Notícia publicada na Tribuna do Norte:
Estado com a terceira maior taxa de vitimização do Brasil, o Rio Grande do Norte não confia plenamente nas instituições responsáveis pela proteção do cidadão. Isso é o que indica a Pesquisa Nacional de Vitimização, divulgada ontem pelo Ministério da Justiça. O estudo foi realizado em duas etapas pelo Datafolha e acompanhado pelo Centro de Estudos da Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais.
De acordo com a pesquisa, só 13,9% dos entrevistados disseram que confiam plenamente na Polícia Militar e 14,9% na Polícia Civil. Como consequência da falta de confiança no aparelho policial, o Rio Grande do Norte figura entre os Estados brasileiros com menor taxa de notificação dos 12 tipos de crimes incluídos na pesquisa, entre eles agressões, fraudes, ofensas sexuais, acidente de trânsito, roubo de objetos.
No RN, 85,8% disseram que não prestaram queixa. As maiores notificações estão relacionadas a bens que impactam o dia a dia do cidadão ou as finanças domésticas, como roubo e furto de carros e motos. E mais: das pessoas que prestaram queixa nas delegacias do Rio Grande do Norte, 45% não ficaram satisfeitas com a atuação policial para resolução do problema.
O delegado geral da Polícia Civil, Ricardo Sérgio, não quis comentar a pesquisa alegando que precisavam analisar os dados, fazer comparações entre critérios, indicadores, fontes e período da coleta dos dados. O promotor Edevaldo Barbosa também disse que precisava analisar os dados. Mas diante das informações passadas pelo repórter fez o seguinte comentário: “A pesquisa certamente é reflexo da ineficiência da segurança pública nessas áreas onde ela foi realizada, o que acaba estimulando a impunidade e a reiteração dos delitos.”
O coronel Araújo, comandante geral da Polícia Militar, disse que não tinha como fazer uma análise sem ler a pesquisa, mas lembrou que uma outra pesquisa, publicada há cerca de 10 dias pelo Fórum Brasileiro de Segurança, mostrava o Nordeste como uma das regiões menos violentas do país.
Os números mostram a necessidade da criação de mais serviços para que a população comunique à polícia quando for vítima de um crime, evitando a subnotificação. “Já há um alto conhecimento e uso do 190. O que nos traz surpresa é que as pessoas fazem pouco uso de alguns serviços que estão à disposição. É preciso que eles conheçam mais o 181, o Disque 100, as Ouvidorias e Corregedorias e tenham acesso a ferramentas mais imediatas para notificar os crimes”, afirmou a secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki.
Sobre o baixo índice de confiança na polícia, ela disse que há dificuldade no acesso das pessoas a delegacias em diversas cidades. Segundo ela, as polícias precisam ter independência política. “Primeiro de tudo, sobre o que pode ser feito, é a formação e a capacitação continuada, para atender no dia a dia às demandas e aos interesses da sociedade e depois fazer com que a polícia entenda que ela faz a defesa da sociedade, e não do estado. A independência política das polícias é primordial”, disse Miki
Segundo Cláudio Beato, pesquisador do Crisp/UFMG, foi a primeira iniciativa deste porte feita no Brasil. “Ela quantifica e caracteriza 12 tipos de ocorrências passíveis de registro policial no país, revela a taxa de subnotificação para cada uma delas e mapeia incidências e frequência com que elas acontecem em cada unidade da federação e nas respectivas capitais”, explicou.
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