Notícia publicada no caderno de Economia do Novo Jornal:
Nem só de ventos vive a produção energética no Rio Grande do Norte. Apesar de viver um período de seca e estiagem intensa desde 2011, com seu principal reservatório operando com 52% da capacidade, o estado entrou na rota da produção hidrelétrica. Até 2015, o RN ganhará uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) privada, construída na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, na zona rural do Baixo-Assú.
Com capacidade para 2,4 m de água e vazão estimada em 19,03 m/segundo, a maior barragem do estado poderá produzir até 4,87 MW de energia elétrica, o que pode suprir as necessidades de uma população de aproximadamente 48 mil pessoas. O potencial pode parecer imperceptível a olho nu, mas, de acordo com o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), os frutos serão sentidos a longo prazo – principalmente nos incentivos para indústria e na redução do custo de consumo de energia elétrica.
“São duas coisas que são muito importantes para atrair empreendimentos em um estado: a água
e a energia. Quanto maior a diversidade na produção de energia, maior o potencial atrativo da região para as indústrias”, afirma o diretor do Dnocs, Emerson Fernandes. Ele toma como exemplo a barragem cearense de Castanhão, maior reservatório de água artificial da América Latina.
“O Castanhão foi a principal razão para instalação do Complexo de Pecém, no Ceará. Com a água garantida pela barragem e a energia que passará a ser gerada na PCH, fica fácil atrair refinarias e siderúrgicas”, emenda.
Tanto a barragem de Castanhão quanto a Armando Ribeiro Gonçalves foram concedidas para exploração hidrelétrica em um processo licitatório iniciado pelo Dnocs em 2009. Na época, o certame chegou a ter o anúncio cancelado pelo departamento devido à ausência de empresas interessa das na concorrência. Somente ao final daquele ano a empresa Rodrigo Pedroso Ltda apresentou o plano de trabalho e recebeu o extrato de concessão.
Segundo o documento, a empresa Rodrigo Pedroso Ltda poderá explorar o potencial de 11 açudes do nordeste durante 35 anos, através da implantação de PCHs. A empresa tem até meados de 2015 para iniciar a geração nas barragens de Castanhão, Figueiredo, Orós, Taquara e Banabuiú (CE), Armando Ribeiro Gonçalves (RN), Boqueirão (PB), Jucazinho e Poço da Cruz (PE), Anagé(BA) e Flores(MA).
A produção total será de 46,95 MW. Avaliado em R$1.354.878,07, o contrato estabelece que o custo pela implantação de máquinas e linhas de transmissão fica a cargo da empresa, enquanto que o Dnocs cará responsável pela manutenção das barragens. Para custear essa manutenção, o departamento exige o pagamento de royalties de 4% do faturamento da comercialização da energia produzida nos reservatórios.
Segundo Emerson Fernandes, a abertura da licitação surgiu por dois motivos: levantamento de fundos para manutenção de açudes e aproveitamento de um potencial que estava sendo desperdiçado. “Uma das viabilidades do projeto é que essa energia já existia no potencial hidráulico das barragens, só que ela era desperdiçada quando a água era solta no rio. A disponibilidade hídrica das barragens (a vazão) pode rodar as máquinas dia e noite que não haverá aumento ou diminuição da água da barragem. O que temos é um reaproveitamento”, explica o engenheiro do Dnocs, Getúlio Peixoto.
Segundo cálculos do departamento, a energia gerada poderá atender a uma população de até 48 mil pessoas – uma cidade do tamanho de Currais Novos, em média. “A produção de energia entra de forma integrada. A diferença é que ela poderá ser barateada e chegar ao consumidor com mais qualidade. As PCHs vão funcionar como o que nós chamamos informalmente de ‘pontas de rede’”, salienta Rodrigo Pedroso, sócio-diretor da Rodrigo Pedroso Ltda.
Segundo Pedroso, em vez de um sistema baseado em grandes usinas gerando e distribuindo energia para regiões distantes (o que causa a perda gradativa da eficiência energética devido às linhas de transmissão), o sistema passa a contar com pequenos pontos de geração.
“Às vezes o consumidor final não contava com a mesma qualidade de energia de quem estava próximo ao ponto de produção. Além disso, ele paga mais caro por esse sistema de transmissão. Com a PCH há uma possibilidade de barateamento”, avaliou.
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