento que vão participar”.
No entanto, sobre a instalação de novos hotéis, o diretor executivo disse que preferia não opinar. “Isto é uma questão que cabe à ABIH (Associação Brasileira das Indústrias de Hotéis)”, ressaltou, lembrando que a cidade já possui 30 mil leitos.
O NOVO JORNAL tem feito uma sequência de matérias sobre os investimentos perdidos na Via Costeira, devido a problemas com órgãos ambientais. A série foi motivada pelo embargo de dois hotéis que totalizariam 1,5 mil leitos, 860 empregos diretos e R$ 105 milhões. Só um dos empreendimentos, estava projetado para abrigar 365 apartamentos, gerar 500 empregos durante a operação e receber investimentos de R$ 50 milhões. O hotel deveria icar pronto até a Copa do Mundo de 2014.
Se 2011 foi um ano singular para o setor de turismo, 2012 promete muito também. De maio a dezembro deste ano há 42 eventos já confirmados e muitos outros ainda devem ser captados ao longo do ano.Apesar das boas expectativas, não se descarta, porém, uma desaceleração em relação ao ano passado. O fato é que 2012 é um ano eleitoral. “E você sabe como é. Em ano de eleição, muitas coisas deixam de acontecer porque as pessoas esperam ver o que vai acontecer para poder investir”, ponderou o diretor executivo.
De olho no meio ambiente
Natal é considerada a cidade com o ar mais puro das Américas. E no que depender do Centro de Convenções a capital manterá este mérito. Recentemente foi fechada uma parceria com a Ecosin, entidade vinculada ao curso de Biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que trabalha questão de compensação de carbono.
Hoje, todo evento que queira trabalhar nesta linha em benefício do meio ambiente, recebe descontos que vão de 5% a 25%. E essa nova possibilidade tem atraído muitos realizadores de congressos. “Já tivemos eventos maravilhosos com esta visão, que usaram mais equipamentos a base de arroz, mais o transporte coletivo, que i zeram o tratamento e deram a destinação adequada do lixo, além da plantação de árvores nativas”, ressaltou.
As orientações para se chegar ao nível exigido para alcançar os descontos são dadas pela Ecosin.
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