Oficinas de robótica despertam vocação para a ciência entre crianças

18 de setembro de 2014

Do riograndedonorte.net:

Quando se fala em robôs, lembramos de personagens de ficção científica do cinema como os dos filmes “Guerra nas Estrelas”, “Robocop”, “A.I – Inteligência Artificial” e “Wall-E”. Apesar de nos parecer algo distante, essas máquinas futurísticas estão bem presentes no imaginário infantil, e mais: estão de forma real no cotidiano de crianças da Escola Municipal Juvenal Lamartine (EMJL), por meio do Projeto Engenheiros do Futuro, do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Despertar vocações para a área tecnológica e desenvolver a criatividade dos alunos são as motivações do Engenheiros do Futuro, que faz parte do programa de extensão e pesquisa Escolas Acadêmicas do ICe. Desde 2012, a ação é desenvolvida na EMJL, localizada no bairro do Alecrim, em Natal, onde quase 90 discentes participam de oficinas realizadas semanalmente no laboratório de robótica da escola, fruto de convênio da UFRN com a Secretaria Municipal de Educação de Natal.

A iniciativa utiliza a robótica para apoiar o ensino e engloba conhecimentos da área tecnológica, como os das engenharias mecatrônica, elétrica e da computação. O trabalho também incentiva entre os jovens o senso de responsabilidade, o trabalho em equipe e o raciocínio lógico. De acordo com o coordenador adjunto do projeto, Eduardo Marques, os maiores benefícios para os estudantes, além do reforço nas disciplinas escolares, são a inclusão digital e a motivação vocacional para a ciência. “Nos três primeiros meses, são realizadas atividades teóricas, para formar uma base de conhecimento, e aos poucos os alunos são inseridos na prática da robótica”, descreve.

No 7o ano da EMJL, Genesis Yuri Soares da Silva, 13 anos, conta que sua participação no projeto, há cerca de dois anos, foi o que mais incentivou sua vontade de ser engenheiro. “Achei interessante, comecei a participar e peguei a ‘manha’. Gosto muito das oficinas porque ajudaram até a melhorar minhas notas”.

Oficinas de robótica conciliam reforço nas disciplinas escolares e motivação vocacional para a ciência. (Foto: Anastácia Vaz)

Oficinas de robótica conciliam reforço nas disciplinas escolares e motivação vocacional para a ciência. (Foto: Anastácia Vaz)

Recentemente, o projeto conquistou para a Juvenal Lamartine o prêmio de melhor escola pública na etapa estadual da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR) – na modalidade prática do nível fundamental –, apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e realizada no final de agosto na UFRN.

Na ocasião, quatro alunos compuseram a equipe Atom – mesmo nome do robô da escola – e foram desafiados a realizar diversas tarefas com o dispositivo. “Além da programação da máquina para os desafios da OBR, os estudantes montaram o robô Atom em três dias, pegando componentes e soldando na placa da máquina”, explica Eduardo, que não considera a Olimpíada uma competição, mas uma oportunidade de aprendizado que proporciona momentos de divulgação da ciência e de descoberta e incentivo de novos talentos.

Escolas Acadêmicas

O Programa Escolas Acadêmicas é coordenado pelo professor Antônio Pereira Júnior, do Instituto do Cérebro, e tem o objetivo de utilizar o próprio espaço escolar para discutir os problemas da educação e propor soluções baseadas em evidências científicas. Nas escolas acadêmicas, pesquisadores e a comunidade se juntam para criarem um ambiente mais adequado para o processo de ensino e aprendizagem.

A ação é desenvolvida na EMJL há cerca de quatro anos de forma piloto. Antônio Pereira relata que o colégio foi escolhido por ser uma das unidades do município com o menor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), indicador nacional que mede a qualidade das instituições de ensino. “É uma forma de mostrar que essa abordagem pode ajudar a reverter o quadro de mau desempenho na Rede Pública”, analisa.

Genesis da Silva, 13, diz que projeto o incentivou a querer ser engenheiro, além de ajudar seu desempenho na escola. (Foto: Anastácia Vaz)

Genesis da Silva, 13, diz que projeto o incentivou a querer ser engenheiro, além de ajudar seu desempenho na escola. (Foto: Anastácia Vaz)

Atualmente, a Escola Juvenal Lamartine conta com cerca de 470 alunos, de quatro a 16 anos, nos ensinos Infantil e Fundamental. Todos os estudantes estão envolvidos no programa, segundo a diretora Jeana Magalhães, que considera o resgate da autoestima dos discentes como a maior contribuição para o colégio. “Ganhamos a valorização do conhecimento, algo distante para nossos jovens, e uma ferramenta para defender nossa juventude, que necessita ter sonhos e projetos de vida”.

A gestora ainda destaca uma melhora no IDEB, que pontua as escolas em uma escala de zero a dez. “Em 2009, nosso índice foi de 2,3. Em 2011, chegamos a 3,4. Na última avaliação, de 2013, alcançamos 4,1. A educação não é feita de resultados imediatos, mas percebemos um progresso”, comemora Jeana, ressaltando a importância de proporcionar às crianças ambientes ricos de aprendizado para promover um desenvolvimento intelectual adequado.

O convênio entre a UFRN e a Secretaria de Educação ainda prevê a ampliação do Escolas Acadêmicas para outras instituições do município. Outra meta, segundo o coordenador do programa, é capacitar docentes das unidades escolares. “Já realizamos capacitações em Neurociências com os professores, mas seria interessante, também, que a Universidade pudesse oferecer suporte técnico para aperfeiçoar processos administrativos na escola. Um sistema nos moldes do SIGAA [Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas] poderia proporcionar um salto de qualidade enorme”, propõe Antônio.

“A educação é um problema complexo e que exige a atuação de várias especialidades acadêmicas para ser solucionado”, continua o docente, que cita ainda o que considera o maior aprendizado que o programa lhe trouxe: “aprendi a ver o enorme potencial das crianças. Quando a sociedade não oferece um ambiente de aprendizado adequado para elas, todos perdemos”.

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