História da aviação francesa em Natal será relembrada após 87 anos

26 de fevereiro de 2014

Notícia publicada no portal No Ar:

A história da aviação mundial, em especial dos pilotos pioneiros franceses, voltará a passar sobre Natal em 2014. A Associação pela Memória da Aéropostale no Brasil (Amab) incluiu a cidade no roteiro do “Raide Latécoère”, que acontece nos dias 15 e 16 de maio quando aviadores franceses chegarão a Natal vindos de Buenos Aires, na Argentina.

O evento acontece desde 2007 na Europa e esta será a segunda edição no Brasil com objetivo de promover a história das linhas aéreas. Ao final, a Amab e entidades francesas produzirão um relatório com dados de todas as cidades para embasar o pedido de tombamento mundial do patrimônio histórico e cultura da Aéropostale na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O contato com a capital do Rio Grande do Norte com a aviação francesa teve início em 1927 quando a recém criada Aérpostale [antes chamada Latécoère] iniciou a instalação de um campo de pouso em Parnamirim onde atualmente está a Base Aérea de Natal (Bant).

Pierre Latécoère foi o criador das “Lignes aériennes Latécoère”, empresa que em 1926 passou a se chamar “Compagnie Génerale Aéropostale” (foto: sterlingnumismatic.blogspot.com)

Pierre Latécoère foi o criador das “Lignes aériennes Latécoère”, empresa que em 1926 passou a se chamar “Compagnie Génerale Aéropostale” (foto: sterlingnumismatic.blogspot.com)

A empresa operou até o início da Segunda Guerra Mundial já denominada de Air France, que também tinha instalações na margem do Rio Potengi. Natal foi palco de alguns dos principais feitos dessa história como a primeira travessia aérea comercial de correio aéreo sem escalas entre África e América. Por aqui passaram pilotos conhecidos como Jean Mermoz, Paul Vachet e Marcel Reine.

Para levantar esta história e divulgar a cidade como destino do Raide Latécoère 2014, a presidente da Amab, Mônica Cristina Corrêa esta em visita oficial a Natal e concedeu entrevista ao portalnoar.com onde revelou inicio de conversas com membros da Fundação Rampa e do Aeroclube do Rio Grande do Norte, que ofereceu a pista de pouso, em Ceará Mirim, como apoio aos pilotos franceses.

Qual o objetivo da visita a Natal?

Estamos com a função, a missão de unir as antigas cidades que foram a companhia de correio aéreo francesa da Aéropostale nos anos 20. Unir as cidades para recuperar os vestígios da companhia e propor o tombamento pela Unesco.

Já conhece a importância da cidade para a Aéropostale?

Na verdade eu já conheço a importância de Natal, mas não quer dizer que eu saiba tudo ou todos os detalhes. A cidade tem uma história ligada à aviação. Com certeza foi a escala mais importante da Aéropostale, porque era ponto de chegada [dos pilotos vindos da África] e uma que permitia a descida de hidroaviões. Uma relação muito especial.

Por que o interesse em relembrar a história de uma companhia aérea?

Porque o princípio de tudo estava na Aéropostale como o começo da globalização. Tanto o avião iria aproximar os homens, quanto as mensagens iam se tornar cada vez mais. As cartas que demoravam três meses passaram a 11 dias da França para Buenos Aires. Existia uma importância econômica e a empresa se tornaria a mais longa da época com um percurso de 17 mil quilômetros. A presença francesa teve uma importância também para conter o avanço do nazismo[década de 30], sobretudo no Sul do Brasil.

A presença das empresas de correio aéreo, em cidades como Natal, trouxe o desenvolvimento para a população local?

Você imaginar que o Brasil da década de 20 e 30 ainda era um país arcaico com paisagens selvagens, não existia um progresso das cidades, se comparado com a Europa. O progresso que a aviação trouxe nunca mais parou até hoje. Era o primeiro passo desenvolvendo uma nova economia e trazendo novas perspectivas de vida.

Os locais visitados e os contatos em Natal estão contribuindo com o projeto da Amab?

Muito. Estou muito feliz. Encontrei pessoas dedicadas ao tema, como os membros da Fundação Rampa, que vem fazendo pesquisa sobre a história aeronáutica há muito tempo. Sem esses contatos locais eu não poderia fazer nada, porque é impossível para um pesquisador chegar num local e em pouco tempo ter acesso às informações, sem ter contato com os agentes locais.

Qual o objetivo deste trabalho?

O mais importante, historicamente, é conseguir o tombamento mundial da Aéropostale para a Unesco. Permitir e inserir as cidades brasileiras nesse contexto universal. Isso atrai turismo, contribui para a economia, é cultura e história. Ressalvar o que foi o grande mote daqueles primeiros aviadores.

Existe uma representação dessa associação na Europa?

Existe uma iniciativa da Prefeitura de Touluse, na França, que as cidades participem desse processo de tombamento. Contudo, esse trabalho vinha sendo feito de forma muito individual [se comunicar com as cidades no Brasil] e esse processo se tornou muito difícil sem a presença de interlocutores locais. O Raide da Latécoére 2014 se propõe a isso, fazer viagens em cada cidade. Ir nas cidades e levar a mensagem e a bandeira.

Como você se envolveu nesse trabalho?

Eu já tinha o pós-doutorado no estudo de imagens das trocas culturais entre Brasil e França, na área Letras, e me envolvi com a passagem de Exuperry [Antonie de Saint Exuperry, autor do Pequeno Princípe], por Florianópolis. Com isso, me tornei pesquisadora do tema e da Aéropostale. O raide tomou conhecimento do trabalho e me convidou para fazer parte do projeto.

E como pesquisadora, o que a senhora tem a dizer sobre passagem de Exupéry?

A passagem de Saint-Exupéry pelo Brasil, de um modo em geral, uma série de controvérsias pela ausência de documentos escritos e fotografias. Existem raras coisas sobre o Brasil. A gente precisa saber que Exupéry tinha uma missão na Aeropostal Argentina, que era abrir rotas ao Grande Sul. Ele tinha a missão também de supervisionar as linhas que iam até o Rio de Janeiro, passando por Pelotas, Santos, Florianópolis e o próprio Rio de Janeiro. Então, existe registro de voo que ele fez nessas escalas, mas não existe registro de voo que ele tenha feito tão longe, como a Natal por exemplo. Nem era possível, na época, pegar um avião em Buenos Aires e vir a Natal num folego só.

Então não existe registro?

Não existe. Porém, não quer dizer que ele não tenha feito essa viagem. Eu desconfio que pode ter feito, ao menos uma vez, por curiosidade. O sobrinho dele, que ainda é vivo, conta que um dia conversando com o tio, ouviu que ele tinha sobrevoado o Amazonas. Apesar de não ter provas, será que ele não andou por aqui?

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